Nuclear iraniano e devastação da Amazónia dominam desfecho do G7 em Biarritz

A cimeira do G7, que juntou os dirigentes das sete economias mais avançadas do mundo em Biarritz, França, terminou esta segunda-feira ao início da tarde com sinais de abertura para novas negociações com o Irão para salvar o acordo sobre o programa nuclear. Quanto aos incêndios que afetaram a Amazónia nas últimas semanas, o grupo dos sete aprovou um pacote de ajuda na ordem dos 20 milhões de dólares (quase 18 milhões de euros) para o envio de aviões de combate aos fogos.

Andreia Martins - RTP /
Os países do G7 decidiram desbloquear uma ajuda de emergência na ordem dos 20 milhões de dólares (cerca de 17,9 de milhões de euros) para o envio de aviões Canadair. Reuters

A informação foi avançada esta segunda-feira pela presidência francesa no dia em que se encerram os trabalhos do Grupo dos Sete, onde se reúnem as economias mais desenvolvidas do mundo. Ainda que o Brasil não integre este fórum informal, a Amazónia foi tema incontornável.

Perante os incêndios devastadores que têm visado aquela zona do globo, os países do G7 decidiram desbloquear uma ajuda de emergência na ordem dos 20 milhões de dólares (cerca de 17,9 de milhões de euros) para o envio de aviões Canadair.

"A realidade é que para esta ajuda de emergência, eles necessitam especialmente de financiamento... porque não têm fundos suficientes para permitir que os aviões de combate a incêndios descolem", disse à agênca Reuters uma fonte do Eliseu.


Em paralelo com a ajuda mais imediata, o grupo dos sete decidiu ainda disponibilizar um fundo de longo prazo para o reflorestamento da Amazónia. O projeto será apresentado à Assembleia Geral da ONU no final de setembro.
O G7 reúne os líderes de França, Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Itália, Reino Unido.
Para ser aplicado, esse plano terá também de recolher o aval do Governo brasileiro, em articulação com as organizações não-governamentais que operam no terreno e com as populações locais.

Todos os líderes concordaram com o plano de ajuda à Amazónia, ainda que o Presidente francês, Emmanuel Macron, tenha reconhecido que o homólogo norte-americano, Donald Trump, falhou as sessões de trabalho do G7 dedicadas ao clima devido aos encontros bilaterais que manteve à margem da cimeira.

No entanto, o líder francês garantiu que conversou longamente com Donald Trump sobre a questão e que o Presidente norte-americano apoia esta a iniciativa do G7.

"Ele não estava na reunião, mas a sua equipa estava. Não devemos interpretar a que se deve a ausência do Presidente norte-americano. Os Estados Unidos estão connosco na defesa da biodiversidade e da iniciativa para a Amazónia", esclareceu Macron.

Ainda com os recentes acontecimentos na Amazónia como pano de fundo, o chefe índio Raoni Metuktire chega ao início da tarde desta segunda-feira a Biarritz para ser recebido à margem da reunião do G7.

Entretanto, prossegue a azeda troca de palavras entre Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro. No encerramento da cimeira do G7, o Presidente francês criticou os comentários "extremamente desrespeitosos" do homólogo brasileiro sobre a primeira dama francesa, Brigitte Macron.

Poucas horas depois de ser conhecido o plano do G7 para a Amazónia, Jair Bolsonaro criticou no Twitter por tratar o Brasil como "uma colónia ou uma terra de ninguém".

"Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma "aliança" dos países do G-7 para "salvar" a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", escreveu o líder brasileiro na rede social.
Mas o ministro brasileiro do Ambiente, Ricardo Salles, já veio afirmar que toda a ajuda no combate aos incêndios na Amazónia, incluindo a que o G7 irá disponibilizar, será bem vinda. Durante uma conferência de imprensa realizada esta segunda-feira, o governante brasileiro considerou que os fogos que assolam a floresta são consequência "de uma série de políticas públicas irracionais e demagógicas".
Dossier iraniano: "Grande unidade" do G7

Outro tema a dominar as últimas horas de cimeira de Biarritz foi o do programa nuclear iraniano. Pouco mais de um ano depois de Donald Trump ter rasgado o acordo nuclear, assinado em 2015 por várias potências internacionais, o Presidente norte-americano assinala agora a "grande unidade" dos vários países.

É uma mudança de tom significativa por parte de Donald Trump, que nos últimos meses tem estado em rota de colisão com os restantes países europeus e as potências internacionais (França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China) que continuam a subscrever os termos do entendimento.

Em resposta à postura norte-americana, o próprio Irão tem recuado nos seus compromissos e ultrapassado os valores que constam no Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA, nome formal do acordo).

Ao lado do líder norte-americano no final da cimeira, Angela Merkel acrescentou que as negociações sobre o tema estão a "avançar lentamente" e reiterou que a posição de Berlim é evitar, pela via política, que o Irão alcance as armas nucleares.

"Não sabemos qual vai ser o desfecho, quais são as possibilidades. Mas a nossa vontade é total e isso já é um grande passo. Todos temos grande interesse numa solução pacífica, mas não vai ser fácil", acrescentou a chanceler alemã, em declarações à imprensa.

A cimeira do G7 que decorreu nos últimos dias em Biarritz ficou também marcada pela visita surpresa do ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, à margem do encontro do G7. Donald Trump assegura que Emmanuel Macron pediu a sua "aprovação" para que esta visita acontecesse. "Eu estava ao corrente de tudo o que estava a ser feito e aprovei a visita", acrescentou Donald Trump.

No entanto, o inquilino da Casa Branca considerou que seria "cedo demais" para um encontro bilateral com o chefe da diplomacia iraniana.

"É cedo demais para nos reunirmos. Não quis que reuníssemos", esclareceu Donald Trump em declarações aos jornalistas, acrescentando que pretende que o Irão se mantenha "forte" e que não procura uma mudança de regime naquele país.

"Vamos tornar o Irão um país rico outra vez", afirmou ainda o Presidente norte-americano.

Nos últimos meses de tensão diplomática e de escalada de conflito junto ao Estreito de Ormuz, o Presidente tem procurado iniciar novas conversações com o Irão que incluam várias temáticas que não constam do acordo nuclear, nomeadamente ao nível do programa de mísseis balísticos, mas Teerão rejeitou sempre essas requisições, alegando que Washington não é de confiança e lembrando que foram os Estados Unidos que saíram de um acordo firmado em harmonia com as instituições internacionais.

Ao longo dos últimos meses, os Estados Unidos têm aumentado o nível de pressão sobre o Irão com a imposição de sanções cada vez mais penalizadoras. Em julho, foram impostas sanções contra o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif.

Ainda assim, a porta do diálogo pode ter ficado aberta. Já esta segunda-feira, o presidente iraniano Hassan Rouhani declarou que está disponível para reunir com o Presidente norte-americano.

"Se ao encontrar-me pessoalmente com alguém estiver a resolver os problemas do meu país não vou hesitar, porque os interesses nacionais são o meu principal objetivo", frisou o líder iraniano, sem mencionar Donald Trump.

De acordo com o jornal The Guardian, poderá mesmo haver um encontro bilateral entre Donald Trump e Hassan Rouhani no final de setembro, quando o Presidente iraniano se deslocar a Nova Iorque para a Assembleia Geral das Nações Unidas. A acontecer, seria um encontro inédito entre os Presidentes dos dois países desde a Revolução Islâmica de 1979.

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