Nove bebés gémeos do Mali sobrevivem à primeira semana

Halima Cissé tem 25 anos, vive no Mali com o marido e outra filha, e achava que estava grávida de sete gémeos. Tanto ela como os seus médicos ficaram surpreendidos por serem afinal nove. Dois bebés tinham passado despercebidos nas ecografias. Ao fim de uma semana de vida, estão a bater recordes.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Esta foi a primeira imagem dos recém-nascidos captada para o Ministério da Saúde do Mali Ministério da Saúde do Mali

Estou muito feliz”, reagiu o pai em entrevista à BBC África. “A minha mulher e os bebés estão bem”, revelou ainda. As cinco meninas e os quatro meninos sobreviveram e vão ficar em incubadoras sob observação durante os próximos dois a três meses.

Passada uma semana do nascimento ainda não há notícias de complicações, a primeira vez que tal sucede com nove gémeos, nascidos às 30 semanas. Um outro caso, mas de óctuplos, nos EUA, continua a deter o recorde de sobrevivência: 12 anos.
O parto, de cesariana, deu-se dia 4 de maio, na Clínica Ain Borja, em Casablanca, Marrocos, para onde Halima foi transferida mal o Governo do Mali soube da sua gravidez múltipla e após se concluir que não existiam no país os cuidados necessários.

À agência AFP, o professor Youssef Alaoui, diretor clínico da Clínica Ain Borja, considerou o caso “extremamente raro, excecional”. Uma equipa de 10 médicos e de 25 paramédicos assistiu o parto, revelou.

O nascimento foi induzido e antecipado para as 30 semanas, devido à multiplicidade de crianças e ao risco de vida para a mãe.

Fanta Siby, ministra da Saúde do Mali, felicitou as equipas médicas de ambos os países pelo “feliz desfecho”.
Recorde mundial
Se todos os bebés sobreviverem, Halima Cissé e os nove filhos terão quebrado um recorde mundial. Em 2009, Nadya Suleman teve oito bebés nos Estados Unidos e detém para já o recorde do Guiness para o maior número de crianças a sobreviver num único parto. Todos cresceram e têm agora 12 anos.

Há registo de duas outras gravidezes humanas de nove gémeos, na Austrália em 1971 e na Malásia em 1999, mas nos dois casos os bebés sobreviveram apenas alguns dias.

O caso de Halima Cissé fascinou o Mali, mesmo quando se pensava que ela estava grávida de somente sétuplos. Os médicos do país da África Ocidental ficaram preocupados com a saúde da mãe e com a sobrevivência das crianças, o que levou o Governo maliano a intervir.

Após duas semanas de internamento na capital, Bamako, decidiu-se a 30 de março que a melhor alternativa seria transferir Halima para Marrocos, quando esta estava de 25 semanas, revelou a ministra Fanta Siby.

A equipa médica da clínica em Casablanca conseguiu prolongar a gravidez mais cinco semanas, até ao parto.

No Mali, o marido de Halima, Kader Arby, diz que está em contacto constante com ela e também que não está preocupado com o futuro da família.

Deus deu-nos estes filhos. Será Ele quem irá decidir o que lhes vai suceder. Não estou preocupado com isso. Quando o todo-poderoso faz algo, Ele sabe porquê”, explicou à BBC África.

Kader Arby revelou ainda que a família se sente esmagada com todo o apoio que tem recebido.

“Toda a gente me ligou! Toda a gente me ligou! As autoridades malianas telefonaram a felicitar-nos. Agradeço-lhes… Até o Presidente me ligou”, referiu o pai dos nove gémeos.
Tratamento hormonal
A ocorrência destas gravidezes múltiplas entre os seres humanos é muito rara. Habitualmente deve-se a um tratamento de fertilidade, como sucedeu com os óctuplos Suleman.

Não foi divulgado se esse foi o caso de Halima, mas o ginecologista queniano Bill Kalumi, do Hospital Nacional Kenyatta, afirmou à BBC que essa é a explicação mais plausível.

Em África, medicamentos estimulantes da ovulação são prescritos às mulheres que mostram dificuldade em engravidar após um tratamento hormonal contracetivo, o que pode resultar na libertação de vários óvulos num ciclo, em vez de apenas um, explicou Kalumi,As gravidezes múltiplas são um enorme risco para mãe e fetos. Nos países onde o aborto é legalizado, as mulheres a quem isso sucede são aconselhadas a sacrificar um ou mais bebés para aumentar a possibilidade de sobrevivência dos restantes.

Na maioria das gravidezes múltiplas o parto é prematuro, o que aumenta o risco de malformações dos fetos.

Os pulmões dos bebés nascidos antes das 37 semanas ainda não estão completamente formados e o sistema imunitário é extremamente fraco, o que aumenta o risco de infeções, como septicémia.

As crianças nascidas de gravidezes múltiplas são também mais suscetíveis de desenvolver paralisia cerebral, que afeta o movimento.
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