"O nosso rebanho é maior que o de Papa" - Instituto angolano contra a Sida
Luanda, 17 Mar (Lusa) - A directora do Instituto Nacional de Luta contra o Sida (INLS) de Angola, Dulcelina Serrano, afirmou hoje, em declarações à agência Lusa, que o "rebanho" da instituição que dirige "é maior que o do Papa".
Confrontada com as declarações feitas hoje pelo Papa Bento XVI de que "não se pode resolver (o problema da sida) com a distribuição de preservativos", cuja utilização até "agrava o problema", Dulcelina Serrano disse à Lusa que a posição da Igreja em relação à distribuição de preservativos em Angola "não foge à abordagem ao nível mundial" sobre o assunto.
O preservativo, declarou, não é a "solução" ideal para combater a sida, mas é o "caminho encontrado".
O Papa Bento VXI disse hoje em conferência de imprensa a bordo do avião que o transportou para os Camarões, onde iniciou hoje uma visita de três antes de chegar a Luanda, na sexta-feira, que a solução para a sida passa por um "despertar espiritual e humano" e pela "amizade pelos que sofrem".
"O nosso rebanho é maior que o do Papa. Estende-se para lá do rebanho do Papa, dos que não aderem aos ensinamentos da Igreja e a esses também temos que oferecer alternativas e uma delas passa pelo conselho para a utilização do preservativo", salientou Dulcelina Serrano.
A directora do INLS admitiu que existe a consciência que "o preservativo por si só não é a solução, mas sim uma alternativa", acrescentando que "nenhum país tem definido o preservativo como solução".
Segundo Dulcelina Serrano, "o amor ao próximo, a adopção de comportamentos como a fidelidade e a abstinência também jogam um papel importante na redução de novas infecções", lembrando que, em África, "a poligamia é um facto" e, por isso, "as alternativas também podem ser a solução".
Em Angola, foram registados, entre Janeiro e Outubro de 2008, um total de 48.049 casos, que representam 23 por cento dos casos estimados que o país tem.
"Estamos a trabalhar com uma estimativa de 200 mil pessoas a viver com a infecção, com base numa prevalência de 2,1 por cento da população", disse.
De acordo com a directora, para a redução de casos no país continuam a ser levadas a cabo as campanhas de sensibilização, onde são promovidas a solidariedade, a fidelidade, a abstinência, o uso de preservativo e o tratamento para levantar a auto-estima e melhorar a expectativa de vida dos doentes.
Na luta contra o sida, estão envolvidos parceiros como o Ministério da Juventude e Desportos, da Família e Promoção da Mulher, das Forças Armadas Angolanas, entre outros.
Para evitar novas infecções, às mulheres grávidas é aconselhado conhecer a sua situação para a protecção dos bebés, evitando que as crianças nasçam infectadas.
Como prevenção secundária é oferecido à mulher grávida o acesso ao tratamento com anti-retrovirais.