A taxa de gravidezes indesejadas entre mulheres dos 15 aos 49 anos em países africanos lusófonos é superior à mundial, segundo um relatório hoje divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).
No relatório "Vendo o Invisível: O caso de ação na crise negligenciada da gravidez não intencional", hoje divulgado, o UNFPA apresentou dados em relação a gestações não planeadas, salientando que representam quase metade do total de gravidezes no mundo, totalizando 121 milhões por ano.
Enquanto a taxa mundial permanece em 64 gravidezes indesejadas por cada 1.000, esse número é muito superior em países como Angola (120), Cabo Verde (102), Guiné-Bissau (99), Moçambique (88) e São Tomé e Príncipe (130).
Também no Brasil esse número é ligeiramente superior aos dados mundiais (67 gravidezes indesejadas por cada 1.000 mulheres).
Entre os países lusófonos, a exceção é Portugal (21) e Timor-Leste (50), que ficaram abaixo da taxa mundial, neste relatório que compila dados de 2015 a 2019.
Tendência semelhante é encontrada no levantamento da taxa de natalidade por parte de mães adolescentes (15 a 19 anos), em que a média mundial ficou em 40 por cada 1.000, mas que foi amplamente superada pelos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Angola atingiu uma taxa de 163 por cada 1.000 adolescentes, Guiné-Bissau 84, 180 em Moçambique e 86 em São Tomé e Príncipe. Apenas Cabo Verde ficou abaixo da média mundial (12), segundo o relatório, que apresenta dados que vão desde 2004 até 2020.
Já o Brasil tem 49 gravidezes entre adolescentes por cada 1.000 jovens, Timor-Leste 42 e Portugal sete.
Num âmbito mais global, o relatório alerta que mais de 60% das gestações indesejadas terminam em aborto, estimando-se que 45% destes atos sejam inseguros e causem 5% a 13% das mortes maternas. Os abortos inseguros provocaram a hospitalização de sete milhões de mulheres por ano, em todo o mundo.
Face ao casamento infantil aos 18 anos, a percentagem mundial fica em 26%, e em Angola sobe para os 30%, em Cabo Verde fica pelos 18%, 26% na Guiné-Bissau, 53% em Moçambique, 15% em Timor-Leste, 28% em São Tomé e Príncipe e 26% no Brasil, segundo dados de 2005 até 2020. O relatório não apresenta dados de Portugal nesse parâmetro.
Já a prevalência de métodos contracetivos entre mulheres dos 15 aos 49 anos em países africanos lusófonos como Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, esta fica abaixo da percentagem mundial, segundo o UNFPA.
No relatório foi feita uma análise em relação ao uso de qualquer método contracetivo por mulheres a nível mundial, em que a percentagem global ficou em 49% no corrente ano.
Contudo, essa percentagem em Angola ficou apenas em 16%, em Moçambique 27%, 33% em Guiné-Bissau, 38% em São Tomé e Príncipe e 44% em Cabo Verde.
Em Portugal (60%) e no Brasil (65%), a percentagem de prevalência de qualquer método contracetivo entre mulheres dos 15 aos 49 anos ficou acima da média mundial.
Já Timor-Leste registou uma das menores percentagens face a países lusófonos (19%).
Os dados gerais têm, para a agência da ONU, "um grande impacto" na capacidade global para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
De acordo com os dados recolhidos, 257 milhões de mulheres que querem evitar uma gravidez não usam métodos contracetivos modernos e seguros e quase um quarto não tem condições para recusar sexo.