Orçamento italiano com mais défice deve "chumbar" em Bruxelas

por RTP
Francois Lenoir, Reuters

O comissário europeu do Orçamento considerou que o projecto de Orçamento italiano para 2019, entregue na noite de terça feira, não está em condições de ser aprovado pela Comissão Europeia.

Para o comissário europeu Günther Oettinger, "confirmou-se a suposição de que o projecto de orçamento da Itália para 2019, tal como está, não é compatível com as obrigações existentes na União Europeia", segundo declarações prestadas ao site da revista alemã Der Spiegel. Oettinger afirmou ainda que, na forma em que foi entregue, o projecto terá de ser recusado pela Comissão Europeia.

O projecto chegou às mãos da Comissão Europeia noa noite de ontem, praticamente nos últimos minutos do prazo de entrega. Dentro de duas semanas, a Comissão fará chegar ao Governo italiano uma carta formal, explicando as suas reservas e objecções sobre o projecto. Para já, o comissário para a Economia e Finanças, Pierre Moscovici, estará em Roma ainda nesta semana, para levar a cabo conversações com o Governo transalpino.

O défice previsto no orçamento para 2019 deverá subir para 2,4 por cento do PIB, ou seja, o triplo dos 0,8 por cento que, perante a UE, o anterior Governo italiano se tinha comprometido a manter. O aumento do défice relaciona-se com as promessas eleitorais da extrema direita, que agora se tornam para o seu Governo um fardo pesado. Pior ainda, os 2,4 por cento baseiam-se em projecções que os economistas consideram pecar por excessivo optimismo.

Se, apesar desse optimismo, mesmo assim se cumprissem os 2,4 por cento, o défice italiano ficaria ainda abaixo dos 3 por cento considerados toleráveis; mas a dívida italiana continuaria a aumentar. E essa já hoje ultrapassa largamente todos os limites de tolerância europeia, fixados em 60 por cento do PIB.

Com efeito, a dívida italiana vai agora em 130 por cento, sendo assim, logo após a dívida grega, a mais elevada da zona euro.

Aguarda-se, por outro lado, para 26 de outubro uma reavaliação da dívida italiana pelas agências de notação Moody's e Standard & Poor's. À expectativa sobre o veredicto das agências vão-se antecipando os mercados, que já cobram 3,5 por cento por cada euro emprestado à Itália a um prazo de dez anos.

Ainda assim, o Governo italiano reagiu em tom de desafio aos primeiros comentários da Comissão Europeia. Segundo citação do diário italiano Corriere della Sera, o vice-primeiro ministro Matteo Salvini disse que o seu Governo não alteraria o projecto e, dirigindo-se à Comissão Europeia, exortou-a: "Deixem o Governo italiano trabalhar pelos italianos".

Igualmente cáustico foi o outro vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, ao colocar um post no facebook: "Oettinger e todos os comissários europeus deveriam começar a comportar-se como pessoas sérias e morder a língua três vezes antes de fazer declarações".
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