O alerta de Biden. Rússia pode invadir a Ucrânia no próximo mês

por Cristina Sambado - RTP
Militares ucranianos estão a posicionar-se junto à fronteira Stanislav Kozliuk

Joe Biden alertou para a "forte possibilidade" de que a Rússia possa invadir a Ucrânia no próximo mês, revelou a Casa Branca. O anúncio surge depois de uma conversa telefónica entre o presidente norte-americano e o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O presidente Biden afirmou que existe uma forte possibilidade de os russos invadirem a Ucrânia em fevereiro”, revelou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Emily Horne.

Durante a conversa, Biden “reafirmou a prontidão dos Estados Unidos, juntamente com os seus aliados e parceiros, para responder de forma decisiva se a Rússia invadir ainda mais a Ucrânia”, acrescenta Emily Horne.
Os Estados Unidos estão a preparar sanções económicas severas no caso de um ataque à Ucrânia, estando dispostos a fortalecer a presença militar na Europa Oriental, se necessário.
Mas uma intervenção militar norte-americana na Ucrânia, que não é membro da NATO, está fora de questão.

Biden e Zelensky repetiram o princípio de que não haveria “decisão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”.
Na quinta-feira, os Estados Unidos solicitaram uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia, naquela que será a primeira vez que o órgão vai discutir oficialmente a crise daquele país do leste europeu.

Biden também assegurou a Volodymyr Zelensky que a embaixada americana no seu país continua “aberta e totalmente operacional”, embora Washington tenha decidido repatriar as famílias dos seus funcionários diplomáticos.

A Ucrânia criticou a decisão dos Estados Unidos de retirarem as famílias e o pessoal não essencial da embaixada em Kiev e considera a medida desproporcionada.

O presidente norte-americano prometeu ainda um apoio adicional de assistência económica a Kiev.

Este foi o terceiro encontro entre os dois líderes desde dezembro.


O presidente norte-americano expressou ainda o seu apoio às discussões realizadas no chamado formato diplomático da “Normandia”, ou seja, entre a Rússia e a Ucrânia, sob mediação da França e da Alemanha.

O próximo ciclo desses encontros está programado para a segunda semana de fevereiro, em Berlim. Forças de combate em alerta máximo

O Departamento de Defesa norte-americano especificou que entre os 8.500 militares colocados em “alerta máximo”, para um possível destacamento na Europa de Leste devido à escalada de tensões na Ucrânia, estão forças de combate e unidades de infantaria.

Estas tropas em alerta incluem a 82.ª Divisão Aerotransportada e o 18.º Corpo Aerotransportado das Forças Armadas dos Estados Unidos, revelou o porta-voz do Pentágono, John Kirby.Estas tropas estão atualmente em solo norte-americano. Mas os Estados Unidos não descartam a possibilidade de usarem militares que já estão posicionados em bases na Europa.

A primeira pertence à infantaria e é especializada em operações de ataque com paraquedistas, sendo que o Departamento de Defesa norte-americano costuma utilizá-la para responder a crises em qualquer lugar do mundo, num espaço de tempo de 18 horas.

Já o segundo é capaz de uma implantação rápida por via aérea, terrestre ou marítima, também em situações de emergência.

Também em “alerta máximo” está a 101.ª Divisão Aerotransportada, unidade de infantaria leve, especializada em operações de ofensivas aéreas e a 4.ª Divisão de infantaria, com forças de combate.

Esta última divisão possui, entre outros, três equipas de combate, uma brigada de aviação de combate e uma divisão de artilharia.

O Pentágono voltou a referir, tal como tinha feito no início da semana, que estas forças ainda não foram ativadas e se chegarem a ser, a maior parte será mobilizada dentro da NATO.
Rússia nega planos de invasão

Moscovo nega quaisquer planos para uma invasão, mas associa uma diminuição da tensão a tratados que garantam que a NATO não se expandirá para países do antigo bloco soviético.

Os Estados Unidos rejeitaram essa exigência e ofereceram o que intitularam de “um caminho diplomático sério para Moscovo”.

O que levou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a afirmar que a resposta dos EUA deixa “pouco terreno para otimismo”, apesar de considerar que “há sempre prestativas de continuar um diálogo que é do interesse da Rússia e dos Estados Unidos”.

As propostas não serão tornadas públicas, mas o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, revelou que o documento “deixa claro os seus princípios fundamentais” incluindo a soberania da Ucrânia e o seu direito de escolher fazer parte de alianças de segurança como a NATO.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, sublinhou que a resposta formal “não aborda a principal preocupação de Moscovo” com a expansão da NATO.

O acumular de tropas russas nas fronteiras da Ucrânia, nas últimas semanas, aumentou os temores de uma invasão.

Segundo a BBC, alguns especialistas militares sugerem que a Rússia pode estar a aguardar que o solo na Ucrânia congele para transportar equipamentos pesados.

Se a Rússia invadir a Ucrânia não será a primeira vez. Em 2014, Moscovo anexou a península da Crimeia, no sul da Ucrânia. E está, desde a mesma altura, a apoiar os rebeldes que ocuparam grandes áreas na região leste de Donbass, onde já morreram cerca de 14 mil pessoas nos combates. Preocupações com o futuro gasoduto
Os Estados Unidos ameaçaram interromper a abertura do gasoduto Nord Stream 2 que vai enviar gás russo para a Europa ocidental se a Rússia invadir a Ucrânia.

O Nord Stream 2 vai funcionar entre a Rússia e a Alemanha, e na quinta-feira Berlim afirmou que o projeto pode enfrentar sanções se o Kremlin atacar.


“Temos mantido as nossas conversas fortes e claras com os nossos aliados alemães e deixo claro: se a Rússia invadir a Ucrânia, de uma forma ou de outra, o Nord Stream 2 não irá para a frente”, sustentou a número três da diplomacia norte-americana, Victoria Nuland, em conferência de imprensa.O gasoduto Nord Stream 2 percorre 1225 quilómetros levou cinco anos a ser construído e custou 11 mil milhões de dólares. O projeto, executado sob o Mar Báltico, visa duplicar as exportações de gás da Rússia para a Alemanha.

Mediante um compromisso alcançado no verão entre Berlim e Washington - que inicialmente era contra este gasoduto entretanto concluído - o futuro do Nord Stream 2 estará em cima da mesa caso a Rússia ataque a Ucrânia.

No entanto, o Governo alemão não chegou a confirmar claramente que a infraestrutura não entrará em funcionamento num cenário de conflito.

A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, afirmou, quinta-feira, perante a Câmara dos Deputados que a Alemanha está a “trabalhar num forte pacote de sanções” com os aliados ocidentais no caso de uma invasão russa, que abrange vários aspetos “incluindo o Nord Stream 2”.

A diplomata norte-americana qualificou as declarações de Berlim como “muito, muito fortes”.

“Trabalharemos com a Alemanha para garantir que o gasoduto não vai adiante”, acrescentou, lembrando que ainda não possui as certificações necessárias para entrar em operação.

A secretária de Estado Adjunta norte-americana referiu também que a China deve usar a sua “influência” sobre a Rússia para dissuadi-la de atacar a Ucrânia.

"Pedimos a Pequim que use a sua influência sobre Moscovo para empurrá-los para a diplomacia, porque se houver um conflito na Ucrânia, também não é bom para a China", sustentou, apontando “um impacto significativo na economia global" e "no setor da energia".

c/ agências
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