A questão da imunidade é essencial para perceber como travar a pandemia. Apesar de existirem já alguns resultados de pesquisas neste campo, o desenvolvimento de anticorpos que garanta a imunidade a uma segunda infeção por Covid-19 ainda é uma incógnita.
No entanto, ainda é muito cedo para perceber se as pessoas infetadas receberam imunidade, dado que ainda se conhece muito pouco sobre as características deste novo coronavírus.
Normalmente, uma vez que o sistema imunológico vença uma infeção, este mantém a memória desse vírus ou bactérias encontradas, mas essa memória imunológica depende de muitos fatores, como o próprio patogénico ou a gravidade da infeção. Em relação aos coronavírus anteriores, os anticorpos produzidos pelo doente durante a infeção conferiam-lhe imunidade para esse vírus em específico. Em relação ao SARS-CoV – o coronavírus que causou a pandemia SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2002 – um estudo demonstrou que uma pessoa ficaria imune a este vírus durante dois anos. Após esse período não conseguiram detetar anticorpos, concluindo que uma reinfeção seria possível ao fim de três anos.
No caso concreto do atual SARS-CoV-2, esta resposta imunológica permanece uma incógnita. Há inclusivamente relatos de doentes curados que voltaram a ter testes positivos. Não se sabe, no entanto, se são casos de reinfeção ou de reativação do mesmo vírus.
A OMS alerta para uma “falsa sensação de imunidade” para portadores de anticorpos e reiterou ainda o perigo de falsos negativos poderem levar as pessoas a descurar medidas de proteção e falsos positivos que levem a discriminações.
Qual o prazo de validade destes “passaportes” de imunidade?
Também Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, disse que ainda não se consegue “interpretar esta presença de anticorpos”, considerando que ainda existem muitas questões por apurar, nomeadamente o tempo que duraria essa imunidade.
Tal como explica o jornal francês Le Monde, ainda é muito cedo para responder a esta questão. Para conseguir uma explicação, é necessário observar nos anos seguintes à infeção, a evolução da quantidade de anticorpos presentes no grupo de recuperados e possíveis casos de reinfeção.
Existem, no entanto, alguns estudos que demonstram como o sistema imunológico responde ao novo coronavírus.
Um dos primeiros estudos, publicado a 21 de março no Journal of Infection, concluiu que todos os 34 pacientes estudados produziram anticorpos na terceira semana após infeção e permaneceram no corpo até sete semanas após os primeiros sintomas. Para além disso, os resultados deste estudo sugerem que “o perfil de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2 é semelhante ao do SARS-CoV”.
Um estudo mais recente comprovou o aparecimento de anticorpos logo no quarto dia após o aparecimento dos primeiros sintomas. “Os anticorpos contra o SARS-CoV-2 podem ser detetados na fase intermédia e posterior da doença”, avança o estudo.
Um outro estudo publicado a 9 de abril demonstrou que os anticorpos foram detetados entre 13 e 21 dias após o início dos sintomas.
Em todos estes estudos existem divergências quanto ao período em que estes anticorpos são desenvolvidos, no entanto, concordam na correlação entre o nível de anticorpos e a gravidade dos sintomas. Quanto maior for a gravidade de infeção por Covid-19, mais anticorpos são produzidos. Isto significa que as pessoas assintomáticas ou as que apresentam sintomas leves desenvolvem um número muito reduzido de anticorpos contra o vírus e a sua imunidade é mais incerta em comparação com os doentes mais graves.
Todos estes estudos são, porém, ainda muito limitados e são necessárias mais análises para estudar a estabilidade destes anticorpos.