Oposição moçambicana quer tirar `Chave` de Maputo a Sissoco Embaló

A oposição moçambicana quer a revogação da entrega das Chaves da Cidade de Maputo, em 2024, ao então Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, deposto num golpe de Estado, alegando ser uma figura de "práticas autoritárias".

Lusa /

O partido Anamola, fundado e liderado pelo político Venâncio Mondlane, que em 2023 concorreu à autarquia de Maputo pela Renamo, anunciou hoje que vai submeter nos próximos dias uma solicitação a Assembleia Municipal de Maputo para a revogação da distinção com essa alegação.

Em conferência de imprensa realizada hoje em Maputo, o porta-voz do partido, Dinis Tivane, acrescentou que a entrega da Chave da Cidade a Embaló, durante a sua visita de Estado a Moçambique, ocorreu num clima de muita contestação social, dado o seu percurso político e de instabilidades no seu mandato presidencial.

Afirmou que Embaló é "amplamente conhecido, a nível internacional e nacional, como uma figura associada a práticas autoritárias, a violação de direitos humanos e a comportamentos incompatíveis com valores democráticos".

A autarquia de Maputo atribuiu em 20 de junho de 2024, em cerimónia solene, a Chave da Cidade a Embaló, mas os partidos da oposição contestaram já nessa altura a distinção.

Marcial Macome, eleito da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) na Assembleia Municipal de Maputo e porta-voz da direção nacional do partido, disse à Lusa que aquela formação política vai voltar a levantar o assunto na próxima reunião do órgão autárquico, tentando contrariar a atribuição desse distinção, face à situação de instabilidade política na Guiné-Bissau.

"Mas sabemos que a maioria da Frelimo não permitirá a inclusão desse ponto na agenda de trabalhos", disse Macome.

Um grupo de militares anunciou em 26 de novembro ter tomado o poder na Guiné-Bissau, antecipando-se à divulgação dos resultados das eleições gerais de 23 de novembro, tendo destituído o Presidente e suspendido o processo eleitoral.

Embaló viajou em 29 de novembro para a República do Congo, depois de ter procurado inicialmente refúgio no Senegal, cujo primeiro-ministro, Ousmane Sonko, considerou no dia anterior uma "combinação" o golpe de Estado protagonizado na Guiné-Bissau.

A atribuição da Chave da Cidade de Maputo foi aprovada em junho de 2024 em reunião extraordinária da Assembleia Municipal, conforme proposta do executivo liderado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder), o único que votou a favor.

"Não estamos contra as relações diplomáticas entre Moçambique e a Guiné-Bissau, mas pela forma como Umaro Sissoco Embaló tem dirigido a política no seu país e tem-se comportado diante das instituições", disse também, em junho de 2024, à Lusa, Marcial Macome.

O município justificou a decisão como forma de "reconhecimento ao empenho do estadista Umaro Embaló para o fortalecimento das relações de amizade e cooperação entre o povo moçambicano e o povo guineense e os respetivos Estados".

O então maior partido da oposição moçambicana pediu mesmo a retirada da proposta, que segundo Marcial Macome estava fundamentada com o facto de o chefe de Estado guineense ser "poliglota".

Uma "qualidade que não merece a distinção", afirmou na altura Macome, acrescentando que, tal como os eleitos do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a Renamo acabou por abster-se na votação, apenas por "respeito pelo histórico das relações" entre os dois países.

"O histórico de Sissoco Embaló, ligado à forma como tem lidado com a política dentro do seu país, dissolvendo parlamentos, exonerando Governos, de ser uma figura que não respeita as instituições democráticas, pesou muito para o nosso partido, que é democrático, tomar esta decisão", disse Marcial Macome, na altura.

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