ONU diz não ter conhecimento de "programas de armas biológicas" na Ucrânia

A Organização das Nações Unidas disse não ter conhecimento de nenhum “programa de armas biológicas” na Ucrânia, rejeitando, assim, as alegações de Moscovo de “atividades biológicas militares dos Estados Unidos no território da Ucrânia”.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Carlo Allegri - Reuters

A Rússia convocou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para esta sexta-feira para reafirmar, sem qualquer prova, as suas acusações de que a Ucrânia administra laboratórios de armas biológicas com o apoio dos EUA.

Durante a reunião desta sexta-feira, a Alta Representante da ONU para Assuntos de Desarmamento, Izumi Nakamitsu, disse não ter conhecimento de nenhum “programa de armas biológicas” na Ucrânia, mas alertou que a ameaça de um acidente nuclear em território ucraniano está a “crescer a cada dia”.

Os membros do Conselho de Segurança da ONU classificaram as alegações russas como "uma mentira" e "totalmente absurdas" e aproveitaram ainda a reunião para condenar veementemente os ataques russos contra civis.

O assunto das armas biológicas veio à tona depois de o chefe das tropas de proteção contra radiação química e biológica do exército russo, Igor Kirillov, ter afirmando na quinta-feira que laboratórios apoiados pelos EUA em Kiev, Kharkiv e Odessa estão a trabalhar em patógenos perigosos, projetados para atingir os russos. Kirillov alegou que os EUA planeavam explorar a “posição geográfica única” da Ucrânia para enviar aves migratórias portadoras de doenças mortais para a Rússia. Armas biológicas são armas que transportam organismos, como vírus e bactérias, que podem provocar a disseminação de doenças que poderiam colocar em risco uma população inteira, e até mesmo dar origem a pandemias.

O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, afirma que a documentação apreendida em laboratórios na Ucrânia está a ser estudada. “Segundo os documentos, o lado americano tinha planos para fazer experiências com patógenos de aves, morcegos e répteis na Ucrânia em 2022, passando depois a estudar a possibilidade de transferir a febre suína africana e o antrax”, afirmou Konashenkov, referindo-se com esta última à doença infecciosa grave que pode provocar lesões cutâneas, respiratórias ou intestinais potencialmente fatais.
Operação de “bandeira falsa”
Por sua vez, Washington e Kiev rejeitam as acusações e alegam que Moscovo está a criar uma operação de “bandeira falsa” para justificar o uso de armas químicas e biológicas na guerra contra a Ucrânia.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, classificou as alegações russas como “absurdas” e alertou que Moscovo pode estar a preparar-se para “usar armas químicas ou biológicas na Ucrânia”.

“A Rússia tem um historial de inventar mentiras descaradas como esta que é a sugestão de que os Estados Unidos têm um programa de armas químicas e biológicas, ou a Ucrânia, e que estão a pôr em prática”, afirmou Psaki. “A Rússia é o país que tem um programa de armas químicas e biológicas. Têm não só a capacidade, como um passado em que usaram armas químicas e biológicas. E neste momento devemos estar atentos a essa possibilidade”, acrescentou a porta-voz da Casa Branca.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também rejeitou as acusações russas de que a Ucrânia possui armas químicas "ou outras armas de destruição maciça", alegações que afirmou serem parte da propaganda russa para justificar a invasão. Zelensky disse que "não foram desenvolvidas armas químicas ou outras armas de destruição maciça na Ucrânia". E "todos sabem disso", sublinhou.
OMS aconselhou a Ucrânia a destruir patógenos em laboratórios
A Ucrânia, tal como muitos outros países, tem laboratórios de saúde pública que investigam como mitigar as ameaças de doenças perigosas que afetam animais e humanos, como a Covid-19. Para isso, utilizam diferentes patógenos nas suas pesquisas, como vírus e bactérias.

Especialistas em biossegurança explicam que o movimento de tropas russas na Ucrânia e os constantes bombardeamentos aumentaram o risco de fuga acidental destes patógenos potencialmente perigosos e originadores de doenças, caso algum desses laboratórios seja danificado.

Desta forma, a Organização Mundial da Saúde aconselhou a Ucrânia a destruir patógenos que constituem uma ameaça elevada nos laboratórios de saúde pública do país para evitar "qualquer possível fuga" que possa dar origem a surtos.


A OMS não fez qualquer referência às armas biológicas, sublinhando apenas que incentiva todas as partes a cooperar na "eliminação segura de quaisquer patógenos que encontrarem e a procurar assistência técnica conforme necessário".

c/agências
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