ONG de Timor-Leste adverte para aumento do tráfico humano no país

A Fundação Mahein Pesquisa e Advocacia do Setor da Segurança advertiu hoje que o tráfico humano está a aumentar em Timor-Leste e recomendou uma ação concertada entre a sociedade civil e as autoridades para combater o fenómeno.

Lusa /

"Timor-Leste enfrenta uma crise crescente: o aumento alarmante do tráfico de seres humanos afeta jovens vulneráveis que procuram segurança económica", refere, num artigo, a organização não-governamental.

Segundo a Fundação Mahein, os jovens timorenses estão a ser atraídos com "promessas de trabalho no sudeste asiático, Europa e Médio Oriente, com um número crescente a cair nas mãos de grupos criminosos".

"Além disso, o tráfico interno também é uma realidade generalizada, mas em grande parte não é reconhecido pelo Estado e pelo público geral", salienta a organização.

A Fundação Mahein refere que as condições socioeconómicas de Timor-Leste "incentivam" o tráfico de pessoas, nomeadamente porque a economia não cresceu "significativamente" e as oportunidades de emprego "continuam escassas".

"Muitas pessoas carecem de educação básica e de conhecimento dos direitos e das leis, o que aumenta a sua vulnerabilidade ao tráfico e à exploração", sublinha.

O artigo alerta para a questão do "tráfico interno", que atinge principalmente jovens mulheres dos meios rurais que vão realizar trabalho doméstico em famílias mais abastadas.

"Esta prática, embora não seja amplamente reconhecida como `tráfico`, reflete uma triste realidade em que mulheres e raparigas de famílias rurais empobrecidas são enviadas para trabalhar em agregados familiares mais abastados por pouco ou nenhum salário, muitas vezes em condições altamente exploradoras e abusivas", denuncia a organização não-governamental.

Segundo a Fundação Mahein, aquelas mulheres e raparigas são "aliciadas" com a promessa de um salário, assistência financeira e educação, mas acabam por trabalhar horas em excesso e enfrentam "abusos psicológicos, físicos e sexuais" e uma compensação financeira "inadequada".

"Ameaçadas com graves consequências se tentarem sair, vivem em estado de semiprisão, tal como as vítimas de outras formas de tráfico de seres humanos", explica a organização.

Para a Fundação Mahein, uma das principais barreiras de combate ao tráfico humano é a falta de aplicação da lei.

"A PNTL [Polícia Nacional de Timor-Leste] carece de recursos humanos, financeiros e técnicos necessários para detetar e prevenir eficazmente as atividades de tráfico. Além disso, o Governo ainda não reconheceu o tráfico de seres humanos como uma questão prioritária", refere no artigo, divulgado para incentivar o debate interno sobre a questão.

Para minimizar o fenómeno, quer interno, quer externo, a organização defende igualmente uma "abordagem integrada e multifacetada", incluindo o reforço das capacidades da Unidade das Pessoas Vulneráveis da polícia timorense.

Ao mesmo tempo, a Fundação Mahein defende que é preciso aumentar os esforços para educar e sensibilizar o público sobre o tráfico de seres humanos.

"Ao abordar os desafios enfrentados pelas autoridades responsáveis pela aplicação da lei, prestando apoio às vítimas e iniciando debates públicos, podemos trabalhar no sentido de erradicar esta grave violação dos direitos humanos e garantir um futuro mais seguro para os seus cidadãos mais vulneráveis", conclui a organização.

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