OMS avalia nova variante detetada na África do Sul, Bruxelas propõe suspensão de voos

por Andreia Martins - RTP
Focke Strangmann - EPA

A Organização Mundial da Saúde reúne-se esta sexta-feira para avaliar uma nova variante detetada na África do Sul e que se teme ser a pior variante de Covid-19 identificada até hoje. O encontro irá determinar se a variante B.1.1529 terá a designação de “interesse” ou de “preocupação”.

A variante em causa, identificada na terça-feira, chamou à atenção dos peritos por apresentar um número “extremamente elevado” de mutações.

“Ainda não sabemos muito sobre esta variante. O que sabemos é que apresenta um número muito elevado de mutações. E a preocupação é que, quando existem tantas mutações, pode haver impacto na forma como o vírus se comporta”, refere Maria Van Kerkhove, responsável pelo estudo da Covid-19 na Organização Mundial da Saúde.

Nesta reunião, a OMS procura apurar e entender “onde estão essas mutações” e o que é que isso pode significar em termos de transmissibilidade e imunidade.

De acordo com os cientistas sul-africanos, a variante B.1.1.529 tem um número "extremamente elevado" de mutações. Estes peritos já tinham detetado anteriormente a variante Beta, também muito contagiosa. Nesta fase, não há ainda certezas quanto à eficácia das vacinas contra esta nova linhagem do vírus.

“Esta é a variante mais significativa que encontramos até agora e há uma investigação urgente em curso para descobrir mais sobre sua transmissibilidade, gravidade e suscetibilidade à vacina”, adiantou Jenny Harries, da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido.

No total já foram identificados 100 casos desta nova variante na África do Sul, mas também já surgiram casos no Botswana, Israel e Hong Kong.

Para já, os receios associados à nova variante resistente à vacinação e que obrigue a novos confinamentos estão a afetar os mercados, com uma autêntica “maré vermelha” nas bolsas europeias e mundiais.
Voltam as restrições de viagens

Neste contexto, e ainda antes da ponderação da OMS, vários países do mundo já suspenderam - ou preparam-se para suspender - voos de ligação à região.

"A Comissão Europeia irá propor, em estreita coordenação com os Estados-membros, ativar o travão de emergência para parar as viagens aéreas da região da África Austral devido à variante de preocupação B.1.1.529", adiantou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, sem especificar quais são os países abrangidos.


Na Índia, as autoridades de saúde apelam a todas as regiões para a “testagem rigorosa” e rastreamento de contactos dos viajantes que cheguem através da África do Sul, Botswana e Hong Kong.

Em Singapura, estão restritas as chegadas da África do Sul e países vizinhos. De acordo com o Ministério da Saúde, todos os residentes não permanentes ou sem nacionalidade, com histórico recente de viagens para África do Sul, Moçambique, Zimbabué, Namíbia, Eswatini ou Lesoto passam a estar impedidos de entrar no país.

Também o Reino Unido já proibiu temporariamente os voos vindos da África do Sul, Namíbia, Botswana, Zimbábue, Lesoto e Eswatini a partir da meia-noite de sexta-feira. Os viajantes que venham desses destinos terão de ficar em quarentena. Vários voos de ligação com países do sul de África já foram cancelados na Alemanha e Itália.
“Temos de ser razoavelmente paranoicos”
Numa variante, o grande número de mutações não a transforma necessariamente numa variante mais perigosa, por ser mais transmissível. Em agosto, a variante C.1.2 levantou preocupações semelhantes, mas nunca chegou a constar na lista de variantes de interesse ou preocupação.

Esta reunião decidirá também a nomenclatura da nova variante, que deverá chamar-se Nu, a próxima letra disponível no alfabeto grego.

Na quinta-feira, o ministro sul-africano da Saúde, Joe Phaahla, admitiu que a nova variante poderá estar a provocar um recente "aumento exponencial" de casos em Gauteng, uma província próxima de Joanesburgo.

Acredita-se que B.1.1.529 contenha um total de 32 mutações incomuns na proteína spike, a parte do vírus que a maioria das vacinas usa para preparar o sistema imunitário contra a Covid-19. É cerca do dobro das mutações encontradas na variante Delta, altamente transmissível.  

Estas mutações podem afetar a capacidade de disseminação do vírus, mas também podem tornar mais difícil a resistência por parte das células do sistema imunitário.

Em declarações ao jornal The Guardian, Ewan Birney, vice-diretor geral do Laboratório Europeu de Biologia Molecular e membro do Spi-M, que assessora o Governo do Reino Unido em questões de saúde, assume que a nova variante representa um risco acrescido nesta fase.

“O que aprendemos em situações como esta – em algumas não houve problemas, mas noutras houve – é quem enquanto estivermos a investigar, vamos ter de ser razoavelmente paranoicos”, adianta o responsável, apelando aos países para que não repitam erros do passado e ajam rapidamente para conter a variante.
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