"O preço a pagar por enfrentar Trump". Ex-diretor do FBI James Comey acusado de obstrução à justiça e perjúrio

James Comey, ex-diretor do FBI e um dos inimigos de Donald Trump, foi indiciado na quinta-feira por presumíveis obstrução à justiça e falsas declarações ao Congresso, uma decisão imediatamente saudada pelo presidente norte-americano, cuja pressão contra os adversários políticos começa a dar frutos. Sem medo, Comey disse que a acusação é "o preço a pagar por enfrentar Trump".

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Michael M. Santiago - AFP

"Hoje, um Grande Júri Federal (comissão de cidadãos com poderes de investigação) acusou o ex-diretor do FBI, James Comey, de crimes graves relacionados com a divulgação de informações confidenciais", anunciou o Departamento de Justiça dos EUA na quinta-feira, em comunicado.

Comey pode ser condenado a cinco anos de prisão
, segundo aquele departamento. 
Trump saúda "justiça na América"

A acusação de falso testemunho e obstrução à justiça acontece dias depois de Donald Trump ter reivindicado publicamente à procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, que tomasse medidas contra James Comey e outros dirigentes ou ex-dirigentes que lhe colocaram obstáculos, rompendo com a tradição de independência do Departamento de Justiça.

"Não podemos adiar mais, está a destruir a nossa reputação e credibilidade", escreveu Donald Trump no sábado. "Eles acusaram-me duas vezes e indiciaram-me (5 vezes!), POR NADA. A JUSTIÇA DEVE SER FEITA, AGORA!!!", instou o presidente dos EUA, anunciando a nomeação de Lindsey Halligan, sua conselheira na Casa Branca, para exercer as funções de procuradora no Distrito Leste da Virgínia "para fazer as coisas avançarem".

Poucos dias após a pressão do presidente e na sequência de decisão da justiça anunciada na quinta-feira, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, escreveu na rede social X: "Ninguém está acima da lei. A acusação de hoje reflete o compromisso deste Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de posições de poder por enganar o povo americano". 

Donald Trump não tardou em reagir à decisão na sua rede Truth Social, onde comemorou o que descreveu como "JUSTIÇA NA AMÉRICA", afirmando ainda que "um dos piores seres humanos que este país já conheceu é James Comey, o ex-chefe corrupto do FBI". 

 

"Hoje, ele foi indiciado por um Grande Júri por duas acusações criminais por vários atos ilegais e ilícitos. Ele tem sido tão mau para o nosso país, por tanto tempo, e agora está a começar a ser responsabilizado pelos seus crimes contra a nossa nação", concluiu o presidente americano. 

Segundo documentos judiciais, os promotores também solicitaram uma terceira acusação contra Comey, mas os jurados rejeitaram o pedido.
"O medo é a arma dos tiranos"

James Comey, de 64 anos, respondeu imediamente à acusação, clamando inocência e confiança na justiça, através de um vídeo publicado no Instagram. "Não tenho medo. O medo é a arma dos tiranos", afirmou o antigo chefe do FBI. 

"A minha família e eu sabemos há anos que há um preço a pagar por enfrentar Donald Trump, mas não conseguimos imaginar viver de outra forma. Não viveremos de joelhos e vocês também não deveriam", afirmou James Comey.  "Tenho confiança no sistema judicial federal e sou inocente. Por isso, vamos a julgamento.", concluiu o ex-chefe do FBI.
Comey recusou promessa de lealdade a Trump 

Desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca em janeiro, após uma campanha eleitoral em que jurou vingar-se dos seus adversários políticos, que as autoridades americanas cumprem a vontade do presidente abrindo vários processos contra personalidades consideradas inimigas do republicano. 

A relação hostil entre Donald Trump e James Comey remonta ao primeiro mandato do republicano, quando demitiu o então chefe do FBI de forma abrupta em 2017, enquanto este liderava uma investigação sobre interferências russas na campanha presidencial de 2016. 

Num relatório de 2019, o FBI concluiu que não havia provas suficientes de conluio entre o Kremlin e Donald Trump, mas destacou uma série de pressões preocupantes que foram exercidas pelo presidente dos EUA sobre a investigação.

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