Organizações terroristas e inteligência artificial: Como os grupos extremistas tiram partido da nova tecnologia

Enquanto o mundo se apressa a aproveitar o potencial da IA, as organizações extremistas e armadas também estão a fazer experiências com a tecnologia, mesmo que não seja totalmente claro como a vão utilizar.

Um Olhar Europeu com EPT /
Mohsen KARIMI / AFP



De acordo com especialistas em segurança nacional, a Inteligência Artifical pode ser uma ferramenta poderosa para recrutar novos membros, criar imagens deepfake realistas e melhorar os ciberataques das organizações terroristas.
ISIS apela à utilização da inteligência artificial
No mês passado, um utilizador de um fórum pró-islamista ligado ao Estado Islâmico (ISIS) instou os apoiantes da organização a integrarem a IA nas suas operações. Uma das melhores caraterísticas da inteligência artificial é o facto de ser fácil de utilizar", escreveu em inglês, acrescentando que "algumas agências de informação estão preocupadas com o facto de a IA contribuir para o recrutamento. Tornar os seus pesadelos numa realidade".

O ISIS, que já ocupou territórios no Iraque e na Síria e atualmente funciona como uma rede descentralizada de grupos armados, reconheceu desde cedo o poder das redes sociais para o recrutamento e a desinformação. Segundo os analistas, não é surpreendente que esteja agora também a testar a inteligência artificial.Propaganda e deepfakes a baixo custo
Para grupos extremistas menos organizados e com recursos limitados - ou mesmo para "lobos solitários" individuais com acesso à Internet - a IA pode ser utilizada para produzir em massa propaganda e conteúdos deepfake, expandindo o seu alcance.

"Para qualquer adversário, a inteligência artificial torna tudo muito mais fácil", afirmou John Lalibert, antigo investigador da NSA e atual diretor executivo da empresa de cibersegurança ClearVector. "Mesmo pequenos grupos sem grandes recursos financeiros podem causar um impacto significativo."Como os grupos extremistas estão a fazer experiências com a IA
As organizações armadas começaram a utilizar a IA quase imediatamente após a disponibilização pública de ferramentas como o ChatGPT. Nos últimos anos, têm vindo a utilizar a IA genética para criar fotografias e vídeos realistas.

Combinados com os algoritmos das redes sociais, estes conteúdos falsos podem contribuir para o recrutamento, causar confusão ou medo e difundir propaganda a uma escala sem precedentes.

Há dois anos, foram divulgadas imagens falsas da guerra entre Israel e o Hamas, mostrando crianças feridas em edifícios bombardeados. Este conteúdo causou indignação e polarização, tendo sido utilizado por grupos violentos no Médio Oriente e por organizações anti-semitas nos EUA e noutros locais para recrutamento.

Do mesmo modo, após o ataque a um local de concertos na Rússia em 2024, que custou a vida a quase 140 pessoas e foi atribuído a uma ramificação do ISIS, foram divulgados vídeos de propaganda em massa criados com inteligência artificial.

De acordo com o SITE Intelligence Group, o ISIS criou ficheiros áudio deepfake com as vozes de líderes a recitar textos religiosos e utiliza a IA para traduzir rapidamente as mensagens para várias línguas, expandindo a audiência internacional."Ambições" com riscos
Apesar disso, as organizações extremistas ainda estão atrás de atores estatais como a China, a Rússia ou o Irão e veem as utilizações mais sofisticadas da IA como "ambições", de acordo com Marcus Fowler, antigo agente da CIA e atual CEO da Darktrace Federal.

No entanto, como salienta, os riscos aumentam à medida que a IA se torna mais barata e mais potente.

Os cibercriminosos já estão a utilizar áudio e vídeo sintéticos para ataques de phishing, fazendo-se passar por executivos seniores ou funcionários governamentais. A IA também pode ser utilizada para criar software malicioso ou automatizar ciberataques.

Particularmente preocupante é a potencial utilização da inteligência artificial para produzir armas biológicas ou químicas, um risco agora incluído na Avaliação Nacional de Ameaças actualizada do Departamento de Segurança Interna dos EUAIniciativas legislativas e medidas de combate
Os legisladores norte-americanos estão a promover uma série de propostas, sublinhando a necessidade de uma ação imediata. O senador Mark Warner, líder democrata do Comité de Inteligência do Senado, afirmou que os EUA devem facilitar a troca de informações entre as empresas de IA e as autoridades sobre a utilização maliciosa destas ferramentas.

Numa recente audição no Congresso, foi revelado que o ISIS e a Al-Qaeda organizaram workshops de formação para a utilização da inteligência artificial pelos seus apoiantes.

Um projeto de lei recentemente aprovado pela Câmara dos Representantes dos EUA prevê uma avaliação anual dos riscos da utilização da IA por grupos extremistas. "As nossas políticas têm de acompanhar as ameaças de amanhã", afirmou o deputado August Pfleger, autor do projeto de lei.

ERTNews / 15 dezembro 09:13 GMT

Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa- RTP
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