ONU alerta que região do Sahel conta com cerca de quatro milhões de deslocados
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou hoje que cerca de quatro milhões de pessoas estão deslocadas no Burkina Faso, Mali, Níger e nos países vizinhos, aproximadamente dois terços a mais do que há cinco anos.
"Estes números refletem a insegurança, o acesso limitado a serviços e meios de subsistência, assim como os efeitos das alterações climáticas", explicou à imprensa, em Genebra, Abdouraouf Gnon-Konde, diretor regional do ACNUR para a África Ocidental e Central, ao mesmo tempo que apelava a um "apoio internacional urgente".
Embora cerca de 75% das pessoas deslocadas na região permaneçam no seu país, os movimentos transfronteiriços são cada vez mais frequentes, o que exerce pressão sobre as comunidades anfitriãs e os sistemas nacionais, salienta a agência da ONU.
Segundo o ACNUR, a insegurança na região expõe as populações "à violência, ao recrutamento forçado, às restrições de movimento e à detenção arbitrária", enquanto "as mulheres e as crianças representam 80%" dos que obrigados a deslocar-se na região.
Os jovens deslocados estão particularmente "expostos ao recrutamento forçado, ao tráfico de seres humanos e a um acesso limitado às oportunidades de emprego", o que, segundo a organização, aumenta o risco de se lançarem em viagens perigosas para além da região.
Por toda a região, mais de 900 estabelecimentos de saúde e quase 15.000 escolas foram forçados a fechar, privando milhões de pessoas de cuidados essenciais e de educação.
Da mesma forma, destaca a agência, a insegurança alimentar é cada vez mais citada como causa de deslocamento nos últimos anos.
"Os choques ligados às alterações climáticas intensificam a concorrência pelo acesso a recursos como a terra e a água, o que cria obstáculos adicionais à coexistência pacífica (...) com as comunidades anfitriãs", refere.
A ACNUR afirma desejar apoiar os Estados e as comunidades mas "o acesso humanitário e o financiamento são limitados", enquanto "estes movimentos sublinham a necessidade urgente de expandir a ajuda".
Em 2025, a agência precisa de 409,7 milhões de dólares (354,02 milhões de euros) para cobrir as necessidades humanitárias nos países do Sahel, mas apenas arrecadou 32% dessa quantia.
"Atividades essenciais como o registo, a documentação, a educação, a saúde e a habitação são gravemente afetadas", explicou Gnon-Konde.