Novembro: Contra Paris, contra a "joie de vivre"

Paris, 13 de novembro, é sexta-feira à noite e na capital francesa celebra-se a vida nos cafés, restaurantes, salas de concerto e no Stade de France, onde se encontram as seleções da França e da Alemanha. Mas a noite será de puro horror. Três grupos de terroristas associados ao Estado Islâmico rasgam a cidade-luz a tiros de metralhadora e explosões dos coletes armadilhados que levam vestidos. Feitas as contas finais, há 129 mortos, cidadãos de várias nacionalidades - entre os mortos há um português e uma luso-descendente -, 352 feridos, 99 dos quais em estado grave, e uma cidade que levará tempo a sarar as feridas.

Só na famosa sala de espetáculos Bataclan morreram 90 pessoas. Um dos quatro terroristas era um francês de origem argelina, por parte do pai, e portuguesa, por parte da mãe. Foi o primeiro atacante a ser identificado: Ismael Omar Mostefai, 29 anos, de nacionalidade francesa e natural de Courcouronnes, perto de Paris. Três dos atacantes do Bataclan fizeram-se explodir, um deles era Mostefai, o irmão do meio de cinco filhos.

Passavam poucos minutos das nove da noite. O amigável França-Alemanha levava um quarto de hora. A rádio Europe 1 noticia um tiroteio no Bairro des Halles e a polícia pede aos parisienses para se manterem em casa.

Os primeiros ataques ocorrem contra dois restaurantes, Le Carrillon e o Petit Cambodge, no 11.º bairro. São mortas a tiro 14 pessoas e os atiradores abandonam os locais em duas viaturas. Noutro restaurante, o italiano La Cosa Nostra, um atirador mata cinco pessoas.

Pouco depois, três bombistas suicidas fazem-se explodir nos arredores do Stade de France depois de falharem a entrada no estádio. Os rebentamentos são tão fortes que alguns jogadores param e olham para o ar. Um deles, o internacional francês Lass Diarra, perde uma prima num dos tiroteios. O Presidente francês, François Hollande, assistia ao jogo e foi retirado à pressa do estádio. A França venceria por 2-0 num jogo de que ninguém recordará o resultado e a selecção alemã acaba por passar a noite no Stade de France.


Sérgio Vicente, Luís Vilar - RTP (14 de novembro)

Dez meses depois do atentado contra a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em que morreram 17 pessoas, estavam em curso os piores ataques terroristas que a França jamais enfrentou na própria casa. Ataques planeados e levados a cabo por pelo menos oito terroristas divididos em três equipas e organizados a partir da Bélgica com cúmplices em França.

Quase simultaneamente, quatro homens armados de kalashnikov invadem a sala do Bataclan. Mil e quinhentas pessoas assistiam há uma hora ao concerto dos Eagles of Death Metal, banda americana da Califórnia. Os terroristas disparam durante 15 minutos e fazem uma centena de reféns. Quando as forças de segurança entram no recinto, passava já da meia-noite, três atiradores fazem-se explodir. A contagem de vítimas é terrível: 87 mortos e centenas de feridos.

Entretanto, outro terrorista suicida faz-se explodir na Praça da República, fazendo uma vítima. E no restaurante La Belle Équipe dois atiradores fazem mais 18 mortos entre os clientes que jantavam no terraço. As autoridades recuperariam as viaturas utilizadas durante os ataques, ambas de matrícula belga e alugadas na Bélgica, na região de Bruxelas, segundo a Procuradoria Federal daquele país, que faz fronteira com a França.



Desde então, e também porque a região de Paris recebeu a Cimeira do Clima, as forças de segurança estão no terreno em todo lado: nos transportes, nos principais eixos viários e no centro de Paris. François Holande disse-o: a França está em guerra. E o primeiro-ministro Manuel Valls repetiu-o.

O ataque foi entretanto reivindicado pelo Estado Islâmico: um ataque “abençoado por Alá” e levado a cabo por “oito irmãos com cintos de explosivos e armas de assalto”. As buscas por respostas estenderam-se a território belga. A polícia lançou uma operação de larga escala em Bruxelas, cidade da qual terão partido três dos atacantes, no Bairro de Molenbeek-Saint-Jean, nos arredores da capital belga. Várias pessoas foram detidas na sequência de operações policiais ao redor de Bruxelas.

Abdelhamid Abaaoud, um belga de 27 anos e de origem marroquina, terá sido o cérebro dos atentados. Conhecido como Abu Omar Susi, nome da região do sudoeste de Marrocos de onde sua família é originária, este belga de classe média nascido em Molenbeek fora já encarregado pelo Estado Islâmico pelo treino de combatentes para levar a cabo atentados em território europeu.

“Abdelhamid envergonhou a nossa família. As nossas vidas foram destruídas”, reagiu o seu pai: "Por que é que, em nome de Deus, ele mataria belgas inocentes? A nossa família deve tudo a este país", explicou Omar Abaaoud, cuja família chegou à Bélgica há 40 anos.


Pedro Sá Guerra - Antena 1 (16 de novembro)

As semanas seguintes lançaram franceses e belgas no encalço de outras possíveis células jihadistas e Hollande toma a decisão de decretar o estado de emergência e restabelecer o controlo de fronteiras. Há entretanto um homem que se torna na cara mais procurada do Continente Europeu: Salah Abdeslam está em fuga desde os atentados. Acredita-se que este francês nascido na Bélgica tinha ordens para se fazer explodir no 18.º distrito de Paris mas não o fez.

O procurador de Paris confirmaria a 19 de novembro que Abdelhamid Abaaoud morreu durante a operação policial que decorreu em Saint-Denis, na capital francesa, onde estaria a preparar novos ataques.

A capital francesa viveu uma noite trágica com vários ataques terroristas em sete diferentes pontos da cidade, onde se contabilizam mais de uma centena de mortos e um número indeterminado de feridos. Hollande decretou o estado de emergência e ordenou o encerramento imediato das fronteiras. Reunimos algumas das imagens que testemunham o clima de pânico e terror vividos.