ONU denuncia aumento de 50% das vítimas civis nos últimos três meses

A intensificação dos ataques russos ao longo da linha da frente na Ucrânia provocou "um grave aumento" do número de vítimas civis no segundo trimestre deste ano, na ordem dos 50% em termos homólogos, denunciou esta quinta-feira a ONU.

Lusa /
Denis Balibouse - Reuters

Dirigindo-se ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, reunido em Genebra (Suíça), a secretária-geral adjunta da ONU para os Direitos Humanos, Ilze Brands Kehris, assinalou que, desde a anterior sessão, em março passado, "as conversações sobre um cessar-fogo [entre Rússia e Ucrânia] estagnaram e os combates intensificaram-se, com um grave aumento do número de vítimas civis".

"Ao longo da linha da frente, as forças armadas russas prosseguiram o seu esforço para adquirir o controlo de mais território. Os ataques com drones de curto alcance mataram e feriram centenas de civis, sobretudo idosos. Em abril, maio e junho, foram mortos ou feridos quase 50% mais civis do que no mesmo período em 2024", disse, precisando que "mais de 90% dessas mortes ocorreram em território controlado pela Ucrânia".

A responsável sueca, que chefia o gabinete dos Direitos Humanos da ONU em Nova Iorque, não forneceu hoje números concretos das vítimas civis, mas o mesmo gabinete das Nações Unidas estimou recentemente que morreram 209 civis em abril, o pior registo mensal do ano, e 183 em maio, o segundo mais elevado.

Reportando-se ao mês de abril, Ilze Brands Kehris indicou que o gabinete de direitos humanos da ONU "documentou que alguns dos mísseis que atingiram cidades estavam equipados com ogivas que explodiram no ar, espalhando fragmentos por grandes áreas".

E especificou: "Só na noite de 16 para 17 de junho, um ataque com a duração de uma hora matou mais civis em Kiev do que qualquer outro ataque em quase um ano".

"Estes ataques estão a incutir terror e ansiedade em cidades de toda a Ucrânia", disse, reiterando o apelo à Federação Russa "para que cesse imediatamente o uso da força contra a Ucrânia, em conformidade com as resoluções da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a Carta das Nações Unidas e outras leis internacionais aplicáveis".

A secretária-geral adjunta para os direitos humanos notou, porém, que "há algumas notícias positivas", relacionadas com "o regresso de centenas de prisioneiros de guerra, dos corpos de soldados falecidos e de alguns civis detidos", facilitado pelas negociações de cessar-fogo que entretanto tiveram lugar na Turquia.

"As famílias que viveram na incerteza e na ansiedade durante muitos meses ou mesmo anos têm finalmente algumas respostas sobre o destino dos seus entes queridos. Os soldados voltaram a reunir-se com as suas famílias. As trocas permitiram a muitos escapar à tortura, aos maus-tratos e a outras condições desumanas de cativeiro", disse.

A este propósito, a representante revelou que o seu gabinete "entrevistou mais de 117 antigos prisioneiros de guerra ucranianos" que "forneceram relatos pormenorizados e consistentes de tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, incluindo violência sexual, no cativeiro russo, frequentemente corroborados pelos seus ferimentos e pelos relatos de outros antigos prisioneiros".

"Estes relatos confirmam que a tortura e os maus-tratos infligidos aos prisioneiros de guerra ucranianos continuam a ser praticados em numerosos centros de detenção, padrões que temos vindo a documentar e a relatar repetidamente", prosseguiu.

"Reitero o apelo às autoridades russas para que garantam que os prisioneiros de guerra sejam tratados de acordo com o direito internacional humanitário e os direitos humanos", concluiu.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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