ONU condena Israel por uso de "terrível violência mortal" na Faixa de Gaza

por Andreia Martins - RTP
Na segunda-feira, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos já tinha condenado o uso de força pelas forças israelitas Ibraheem Abu Mustafa - Reuters

O gabinete responsável pela defesa dos Direitos Humanos das Nações Unidas condenou esta terça-feira o uso de força por parte das forças de segurança israelitas. Na segunda-feira, a intervenção israelita junto à fronteira com a Faixa de Gaza fez pelo menos 60 mortos e várias centenas de feridos. Foi o dia mais negro desde a guerra de 2014 entre Israel e o Hamas.

O gabinete das Nações Unidas responsável pela defesa dos Direitos Humanos condenou esta terça-feira os últimos acontecimentos ocorridos em Gaza, no mesmo dia em que Israel assinalou os 70 anos da sua independência e em que a atual Administração norte-americana decidiu consumar a deslocalização da Embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém. 

Nas palavras do porta-voz Rupert Colville, a ONU condena o uso de “terrível violência mortal” pelas forças de segurança israelitas e assume-se extremamente preocupado com o que poderá acontecer esta terça-feira.

O responsável apelou ainda à condução de uma investigação independente sobre a atuação de Israel. Segundo a agência France-Presse, os Estados Unidos fizeram saber logo na segunda-feira que vão bloquear qualquer eventual inquirição junto das Nações Unidas.

No Twitter, o alto comissariado para os Direitos Humanos salienta ainda que “as regras para o uso de força nos termos da lei internacional têm sido repetidos muitas vezes, mas são ignorados repetidamente”.

“Parece que qualquer pessoa está sujeita a ser morta ou ferida: mulheres, crianças, imprensa, socorristas, transeuntes, e em quase qualquer ponto a 700 metros da cerca", acrescenta. 


As Nações Unidas assumem ainda “extrema preocupação com o que pode acontecer hoje – um dia de emoções para todos – e nas semanas que se seguem”.

“Exigimos a máxima contenção. Já chega”, pode ler-se na mesma publicação. 

Na segunda-feira, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos já tinha condenado o uso de força pelas forças israelitas.

Zeid Ra'ad Al Hussein exigiu o fim dos disparos de munições reais por parte dos israelitas e assumiu-se “chocado” com a morte de dezenas de pessoas.


“Os responsáveis por estas violações escandalosas dos Direitos Humanos devem prestar contas. A comunidade internacional deve garantir que seja feita justiça para com as vítimas”, acrescentou.
Risco de novos confrontos
A manifestação de segunda-feira foi o culminar da "Marcha do Retorno", uma onda de protestos iniciada no fim de março que reivindica o direito ao regresso dos palestinianos aos territórios ocupados por Israel.

De acordo com os dados da ONU, pelo menos 711 mil árabes palestinianos fugiram ou foram expulsos após a fundação do Estado de Israel, em 1948. Nas últimas seis semanas morreram 49 pessoas, a juntar às vítimas registadas nesta segunda-feira.

Estas não são as primeiras vítimas da onda de protestos nas últimas semanas. No total, desde 30 de março, há registo de pelo menos 109 palestinianos mortos às mãos das forças israelitas no enclave de Gaza.
Hoje, os palestinianos assinalam sete décadas desde o início da Nakba ("Catástrofe" em árabe), ou seja, a expulsão da primeira vaga de palestinianos que tiveram de procurar refúgio fora da sua terra, pelo que são esperadas novas manifestações ao longo do dia.

A carga simbólica da efeméride junta-se à realização dos funerais de pelo menos 60 vítimas mortais na sequência da investida das forças israelitas de segunda-feira. A última morte registada pelas autoridades palestinianas é mesmo de um bebé de apenas oito meses que pereceu após inalar gás lacrimogéneo no local dos protestos.

Na sequência dos recentes eventos, o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelou à realização de uma greve geral esta terça-feira na Cisjordânia em homenagem às vítimas mortais. Escolas, universidades, bancos e lojas vão estar fechadas durante o dia. O líder palestiniano decretou também três dias de luto nacional.

As manifestações ocorridas na segunda-feira marcam o protesto contra as terras ocupadas há 70 anos, mas foram ainda mais inflamadas pela decisão de deslocalizar a Embaixada norte-americana de Israel para Jerusalém. O novo edifício provisório foi inaugurado na segunda-feira com a presença da filha do Presidente, Ivanka Trump, e do genro e conselheiro Jared Kushner, entre outros responsáveis.

A decisão em causa é motivo de regozijo entre os israelitas mas de revolta e ira entre os palestinianos. Afinal, há várias décadas que a cidade de Jerusalém é disputada pelas duas partes, que reclamam a cidade como a sua capital.
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