Oposição timorense exige investigação séria a entrada de máfias asiáticas no país

A oposição política de Timor-Leste pediu hoje uma investigação séria e transparente às máfias asiáticas no país e a condenação de timorenses que alegadamente terão facilitado a sua entrada no território.

Lusa /

"O primeiro-ministro tem de autorizar as autoridades judiciais a realizarem uma investigação séria e transparente sobre a forma como as máfias asiáticas conseguiram entrar em Timor-Leste", afirmou o deputado da bancada da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) Florentino Ximenes "Sinarai", durante a sessão plenária.

"A Fretilin quer saber quem é que permitiu a entrada dessas máfias. Foram alguns governantes do Governo central ou foram algumas autoridades da RAEOA [Região Administrativa Especial de Oecussi-Ambeno] que abriram caminho para a sua entrada no nosso país", questionou o deputado.

Florentino Ximenes "Sinarai" disse que as autoridades têm de identificar e condenar os autores que estão por detrás das máfias, ainda que estes tenham poder financeiro e político consolidado no país.

"A Fretilin levanta esta questão porque, há já dois anos, enfrentamos problemas relacionados com dinheiro que surgiu em Maubisse, com uma transferência de 42 milhões de dólares que entrou no país, bem como investigações sobre milhões de dólares cujo paradeiro a informação oficial continua a esconder do público", sublinhou o deputado.

Florentino Ximenes "Sinarai" lamentou também informações a circular sobre a alegada entrada de aviões privados com dinheiro no país, sem qualquer controlo.

Agio Pereira, ministro de Estado do IX Governo, divulgou recentemente um manifesto anónimo, que denuncia que as máfias já compraram instituições do Estado com o seu dinheiro ilícito.

O manifesto denuncia que as máfias se infiltraram nos organismos do Estado, conseguindo obter licenças fraudulentas para operar com as suas empresas criminosas em Timor-Leste.

A Fretilin pediu também ao Governo que explique publicamente o projeto biométrico recentemente iniciado pelo IX Governo para os cartões eleitorais.

Isto porque, segundo um relatório da ONU, o presidente da Tech Company A -- empresa com intenções de financiar o projeto de autenticação biométrica em Oecusse -- já foi condenado em Singapura por envolvimento numa conspiração para roubar dados pessoais a partir de um sindicato de cibercriminosos da China.

"Esperamos que o projeto biométrico para o cartão eleitoral, conduzido pelo STAE e pelo Ministério da Administração Estatal, não seja capturado pelos interesses mafiosos da Tech Company A", salientou o deputado Florentino Ximenes "Sinarai".

A Fretilin apelou às autoridades judiciais, incluindo à polícia e aos tribunais, para atuarem com seriedade, honestidade e integridade na investigação e combate à dominação das máfias asiáticas em Timor-Leste.

Além disso, a Fretilin apelou também à atenção do povo timorense, sobretudo dos estudantes, académicos, ativistas e organizações não-governamentais, para que estejam vigilantes contra aqueles que, nos últimos tempos, têm usado o poder do Estado apenas para servir os interesses criminosos e negócios ilícitos, em detrimento dos interesses do povo maubere.

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) alertou este mês para a proliferação de redes criminosas no enclave de Oecussi, em Timor-Leste, salientando que as recentes investigações mostram uma contaminação da região.

"A região administrativa especial de Oecussi parece já ter sido alvo de redes criminosas", lê-se num relatório sobre Timor-Leste, no qual se dá conta que existem todos os indícios de atividade criminosa digital nesta zona, incluindo a atuação de pessoas que já foram condenadas por crimes similares noutros países asiáticos.

No relatório, a ONU afirma que "os criminosos estão a explorar os programas de cidadania por investimento para obter vários passaportes, utilizando-os para facilitar as suas operações e fugir às autoridades" e acrescenta que "esta atividade é ainda mais facilitada pela obtenção fraudulenta de passaportes".

Recentemente uma investigação das autoridades timorenses levou à detenção de 10 pessoas por suspeita de envolvimento em atividade de exploração de jogos ilícitos e de burla informática naquele enclave.

No relatório, a ONU acrescenta que empresas alvo de investigações policiais em Oecusse estão diretamente ligadas à rede mafiosa 14K (Fourteen K), liderada por Wan Kuok-Koi, criminoso e chefe da máfia de Macau, cujas empresas já estão na lista negra e sancionadas pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos desde dezembro de 2020.

A rede mafiosa 14K (Fourteen K) é conhecida como um sindicato criminoso cuja operação se estende a Macau, China, Camboja, Laos, Myanmar e Malásia.

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