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O que se sabe sobre a possível imunidade à Covid-19?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

A questão da imunidade é essencial para perceber como travar a pandemia. Apesar de existirem já alguns resultados de pesquisas neste campo, o desenvolvimento de anticorpos que garanta a imunidade a uma segunda infeção por Covid-19 ainda é uma incógnita.

O estudo sobre a imunidade à Covid-19 é agora uma das prioridades em muitos países, dado que permite uma melhor avaliação do levantamento das restrições impostas. Perceber se as pessoas recuperadas da infeção desenvolveram anticorpos que lhes permita receber um “passaporte” de imunidade, possibilitaria uma reabertura faseada da economia com o regresso ao trabalho deste grupo de pessoas.

No entanto, ainda é muito cedo para perceber se as pessoas infetadas receberam imunidade, dado que ainda se conhece muito pouco sobre as características deste novo coronavírus.

Normalmente, uma vez que o sistema imunológico vença uma infeção, este mantém a memória desse vírus ou bactérias encontradas, mas essa memória imunológica depende de muitos fatores, como o próprio patogénico ou a gravidade da infeção. Em relação aos coronavírus anteriores, os anticorpos produzidos pelo doente durante a infeção conferiam-lhe imunidade para esse vírus em específico. Em relação ao SARS-CoV – o coronavírus que causou a pandemia SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2002 – um estudo demonstrou que uma pessoa ficaria imune a este vírus durante dois anos. Após esse período não conseguiram detetar anticorpos, concluindo que uma reinfeção seria possível ao fim de três anos.

No caso concreto do atual SARS-CoV-2, esta resposta imunológica permanece uma incógnita. Há inclusivamente relatos de doentes curados que voltaram a ter testes positivos. Não se sabe, no entanto, se são casos de reinfeção ou de reativação do mesmo vírus.

No passado sábado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que atualmente “não existem provas de que as pessoas que recuperaram de Covid-19 e tenham anticorpos, estejam protegidas de uma segunda infeção”.

A OMS alerta para uma “falsa sensação de imunidade” para portadores de anticorpos e reiterou ainda o perigo de falsos negativos poderem levar as pessoas a descurar medidas de proteção e falsos positivos que levem a discriminações.
Qual o prazo de validade destes “passaportes” de imunidade?
Também Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, disse que ainda não se consegue “interpretar esta presença de anticorpos”, considerando que ainda existem muitas questões por apurar, nomeadamente o tempo que duraria essa imunidade.

Tal como explica o jornal francês Le Monde, ainda é muito cedo para responder a esta questão. Para conseguir uma explicação, é necessário observar nos anos seguintes à infeção, a evolução da quantidade de anticorpos presentes no grupo de recuperados e possíveis casos de reinfeção.

Existem, no entanto, alguns estudos que demonstram como o sistema imunológico responde ao novo coronavírus.

Um dos primeiros estudos, publicado a 21 de março no Journal of Infection, concluiu que todos os 34 pacientes estudados produziram anticorpos na terceira semana após infeção e permaneceram no corpo até sete semanas após os primeiros sintomas. Para além disso, os resultados deste estudo sugerem que “o perfil de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2 é semelhante ao do SARS-CoV”.

Um estudo mais recente comprovou o aparecimento de anticorpos logo no quarto dia após o aparecimento dos primeiros sintomas. “Os anticorpos contra o SARS-CoV-2 podem ser detetados na fase intermédia e posterior da doença”, avança o estudo.

Um outro estudo publicado a 9 de abril demonstrou que os anticorpos foram detetados entre 13 e 21 dias após o início dos sintomas.

Em todos estes estudos existem divergências quanto ao período em que estes anticorpos são desenvolvidos, no entanto, concordam na correlação entre o nível de anticorpos e a gravidade dos sintomas. Quanto maior for a gravidade de infeção por Covid-19, mais anticorpos são produzidos. Isto significa que as pessoas assintomáticas ou as que apresentam sintomas leves desenvolvem um número muito reduzido de anticorpos contra o vírus e a sua imunidade é mais incerta em comparação com os doentes mais graves.

Todos estes estudos são, porém, ainda muito limitados e são necessárias mais análises para estudar a estabilidade destes anticorpos.
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