Organização humanitária lança apelo na Nigéria

por Agência LUSA

A organização de defesa dos direitos humanos "Human Rights Watch" (HRW) instou hoje o governo nigeriano a criar um plano para erradicar a violência provocada pelos recursos petrolíferos nos estados a sul do delta do Níger.

Num relatório, divulgado hoje, a HRW refere que o roubo de petróleo e o constante fluxo de armas para a zona devem ser impedidos porque "fomentam a violência".

O documento, intitulado "Rio e Sangue: Armas, Petróleo e o Poder no Estado de River da Nigéria", foi elaborado depois de uma visita à região, em Dezembro passado, por uma equipa de peritos para estudar as motivações e circunstâncias dos mais sangrentos confrontos protagonizados pelos mais importantes "senhores da guerra".

Os recentes confrontos armados entre a Força Voluntária do Povo do Delta do Níger (NDPVF, sigla em inglês), liderada por Asari Dokubo, e os Vigilantes do Delta do Níger (NVD), de Ateke Tom, causaram centenas de mortos e feridos, além de milhares de deslocados.

"O fracasso do governo para proteger a população local e assegurar o cumprimento da justiça não ajuda à estabilidade", referiu director para África da organização, Peter Takirambudde, na apresentação do relatório.

O responsável advertiu que, caso não sejam tomadas medidas adequadas, é muito provável que ocorram novos confrontos quando os políticos, numa antecipação da campanha eleitoral para as presidenciais de 2007, chamarem para as suas fileiras a frustrada juventude local.

Takirambudde pediu também às autoridades ajuda urgente para as dezenas de milhares de pessoas deslocadas e o destacamento de polícias suficientes para impedir futuras acções violentas.

O relatório refere que as disputas entre os líderes regionais para aumentar os impostos às empresas petrolíferas internacionais, que operam na zona, e os fundos governamentais suscitaram a violência entre os clãs rivais, que apoiam diferentes grupos políticos.

Os confrontos provocam a morte indiscriminada de residentes locais, obrigam ao deslocamento interno de milhares de pessoas e ao mesmo tempo forçam as empresas petrolíferas a retirarem os seus funcionários das plataformas de extracção, o que provoca a queda de produção de crude, acrescenta o relatório.

O documento felicita ainda o presidente Olusegun Obasanjo pelo Memorando de Entendimento assinado para pôr fim à luta e desarmar as milícias, mas condena o governo por ter amnistiado os responsáveis por "graves abusos contra os direitos humanos".

As autoridades da Nigéria devem acabar com a cultura de impunidade que gera um ciclo mortífero de violência na região, sublinha o relatório, salientando que a industria petrolífera deve assegurar que os benefícios sejam para a população e não para aqueles que fomentam a violência.

A HRW alerta também para o facto dos jovens da região, frustrados com a pobreza e falta de postos de trabalho, serem muito vulneráveis aos líderes dos grupos armados e políticos sem escrúpulos, que os utilizam, nomeadamente, para o roubo de petróleo.

A violência na região tornou-se ainda mais mortífera "devido ao fluxo de armas ligeiras que são importadas de outros locais de conflito, roubadas às forças armadas ou adaptadas em pequenas oficinas artesanais locais", conclui o relatório.

MSE.

Lusa/Fim


pub