O Papa Francisco defendeu hoje o poder da religião para resolver conflitos e promover a paz durante a visita que efetua à Mongólia, em que procurou estabelecer laços com a vizinha China.
Numa reunião na capital, Ulan Bator, com 10 líderes de diferentes religiões, o Pontífice de 86 anos apelou aos líderes políticos para que se inspirem na religião e escolham "o caminho do encontro e do diálogo".
"O facto de estarmos juntos no mesmo lugar é já uma mensagem: as tradições religiosas, na sua originalidade e diversidade, representam um formidável potencial de bem ao serviço da sociedade", afirmou, citado pela agência francesa AFP.
"Se os líderes das nações escolhessem o caminho do encontro e do diálogo com os outros, dariam um contributo decisivo para pôr fim aos conflitos que continuam a fazer sofrer tantos povos", defendeu.
Ao lado de monges budistas, xamãs mongóis, islâmicos, judeus e um padre ortodoxo russo, o Papa argentino citou frases de Buda e Gandhi num evento inter-religioso realizado na véspera do fim da viagem de quatro dias.
Francisco tornou-se o primeiro chefe da Igreja de Roma a visitar a Mongólia, um país de 3,3 milhões de habitantes e que tem uma das mais pequenas comunidades católicas do mundo, com cerca de 1.400 fiéis.
A Mongólia tem 53% de budistas, 39% de ateus, 3% de muçulmanos, 3% de xamãs e 2% de cristãos, segundo dados do grupo católico sem fins lucrativos Ajuda à Igreja que Sofre, citados pela agência norte-americana AP.
Vários peregrinos da China atravessaram a fronteira para ver o Papa e, no sábado, um pequeno grupo exibiu uma bandeira chinesa à passagem do carro de Francisco, cantando "todos os chineses te amam".
"Sempre esperámos por isso. Esperamos realmente que, gradualmente, o nosso Governo e os nossos dirigentes o aceitem e o convidem a visitar o nosso país", disse à AP Yan Zhiyong, um empresário católico chinês na Mongólia.
As difíceis relações do Vaticano com a China e a repressão de Pequim sobre as minorias religiosas, como os muçulmanos uigur de Xinjiang, têm sido um pano de fundo constante da viagem.
Nenhum bispo da China continental terá sido autorizado a viajar para a Mongólia, em contraste com pelo menos duas dúzias de bispos de outros países asiáticos que acompanharam peregrinos a Ulan Bator.
O cardeal eleito de Hong Kong, Stephen Chow, que efetuou uma visita histórica a Pequim no início deste ano, esteve presente e acompanhou 40 peregrinos à Mongólia.
Chow não quis falar sobre a ausência dos homólogos da China continental, concentrando-se antes em Francisco e na importância da visita à Mongólia para a Igreja asiática.
"A igreja asiática é também uma igreja em crescimento, (...) também tem um papel muito importante a desempenhar agora na igreja universal", disse aos jornalistas.
A China não reconhece a autoridade do Papa em relação aos católicos no país, que estão subordinados à Associação Patriótica Católica Chinesa, um organismo estatal fundado em 1957.
Apesar dos conflitos, o Vaticano e a China renovaram um acordo no ano passado sobre a questão da nomeação de bispos chineses.
A maioria dos mongóis segue a escola Gelugpa dominante do budismo tibetano e venera o seu líder, o Dalai Lama.
Muitos mongóis estão preocupados com a oposição do Partido Comunista Chinês ao Dalai Lama, mas como a China é o principal parceiro comercial da Mongólia, os líderes do país não se têm pronunciado sobre o Tibete.
Em 10 anos de pontificado, Francisco recebeu representantes budistas de Taiwan, Mongólia e Tailândia, mas nunca se encontrou com Tenzin Gyatso, o 14.º Dalai Lama.