ONG Halo Trust dá exemplo de Moçambique para pedir financiamento para desminagem
A organização britânica Halo Trust considerou hoje Moçambique um "farol de esperança" para nações afetadas por minas terrestres, ao passar uma década desde que foi declarada livre destes engenhos, apelando ao apoio internacional para a desminagem noutros países.
"Moçambique foi um dos países mais fortemente minados do mundo e é visto como um farol de esperança para outros países que convivem com o legado de minas terrestres e engenhos explosivos não detonados", lê-se num comunicado daquela ONG, consultado hoje pela Lusa.
De acordo com a Halo, cerca de um milhão de pessoas morreram durante a guerra civil em Moçambique, tendo "muitos milhares" sido mortos por minas terrestres e explosivos após o seu fim em 1992.
"A desminagem de Moçambique transformou a nação", afirmou James Cowan, diretor executivo da Halo, citado no documento.
Cowan avançou que o processo libertou terras agrícolas, salvou vidas, tirou comunidades rurais da pobreza e lançou as bases para estradas, caminhos-de-ferro, escolas e clínicas.
"Na semana em que Moçambique completa uma década desde que foi declarado livre de minas terrestres, a Halo Trust apela à comunidade internacional para que apoie outros países afetados por minas a alcançarem o mesmo estatuto", refere ainda.
De acordo com a organização britânica, o 10.º aniversário acontece numa altura em que os cortes nos orçamentos de ajuda externa por parte dos doadores europeus representam um "sério risco" para os esforços de desminagem em países como o Camboja, o Sri Lanka e o Zimbabué.
Coincide também, segundo a Halo, com uma alteração nas normas globais sobre a utilização de minas terrestres após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, já que "vários Estados europeus planeiam retirar-se do Tratado de Proibição de Minas Terrestres Antipessoal (Tratado de Otava) este ano".
"O estatuto de Moçambique livre de minas, mantido durante um longo período, é um poderoso lembrete dos significativos benefícios económicos e sociais decorrentes da manutenção da proibição global das minas terrestres", explica-se.
Ramadane João, gestor de Projetos de Armas e Munições da Halo Moçambique, também citado no comunicado, reiterou que o Tratado de Otava "salvou milhões de vidas" e resultou na destruição de mais de 55 milhões de minas antipessoais.
A Halo Trust iniciou as suas operações em 1993 e empregou cerca de 1.600 sapadores moçambicanos, homens e mulheres, ao longo de 22 anos. As suas equipas limparam grandes infraestruturas, incluindo a central hidroelétrica de Cahora Bassa, tendo removido, no total, mais de 171.000 minas terrestres de mais de mil campos minados --- cerca de 80% de todas as minas terrestres destruídas no país, acrescentou a organização.