Novo Papa considera dívida social "injusta, ilegítima e imoral"

Jorge Mario Bergoglio, o novo Papa Francisco I, notabilizou-se quando cardeal jesuíta por um tom especialmente interventivo na política argentina. Muito crítico nos temas sociais, foi, contraditoriamente, acusado de acomodação à ditadura militar, mas tendo negado sempre o teor das acusações.

RTP /
DR

O diário argentino La Nación empreendeu coligir alguns vídeos com intervenções de Bergoglio sobre temas sociais. Num, sobre a dívida social, o cardeal referia-se ao tema de candente actualidade citando a definição da "dívida social como uma acumulação de privações e carências em diversas dimensões que têm que ver com as necessidades do ser pessoal e social - noutros termos, como uma violação do direito de desenvolver uma vida plena (...) activa e digna, num contexto de liberdade, igualdade de oportunidades e progresso social. E o fundamento ético a partir do qual se há-de julgar a dívida social como imoral, injusta e ilegítima, radica no reconhecimento social que se tem do grave dano que a suas consequências geram sobre a vida, o valor da vida, e portanto sobre a dignidade humana".

"Os direitos humanos (...) não se violam apenas pelo terrorismo, a repressão, os assassínios, mas também pela existência de condições de extrema pobreza e de estruturas económicas injustas que originam as grandes desigualdades".

Num outro, Bergoglio referia-se ao problema da escravatura e tráfico de seres humanos: "A escravatura não está abolida. Nesta cidade [Buenos Aires], a escravatura está na ordem do dia, sob diversas formas. Nesta cidade, explora-se trabalhadores em oficinas clandestinas. Se são imigrantes, são privados da possibilidade de sair daí. Nesta cidade, há miúdos a viver na rua, desde há anos, não sei se cada vez mais ou menos, mas há muitos. Esta cidade fracassou em libertar-nos dessa escravatura estrutural que é a de viver na rua".

Bergoglio abundava em exemplos: "Está proibida a 'tracção a sangue', sabiam? Se vocês vão pelo centro da cidade com uma carroça pelo centro, confiscam-vos o burrito ou o cavalo. Mas todas as noites na Praça de Maio vejo carroças carregadas de cartões puxadas por miúdos!".

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