ONG apela a investigação exaustiva sobre derrame tóxico na Zâmbia
A Human Rights Watch apelou esta quinta-feira ao Governo da Zâmbia para que realize uma investigação exaustiva sobre o derrame de resíduos tóxicos no norte do país, que poluiu um importante rio do qual dependem milhões de pessoas.
"As autoridades zambianas devem conduzir uma investigação exaustiva com especialistas locais e internacionais para identificar os riscos sanitários relacionados com o ambiente e detetar possíveis intoxicações agudas ou cumulativas por metais pesados entre os habitantes", advertiu a Organização Não-Governamental (ONG) num comunicado.
O derrame ocorreu a 18 de fevereiro, numa mina perto de Kitwe, a segunda maior cidade do país, e da fronteira com a República Democrática do Congo, quando parte de uma barragem que continha resíduos da mina de cobre da subsidiária chinesa Sino-Metals Leach Zambia (SML) ruiu e contaminou um afluente de um dos maiores rios da Zâmbia, o Kafue, segundo organizações de defesa do ambiente.
Segunda a empresa sul-africana Drizit, selecionada para realizar análises após um concurso público da agência ambiental da Zâmbia (ZEMA), as estimativas feitas, no final de agosto, apontam para 1,5 milhões de toneladas de resíduos espalhados pela natureza, uma quantidade muito superior ao derrame de 50 milhões de litros reconhecido pela SML após a rutura de um reservatório que retinha resíduos.
A Drizit relata "níveis perigosos de cianeto, arsénico, cobre, zinco, chumbo, cromo e cádmio", que representam riscos significativos para a saúde a longo prazo, incluíndo danos nos órgãos, malformações congénitas e cancro.
A empresa de serviços de controlo de poluição acusa a empresa chinesa de ter rescindido o contrato "um dia antes da data de entrega do relatório final", na sequência dos primeiros "relatórios que revelavam a gravidade da poluição".
Embora o concurso tenha sido lançado pela agência ambiental da Zâmbia, o contrato foi celebrado com a SML.
Na quarta-feira, o ministro do Ambiente da Zâmbia, Collins Nzovul, rejeitou as conclusões da Drizit que estima que a quantidade de resíduos derramados no ambiente seja 20 vezes superior ao anunciado pelo proprietário da mina de cobre.
Collins Nzovul limitou-se aos números apresentados pelo grupo mineiro, referindo 51,8 milhões de litros de "resíduos ácidos derramados no ambiente".
Pelo menos 14 empresas responderam ao novo concurso lançado pela ZEMA, segundo o ministro, e uma delas deverá ser selecionada até segunda-feira.
A China é o ator dominante na mineração de cobre na Zâmbia, que está entre os 10 maiores países produtores de cobre do mundo.
O investimento chinês é fundamental para o objetivo da Zâmbia de aumentar a sua produção para três milhões de toneladas por ano até 2031.
Os preços do cobre atingiram níveis recordes este ano, sendo a China o maior importador desse metal, essencial para a tecnologia de veículos elétricos e baterias.
DGYP // MLL
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