Ocidente quer mais explicações sobre morte de Khashoggi

por Andreia Martins - RTP
Erdem Sahin - EPA

Dezassete dias depois do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita de Istambul, são muitas as questões que continuam por responder. A Arábia Saudita reconheceu no sábado que o jornalista foi morto durante na representação diplomática naquela cidade turca, mas as explicações são consideradas insuficientes por Estados Unidos e União Europeia. Donald Trump quer mais respostas de Riade, mas considera “possível” que tudo se tenha passado sem o conhecimento das figuras máximas da monarquia saudita.

Um coro de vozes exige à Arábia Saudita mais esclarecimentos sobre o caso de Jamal Khashoggi. Depois de se ter dado como esclarecido na madrugada de sábado, o Presidente norte-americano considerou horas depois que as explicações dadas até ao momento por Riade não são, afinal, suficientes.  

“Não estou satisfeito até ser encontrada uma resposta”, afirmou Donald Trump em declarações aos jornalistas. O Presidente norte-americano advertiu no entanto que a suspensão de venda de armas à Arábia Saudita na sequência deste caso seria “mais prejudicial” para Washington do que para Riade.

O Presidente norte-americano tem sido cuidadoso nas reações ao caso Khashoggi ao longo das duas últimas semanas. Não obstante o descontentamento agora apresentado perante as explicações oferecidas pelos sauditas, Trump considera “possível” que a morte de Khashoggi tenha ocorrido sem o conhecimento do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.  

Segundo a versão saudita dos acontecimentos, ontem divulgada pela agência estatal de notícias SPA, o jornalista Jamal Khashoggi foi morto no consulado de Istambul durante uma luta. Na sequência do caso, a Arábia Saudita diz ter detido 18 pessoas como suspeitos, que não são identificados pelas autoridades.

As informações reveladas dão ainda conta da demissão de um conselheiro próximo do príncipe herdeiro, bem como outros três líderes dos serviços de inteligência do reino.

Até esta declaração, a Arábia Saudita tinha negado todas as declarações das autoridades turcas, afirmando de forma repetida que não sabia do paradeiro de Khashoggi e que o jornalista tinha saído com vida do consulado.

Agora, esta nova versão saudita aproxima-se mais do que é dito por Ancara. As autoridades turcas acreditam que o jornalista foi assassinado no consulado saudita de Istambul e que o corpo foi desmembrado de seguida. Desde sexta-feira que as forças de segurança procuram vestígios do alegado crime numa floresta próxima da cidade.  

Na última semana, as autoridades turcas conduziram também buscas ao consulado onde tudo terá acontecido e à casa do cônsul saudita em Istambul, depois de este ter abandonado o país rumo à capital do reino sem qualquer explicação de Riade.  

Certo é que Jamal Khashoggi, um jornalista de 60 anos residente nos Estados Unidos desde 2017, apontado como uma das principais vozes críticas ao regime saudita, entrou no consulado saudita em Istambul a 2 de outubro para obter um documento, e desde então nunca mais foi visto. 
“Investigação aprofundada”

Perante as novas informações divulgadas pelos sauditas, a União Europeia exige mais explicações. Em comunicado, a chefe da diplomacia europeia exige uma “investigação aprofundada” a uma morte “extremamente perturbadora”.

“A União Europeia insiste na necessidade de uma investigação aprofundada, credível e transparente, que esclareça as circunstâncias da morte e force os responsáveis a assumir total responsabilidade", afirmou Federica Mogherini.  

Em harmonia com Bruxelas, também o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, exige o “apuramento de todas as responsabilidades” através de uma investigação.  

O mesmo tem sido repetido por outras potências europeias, desde logo a Alemanha, que considera “insuficientes” as explicações da Arábia Saudita. Em comunicado, Angela Merkel condena a morte de Khashoggi “com a máxima firmeza” e espera que haja “transparência” por parte dos sauditas.   

Também a França exigiu uma investigação “exaustiva e diligente”, através de um comunicado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian.  

“Muitas perguntas permanecem sem resposta. Estas exigem uma investigação exaustiva e diligente para definir todas as responsabilidades e permitir que os responsáveis da morte de Jamal Khashoggi respondam pelos seus atos”, pode ler-se no documento citado pela agência France Presse

Em comunicado emitido este domingo, o jornal norte-americano The Washigton Post recusa-se a aceitar a explicação conferida pela Arábia Saudita e acusa o reino de tentar cobrir e mentir sobre o que aconteceu.

Fred Ryan, chefe-executivo da publicação onde Jamal Khashoggi escrevia artigos de opinião, considera que o Governo “está a dizer mentiras atrás de mentiras nas quase três semanas desde o desaparecimento”

“Sem concederem nenhuma prova (…) agora esperam que o mundo acredite que Jamal morreu numa luta depois de uma discussão. Isto não é uma explicação, é um encobrimento”, acrescenta.

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