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Paddy Cosgrave. "Daqui a 50 anos espero continuar com a Web Summit em Lisboa"

por Daniel Catalão - RTP
Foto: Pedro Nunes - Reuters

Edward Snowden, Margrethe Vestager, a privacidade, o Brexit e a sustentabilidade são nomes e temas centrais na Web Summit deste ano. A RTP entrevistou Paddy Cosgrave, que revelou desejar fixar o evento na capital portuguesa nos próximos 50 anos.

Paddy Cosgrave solta uma gargalhada quando lhe pergunto se traz Margrethe Vestager outra vez para provocar as gigantes tecnológicas. 

A pergunta em si é que é provocatória porque se trata da dinamarquesa Comissária Europeia da Concorrência - na nova Comissão Europeia, será vice-presidente para a política da Europa na era digital - que aplicou multas de milhões à Apple, Google e Amazon.

Paddy Cosgrave diz que não quer irritar ninguém e realça que Vestager tem uma popularidade “extraordinária” e é importante, nomeadamente, para “quem tenta criar a próxima geração de empresas”.

Não considera que ela seja contra as gigantes tecnológicas, porque “o que está a tentar fazer é a nivelar o campo de jogo” para todas as empresas”, para que as mais pequenas não sejam prejudicadas. Por isso qualifica-a com uma das políticas mais importantes do mundo.

“O que ela está a fazer é a fixar o padrão para outras partes do mundo”, realça o criador da Web Summit.
Tecnologia como ameaça à democracia A privacidade e a segurança voltam a ser centrais nesta edição. Depois do destaque dado no ano passado ao escândalo Facebook-Cambridge Analytica, este ano, Edward Snowden é o cabeça de cartaz.

O ex-analista da NSA (Agência de Segurança dos EUA) que denunciou um programa de vigilância global de cidadãos vai intervir por videochamada a partir da Rússia, onde vive depois de ter fugido dos Estados Unidos.

Paddy Cosgrave explica que lhe dá palco porque é uma das pessoas que tem uma mensagem a transmitir sobre esta matéria.

“A privacidade tornou-se cada vez mais importante” e “ está a ter impacto até nas nossas democracias”, realça o pai da Web Summit.

Cosgrave salienta que a tecnologia costumava ser uma porção pequena, na secção empresarial de um grande jornal ou site. “Mas, agora, esta pequena subsecção da secção empresarial, tornou-se num dos elementos mais importantes das nossas vidas”, afirma.
Guerra comercial entre EUA e China Esta edição vai tratar de debater, também, a atual guerra comercial declarada pelo presidente dos EUA à China.

A Huawei tem sido o principal alvo de Donald Trump e o presidente da gigante chinesa de telecomunicações, Guo Ping, é uma das principais vozes a ouvir-se no primeiro dia no palco principal da Web Summit na Altice Arena.

O evento deverá juntar no mesmo local, pela primeira vez desde que o conflito começou, presidentes executivos de empresas de ambos os países, algo que Paddy Cosgrave qualifica de “surpreendente” e “impensável” até há pouco tempo.
Brexit, of course Apesar do Brexit ou devido ao Brexit, o Reino Unido é o país com mais startups na Web Summit deste ano, 30% mais do que EUA e Rússia, que ocupam o lugar seguinte.

Este número deixou espantada “muita gente”, que não pensava que o país estivesse “tão vibrante num momento tão difícil”, revelou à RTP o criador do evento.

O assunto não passa ao lado dos debates deste ano uma vez que o negociador do Brexit, por parte da União Europeia, Michel Barnier é, precisamente, um dos oradores principais.

Sendo irlandês, Paddy Cosgrave espera “que a solução seja razoável e a vida possa continuar com toda a normalidade, especialmente na região de fronteira”.

E salienta que o Reino Unido é o mercado mais importante para a Irlanda uma vez que é para lá que seguem 90% do leite, cereais e legumes produzidos no país.

“Não se fala de mais nada nos últimos três anos”, realça Cosgrave.
Mais mulheres e mais África Há dois anos, Paddy Cosgrave desejou que houvesse mais mulheres e mais iniciativas de África.  

Este ano, há 41 startups africanas e o panorama mudou muito desde a primeira edição em Lisboa.

Três anos depois, há 40% de mulheres fundadoras de empresas e 30% são de fora de Portugal, mas que estão a criar as empresas no nosso país. São suíças, francesas, alemãs, canadianas, australianas e brasileiras.

Segundo Paddy Cosgrave, “algumas vieram por causa da Web Summit, outras porque leram sobre Portugal”.

Mas este é o grupo de jovens que procura estabelecer contactos para obter mais financiamento que alavanque os negócios que criaram.

Depois, há os outros jovens estudantes que querem aprender e partilhar experiências. Porém, com bilhetes acima de 1.000 euros, a grande oportunidade será conseguir um lugar de voluntário e, assim, trabalhar e assistir às conferências.

Outras duas formas de o conseguir estão pensadas para engenheiros. Uma premeia os contributos dados para projetos open-source através do GitHub. A outra é integrando o programa desenhado com o Governo para levar ao evento dois mil estudantes do ensino secundário e superior, de forma gratuita.
Um negócio lucrativo Num mundo de comunicação efémera, rápida e de poucas palavras através dos smartphones, Cosgrave desenvolveu um negócio lucrativo que consiste em juntar milhares de pessoas num local para debater o impacto da tecnologia no mundo.

Por isso, diz-se “muito afortunado” e lembra que já na universidade fazia parte de uma sociedade de debates, a Sociedade Filosófica Universitária.

Rejeita a ideia de que, na sociedade, há temas “decididos” porque há sempre muito que debater e é “importante estar preparado para juntar pessoas com opiniões diferentes, a fazer coisas diferentes e a ouvir pontos de vista distintos”.

E realça que a Web Summit é precisamente o “juntar de vozes diferentes, de lugares, áreas e indústrias diferentes num só local”, neste caso, “é um privilégio poder fazer isso em Lisboa.
Mais 50 anos em Lisboa O criador da Web Summit confessa que deseja continuar em Lisboa mais cinquenta anos e garante que não foi o dinheiro que o convenceu a manter o evento em Portugal porque os espanhóis pagavam muito mais.

Paddy Cosgrave lembra que Valência lhes ofereceu 170 milhões de euros mas, depois de muito refletirem, concluíram que o cheque mais gordo nem sempre compensa. E que “provavelmente seria mesmo um erro”.

“Portugal condiz plenamente com a marca da Web Summit”, assegura Cosgrave, realçando que isso agradou ao setor do marketing da empresa. De sorriso aberto, frisa, igualmente, que têm muitos engenheiros portugueses mas nenhum espanhol.

Porém, no âmbito do acordo para manter a Web Summit dez anos em Lisboa, ficou prevista a expansão do local de exposições na FIL, mas ainda não houve obras.

Paddy Cosgrave desvaloriza este aspeto e assegura que, se houvesse problemas já teria falado sobre o assunto.

Para este ano, assegura que foram encontradas soluções muito simples. Em janeiro ou fevereiro de 2020 começará a pensar-se nos próximos anos.  
Mais de 70 mil participantes
A Web Summit tem mais de 70 mil pessoas credenciadas de mais de 160 países. Onze mil participantes são presidentes executivos de empresas. Pelos vários palcos, vão passar mais de 1.200 oradores.  

O evento decorre de 4 a 7 de novembro em Lisboa vai ser coberto por mais de dois mil jornalistas.
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