O mundo em casa

por Filipe Vasconcelos Romão, comentador de Política Internacional da RTP
Filipe Vasconcelos Romão, comentador de Política Internacional da RTP DR

A pandemia domina a política internacional. Com a provável excepção da Coreia do Norte, não haverá um país que não tenha a Covid-19 na primeira página dos seus jornais. Com a periodicidade possível e sem sair de casa, propomo-nos passar uma vista de olhos pelo que se vai passando por outras paragens.

Estados Unidos
Com quase 200.000 norte-americanos contaminados com Covid-19, Donald Trump assume agora que a quarentena é para implementar e que poderá durar até Maio. A epidemia expande-se nos Estados Unidos de forma descontrolada e o presidente, devidamente municiado com o maior programa económico da história do país, quer agora projectar a imagem de “homem do leme”.

Enquanto Trump passou a dominar ainda mais a cena mediática, Joe Biden viu a sua exposição diminuir. O novo coronavírus chegou ao país no momento em que o antigo vice-presidente tinha acabado de se impor a Bernie Sanders nas primárias de vários estados e parecia arrancar com alguma força para o confronto presidencial.

Sem qualquer cargo executivo, Biden não tem grande margem para apresentar trabalho num momento em que os governos locais, estaduais e federal serão determinantes para implementar as medidas de mitigação da Covid-19.
Europa
A Europa volta a estar nas mãos de Angela Merkel. Perante o acentuar da fractura entre o Sul e o Norte, Merkel terá deixado a porta entreaberta para uma solução que vá além dos mecanismos de estabilidade financeira no apoio aos Estados mais afectados pela pandemia.

O governo holandês poderá não ter uma noção clara da dimensão que o problema atingiu em Itália – apesar de a Holanda ser um dos países mais castigados pela Covid-19 em termos de mortes por milhão de habitantes – e do papel que Itália tem na Europa, mas a chanceler alemã sabe-o bem. Por muito que nos custe, a Itália não é a Grécia nem Portugal.
França
A UE é cada vez mais um projecto exclusivamente económico e monetário, cuja dimensão política fica mais debilitada depois de cada crise. Emanuel Macron tentou, nos últimos dois anos, trazer França de volta à liderança da União Europeia (UE). A sua ideia passava por aproveitar o Brexit para reconstruir o eixo franco-alemão, o que o terá levado a apresentar iniciativas em torno da segurança e defesa e a defender um orçamento europeu mais robusto.

Porém, depois de um ano de grande contestação interna, mais uma vez, uma crise veio expor as dificuldades de França no quadro europeu. Macron corre mesmo o risco de ser o terceiro presidente consecutivo a não conseguir a reeleição, num quadro político complexo em que a extrema-direita está à espreita.
Israel
Em Israel, Benny Gantz, líder da oposição, com o pretexto da formação de um governo de unidade nacional, estendeu a mão a Benjamin Netanyahu. Pelo meio, provocou a implosão da coligação que liderou nas três eleições legislativas antecipadas e afastou definitivamente os potenciais aliados dos partidos de esquerda e da lista árabe.

Gantz parece estar a tentar posicionar-se para estar no lugar de vice-primeiro-ministro no momento em que o tribunal, eventualmente, condene Netanyahu pelos crimes de corrupção de que é acusado.

Sugestão

A RTP tem online muitas horas de informação e de entretenimento disponíveis (gratuitamente) para fazer frente as estes dias em que estamos por casa. A propósito das consequência que uma pandemia pode ter, vale a pena ver o capítulo dedicado à gripe pneumónica (1918-1919) de “História a História” de Fernando Rosas.

Nota: o autor escreve respeitando a ortografia pré-acordo ortográfico.
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