Parceria estratégica do Brasil com UE é evolução natural das relações
A elevação do estatuto do Brasil para parceiro estratégico da União Europeia significa um ganho sobretudo político e é uma evolução natural das relações entre o Brasil e o bloco europeu, disse à Lusa a chefe do Departamento Europa do Itamaraty.
Segundo a embaixadora Maria Edileusa Fontenele Reis, dos BRIC, grupo de países candidatos a juntar-se ao clube dos mais desenvolvidos nas próximas décadas, "faltava apenas o B" (Brasil) tornar-se parceiro estratégico da UE, porque Rússia, Índia e China já têm este estatuto.
A chefe do departamento Europa do Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse que Portugal "tem se empenhado muito" na formalização desta parceria e que desconhece qualquer resistência dos países do bloco em relação à proposta deste novo estatuto do Brasil.
Esta proposta deverá ser discutida na cimeira UE-Brasil, que se realiza a 04 de Julho, durante a presidência portuguesa dos 27.
"Temos relações extraordinárias com todos países da Europa e o Brasil já tem uma relação de parceria estratégica com Portugal, Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. A cimeira de Lisboa, em Julho, será um marco político desta nova parceria estratégica com a União Europeia", assinalou.
Segundo a embaixadora, o documento de recomendação elaborado pela Comissão Europeia sobre a nova parceria é "altamente positivo" para o Brasil.
"O documento enaltece o papel do Brasil como um grande factor de estabilidade democrática na América Latina e, em particular, na América do Sul, um país com uma democracia consolidada, uma economia estruturada e uma participação diplomática de grande relevância nos temas mais importantes da agenda global", destacou.
Na avaliação da diplomata, o acordo permitirá um novo olhar da Europa para a América Latina, que estava fora das prioridades da política externa europeia, mais voltada para a Ásia, África, Médio Oriente, além da aliança transatlântica com os Estados Unidos.
A chefe do Departamento Europa do Ministério das Relações Exteriores brasileiro admitiu que a elevação do diálogo político entre o Brasil e a UE pode contribuir para o desbloqueio da Ronda de Doha e para um eventual acordo de livre comércio do bloco europeu com o Mercosul.
"É importante assinalar que a parceria estratégica Brasil-UE tem uma vertente exclusivamente bilateral. As negociações Mercosul-UE têm o seu foro próprio e são conduzidas pela Comissão Europeia em Bruxelas. Mas o diálogo mais elevado do Brasil com a UE pode ter um efeito positivo no desbloqueio de questões mais complicadas, inclusive Doha", afirmou.
Questionada sobre se o problema da imigração poderia prejudicar de alguma forma a nova parceria do Brasil com a União Europeia, Edileusa Reis disse que o documento da UE que propõe a parceria estratégica não trata deste tema.
Segundo a diplomata, o assunto já tem seu foro próprio de discussão, que é a Comissão Mista UE-Brasil.