Paul Gosar: o republicano "mais perigoso" do Congresso dos EUA

por RTP
Carlos Barria - Reuters

Nos últimos anos, o republicano Paul Gosar conseguiu manter o estatuto de um dos mais confiáveis porta-vozes da extrema-direita no Capitólio dos Estados Unidos. O congressista do Arizona é um dos mais fervorosos apoiantes de Donald Trump e assume-se como o "mais perigoso" do Congresso norte-americano. Mas, numa altura em que os pró-Trump se tornam minoritários, a estratégia e posicionamento político deste polémico republicano podem estar em risco.

A sua reputação no Congresso já há muito que vinha em queda. Mas depois de se ter solidarizado com os manifestantes envolvidos no ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, até as suas propostas para a Comissão de Recursos Naturais, da qual era o representante, foram excluídas.

Recentemente, num comício de Donald Trump, no Arizona, Paul Gosar voltou a promover a alegação infundada do ex-presidente de que houve fraude eleitoral.

“Foi aqui que tudo começou”
, disse Gosar, citado pelo Guardian, num discurso antes de Trump subir ao palco. “É por isso que questionamos: 'Houve fraude? Obviamente. Foi o suficiente para derrubar a eleição? Obviamente".

Para além de ser assumidamente de extrema-direita e um dos mais leais apoiantes de Trump, Gosar tem extensas ligações aos nacionalistas e defensores da supremacia branca, assim como a muitos dos já identificados manifestantes da invasão ao Capitólio.

“Sou considerado o homem mais perigoso do Congresso”, declarou no comício lotado, abordando alguns dos pontos de discussão mais populares da direita, como a teoria racial crítica nas escolas, o desrespeito pelos militares e “prateleiras vazias” nas lojas, antes de se concentrar na questão central desse comício: as eleições de meio de mandato.
Direita ou extrema-direita?
O apoio e a lealdade de Paul Gosar a Donald Trump vão muito além de promover as mentiras do antigo presidente norte-americano: a 6 de janeiro, no dia da invasão ao Capitólio, o congressista republicano votou contra a certificação da eleição de Joe Biden.

“Não temos mais a capacidade de estabelecer um limite claro entre a direita e a extrema-direita no Partido Republicano”
, disse ao jornal britânico Joe Lowndes, professor de ciência política da Universidade de Oregon.

“A ala trumpista dos republicanos não está apenas em ascensão – é a ala dominante do Partido Republicano. É a ala dominante não apenas na política nacional, mas também na política estadual e local”, explicou Lowndes. “O Partido Republicano comprometeu-se com um partido de governo minoritário, descobrindo maneiras de governar a longo prazo sem ter o apoio da maioria dos eleitores”.

Com a investigação ao ataque ao Capitólio em curso, surgiram informações de que Gosar terá ligações a um dos principais responsáveis pelos protestos violentos de 6 de janeiro de 2021: Ali Alexander. Segundo o processo, Alexander “teve algumas conversas telefónicas” com Gosar e falou com o congressista do Arizona Andy Biggs “pessoalmente” antes do ataque.

Já no ano passado, Gosar foi o orador principal num comício do America First, organizada pelo nacionalista branco Nick Fuentes, a quem o Departamento de Justiça chama de “supremacista branco” num processo judicial.

“Há alguma esperança, talvez, para o America First no Congresso, e isso deve-se quase exclusivamente ao representante Paul Gosar”
, disse Fuentes numa mensagem de vídeo para os seus apoiantes no ano passado.

Nos últimos meses, Gosar também foi censurado e destituído dos seus cargos políticos, depois de ter publicado no Twitter um vídeo editado de animações violentas onde aparecia a matar a congressista Alexandria Ocasio-Cortez e a atacar o presidente Joe Biden.

“Não defendo a violência contra ninguém”
, disse, na altura, Gosar durante o debate no Senado após o vídeo ser duramente criticado. “Eu voluntariamente retirei o vídeo, não porque fosse uma ameaça, mas porque alguns achavam que era. Por compaixão por aqueles que genuinamente se sentiram ofendidos, eu autocensurei-me”.

Apesar dessa autocensura, o republicano tem um histórico longo e polémico de publicações de conteúdos de extrema-direita.
Promoção da integridade eleitoral
É na integridade eleitoral que Paul Gosar se tem tornado mais proeminente, ao promover a alegação de que as eleições nos Estados Unidos são vulneráveis a fraude e manipulação.

“Há uma aceitação confortável do sentimento antidemocrático”, disse Lowndes. “O Partido Republicano não abriu apenas a porta à extrema-direita, agora conta com a extrema-direita”.

No recente comício no Arizona, Gosar disse aos apoiantes de Trump que fizessem campanha localmente relativamente à questão da fraude eleitoral.

“Assumam a responsabilidade e perguntem pela vossa cédula [de eleitor] no vosso condado. (…) Isso vai mostrar-lhes uma coisa: que vocês os estão a observar e que não vão deixar que aconteça o que aconteceu em janeiro do ano passado”.

Gosar esteve entre as autoridades republicanas do Arizona que pressionaram por uma auditoria aos resultados das eleições de Maricopa, o condado mais populoso do Estado. Mas, antes do comício de Trump, o departamento de eleições de Maricopa divulgou um relatório de 93 páginas rejeitando cada uma das 76 alegações sobre as eleições de 2020 feitas por republicanos eleitos no Arizona.

O relatório sustentou que “as eleições gerais de novembro de 2020 foram administradas com integridade e os resultados foram precisos e confiáveis” e que “apesar de todas as provas em contrário as falsas alegações continuam a persistir e prejudicar a confiança dos eleitores”.

Mas a reputação de Paul Gosar não está em queda apenas na política. Alguns elementos da sua família, incluindo os três irmãos, pediram publicamente para que Gosar fosse expulso do Congresso.

“Sabemos que ele é um extremista e levamos isso muito a sério”,
disse a irmã, Jennifer Gosar, ao Arizona Republic.

“Eu considero-o um traidor deste país. Um traidor da sua família”, disse à NBC News, o irmão Dave Gosar.
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