Oposição pede à comunidade internacional para travar desaparecimentos na Venezuela
Edmundo González Urrutia, que de acordo com a oposição ganhou as presidenciais na Venezuela, enviou uma "carta aberta aos governos democratas do mundo", pedindo que travem os desaparecimentos forçados no país latino-americano.
"Dirijo-me a vocês, na minha qualidade de Presidente eleito da Venezuela, para fazer um pedido urgente para que elevemos juntos a nossa voz em defesa das vítimas. Na Venezuela, continuam a ocorrer desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e atos de tortura. Esses fatos constituem um padrão de repressão sistemática, conforme documentado pela Missão de Determinação dos Factos da ONU", explicou Urrutia, na terça-feira.
Na carta, o sucessor de Maria Corina Machado defendeu que cada caso representa não apenas uma tragédia pessoal, mas também uma afronta à dignidade humana e aos princípios universais.
"Para mim, esta não é uma realidade distante nem alheia. Como avô, vivo com dor o encarceramento e o isolamento do meu genro, pai dos meus netos, que permanece injustamente privado da sua liberdade. A sua ausência afeta a nossa família e afeta os mais pequenos, que crescem sem a companhia e o carinho do pai. Esta experiência pessoal obriga-me a reafirmar o meu compromisso de falar em nome de todas as famílias venezuelanas que passam pelo mesmo sofrimento", explicou.
Exilado em Espanha, o antigo candidato presidencial apelou "à consciência das nações democráticas para que assumam uma posição firme e coordenada".
Urrutia exigiu "o fim imediato dos desaparecimentos forçados e das detenções arbitrárias na Venezuela", "o acesso irrestrito de organismos internacionais de direitos humanos aos centros de detenção" no país, e a "proteção e acompanhamento às famílias e às vítimas que tiveram a coragem de denunciar".
"A história mostra que o silêncio e a indiferença alimentam a impunidade. A Venezuela precisa hoje da solidariedade ativa da comunidade internacional para deter esses crimes e abrir caminho para uma transição pacífica à democracia", lê-se no documento.
Por outro lado, Urrutia garantiu estar comprometido com "servir de ponte entre as vítimas e as instâncias internacionais".
"Estou convencido de que juntos podemos construir uma plataforma sólida de apoio aos cidadãos venezuelanos que pagaram com a sua liberdade e, em muitos casos, com a sua vida, o preço da ditadura. Que a voz dos vossos governos não falte neste momento decisivo para o futuro da Venezuela", concluiu.
De acordo com os dados da organização não-governamental Foro Penal (FP) em 09 de setembro, 823 pessoas estavam detidas na Venezuela por motivos políticos, 723 homens e 100 mulheres.
Do total de presos políticos, 653 são civis e 170 militares, correspondendo a 819 adultos e quatro adolescentes. Segundo o FP, 91 presos políticos são estrangeiros.
A organização contabiliza ainda 18.486 detenções por motivos políticos na Venezuela desde 2014.