Novos campos de refugiados na Grécia construídos com mesmo modelo de Lesbos

por Lusa
Alkis Konstantinidis - Reuters

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou hoje que os novos campos de refugiados em construção na Grécia seguem o mesmo modelo do acampamento de Moria na ilha de Lesbos, destruído por um incêndio de setembro passado.

Segundo aquela organização, o acampamento de Moria na ilha grega de Lesbos, que será recordado pela "tragédia" causada pelos incêndios em setembro de 2020, serve de inspiração para os novos acampamentos que estão sendo construídos nas ilhas do Mar Egeu com financiamento da União Europeia (UE), apesar da promessa de que esse modelo seria abandonado, noticiou agência de notícias espanhola EFE.

De acordo com o relatório "A Crise nas Fronteiras da Europa", publicado na quinta-feira, a organização Médicos Sem Fronteiras MSF refere que "o modelo dos centros de receção e identificação de refugiados da UE foi projetado não apenas para processar pedidos de asilo, mas também para impedir que os refugiados pensem em tentar encontrar segurança na Europa".

"Surpreendentemente, o campo de Moria em Lesbos, que não era apenas disfuncional, mas mortal, agora é o modelo para um novo centro prisional em Samos", disse à EFE, Yorgos Karayannis, coordenador de MSF na Grécia.

O responsável garantiu que "o projeto deste campo degrada a saúde mental dos que nele ficarem alojados e tornará ainda mais visível o seu sofrimento".

Karayannis destacou que "a UE e o governo grego gastam milhões de euros para normalizar e intensificar políticas que já causaram muitos danos".

Segundo a organização não-governamental, "os líderes europeus prometeram que não havia mais Morias", após o incêndio que destruiu por completo o acampamento na ilha de Lesbos, mas "logo de seguida a Grécia construiu um campo temporário que reproduz muitos dos piores elementos do espaço anterior"

"Além disso, está a finalizar a construção de um centro fechado em Samos, mais restritivo do que o atual", reforçou.

De acordo com o relatório, "a grande visibilidade da presença policial nos centros, declarações oficiais emitidas pelo sistema de som, esgrima e arame farpado, entre outros, contribuem para agravar o sentimento generalizado de medo e agravar as vulnerabilidades".

A organização humanitária acrescentou ainda que, "durante 2019 e 2020, as clínicas de saúde mental nas ilhas gregas de Chios, Lesbos e Samos trataram 1.369 pacientes, muitos dos quais sofriam de graves problemas de saúde mental, como estresse pós-traumático e depressão".

"Durante esse período, equipas da organização MSF trataram 180 pessoas que se auto mutilam ou tentaram suicídio. Duas em cada três eram crianças e o mais novo tinha apenas seis anos", especificou.

O relatório destaca ainda que a crise causada pela pandemia de covid-19 "intensificou o sofrimento dos migrantes submetidos a uma resposta caótica, o aparecimento de surtos de coronavírus e confinamentos severos em condições precárias, com pouco ou nenhum acesso a água, higiene ou serviços essenciais".

A organização insistiu no apelou aos líderes da UE para mudarem completamente a abordagem ao problema da migração e para pararem de intensificar as atuais políticas de contenção e dissuasão, uma vez que estão a causar danos evitáveis à saúde e ao bem-estar de quem pede asilo, aos refugiados e aos migrantes".

Tópicos
pub