Ofensiva militar em Cabo Delgado deve ser acompanhada de assistência humanitária
O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não governamental moçambicana, defendeu hoje que os avanços militares contra os grupos armados na província de Cabo Delgado, norte do país, devem decorrer em simultâneo com a assistência humanitária.
"As ofensivas militares são importantes para a criação de condições para o retorno seguro das comunidades deslocadas e para a retoma de projetos de gás natural do Rovuma, mas é necessário que sejam complementadas por iniciativas de assistência humanitária", refere uma análise do CDD sobre os últimos desenvolvimentos no combate aos insurgentes em Cabo Delgado.
A organização sustenta que o Governo e os parceiros de cooperação internacional devem promover incentivos que desencorajem membros das comunidades de se juntarem ao "extremismo violento", referindo-se aos grupos armados que atuam no norte de Moçambique.
"O Governo tem dado pouca atenção às questões de assistência humanitária, deixando os cerca de 800 mil deslocados dependentes do apoio muito limitado das agências humanitárias internacionais e das redes locais de solidariedade", enfatiza o CDD.
A Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), criada em 2020, para minimizar o sofrimento da população de Cabo Delgado, e o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), têm sido apáticos na sua ação em prol dos deslocados, considera o documento.
O CDD acusa o Governo de impedir pessoas obrigadas a deixar as suas casas devido à violência armada em Cabo Delgado de chegarem a zonas mais seguras, como forma de controlar os movimentos dos membros dos grupos armados face à ofensiva das forças governamentais.
"Há ainda informações que indicam que, no âmbito da ofensiva militar em curso, o Governo teria interditado a circulação de embarcações transportando civis entre Pemba e Palma como forma de reforçar o controlo dos movimentos dos extremistas violentos", refere o CDD.
A organização alerta que a redução do número de deslocados que chegam a Pemba, capital da província de Cabo Delgado, não significa que a situação humanitária em Cabo Delgado tenha registado melhorias.
A luta contra os insurgentes ganhou um novo impulso, quando no dia 08 forças conjuntas de Moçambique e do Ruanda reconquistaram a estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia, que estava nas mãos dos rebeldes desde 23 de março.
Além das tropas ruandesas, a luta contra os rebeldes em Cabo Delgado conta igualmente com um contingente militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), mas que ainda não iniciou ações de combate.
A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco de ataques por grupos armados desde 2017, descritos por vários governos e entidades internacionais como "terroristas".
Na sequência dos ataques em Cabo Delgado, há mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.