Um paciente com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) em São Paulo pode ser a primeira pessoa curada usando apenas medicamentos e sem recorrer a transplantes agressivos de células estaminais, segundo um estudo apresentado na terça-feira.
De acordo com um artigo publicado na revista Science, o paciente em causa tem 35 anos e foi tratado durante anos com uma combinação de antirretrovirais e nicotinamida, um tratamento que foi interrompido em março de 2019 e que, desde então, o HIV continua sem ser detetado tanto no seu DNA (ácido desoxirribonucleico - material genético), quanto no RNA (ácido ribonucleico).
A aparente ausência do HIV no sangue do denominado "paciente de São Paulo" 15 meses após o término do tratamento leva a crer que o paciente poderá ter sido curado, embora os próprios responsáveis pelo estudo alertem que não dispõem de resultados definitivos suficientes, e que não passou o tempo necessário para se poder confirmar essa possibilidade.
A investigação foi liderada por Ricardo Diaz, da Universidade Federal de São Paulo no Brasil.
Até ao momento, sabe-se que apenas duas pessoas foram oficialmente curadas da SIDA, doença provocada pelo HIV: Timothy Ray Brown, conhecido como "o paciente de Berlim", e Adam Castillejo, conhecido como "o paciente de Londres".
Ambos foram submetidos a operações cirúrgicas muito complexas e agressivas, como parte de tratamentos contra o cancro, que envolveram o transplante de medula óssea com células estaminais resistentes à infeção pelo HIV, o que permitiu que os seus corpos criassem novos sistemas imunológicos livres da SIDA.
Apesar do sucesso desses dois casos, trata-se de cirurgias muito complicadas, extremamente caras, e que envolvem perigos para o paciente, tornando impraticável o seu uso em larga escala.