Pedro Sánchez entalado entre independentistas e as direitas

por Graça Andrade Ramos - RTP
Pedro Sánchez no Parlamento espanhol, em dezembro de 2018 Reuters

Esta promete ser uma semana agitada em Espanha, com a votação das emendas do Orçamento de 2019, quarta-feira, a assumir importância decisiva para o Executivo socialista de Pedro Sánchez. A tábua de salvação do primeiro-ministro pode vir a ser os independentistas catalães, caso decidam votar a favor das contas nacionais.

Depois da grande manifestação das três direitas, este domingo, a exigir eleições antecipadas, a agência espanhola EFE, referindo fontes do Governo, afirma que o primeiro ministro espanhol está a admitir a convocação de eleições já para dia 14 de abril, domingo de Ramos.

Uma notícia que pode não passar de manobra política e que até já foi desmentida oficialmente. Em conferência de imprensa, a vice-secretária geral do Partido Socialista espanhol, Adriana Lastra, disse que nada disso está em cima da mesa. "Nenhum membro da direção do PSOE está a falar de 14 de abril para eleições legislativas", declarou.

A decisão final sobre a data caberá aliás a Pedro Sánchez, lembrou Lastra, admitindo contudo que, se quarta-feira as emendas ao Orçamento forem chumbadas no Parlamento, o executivo minoritário de Sánchez terá vida curta.

O primeiro-ministro procura agora apoios com a garantia de que só os irá encontrar entre os mais improváveis e mediante cedências em matérias muito contestadas.


"A política faz estranhos companheiros de cama. O independentismo votará contra uns orçamentos sociais bons para a Catalunha e as direitas contra uns orçamentos sociais bons para Espanha", disse hoje Pedro Sánchez numa mensagem que colocou na rede social Twitter.

O primeiro-ministro espanhol insiste na mesma mensagem que "a independência da Catalunha nem é constitucional, nem a quer a maioria dos catalães".
Catalunha, para que te quero
A data de 14 de abril estará a ser referida, afirmam os jornais espanhóis El Mundo e El País, como uma forma do Executivo pressionar precisamente os independentistas da ERC e do PDeCAT a votar a seu lado as emendas do Orçamento, garantindo a frustração das direitas.

O Governo socialista espera que a ideia de união destas três - o centro-direita (Cidadãos), a direita (Partido Popular) e a extrema-direita (Vox) - que exigem uma resposta musculada na Catalunha contra a independência, leve os independentistas a apoiar os socialistas.

Os independentistas já fizeram saber que, pelo contrário, a pressão das direitas deverá levar Sánchez de novo à mesa das negociações com o executivo regional catalão, que abandonou a semana passada, com propostas mais generosas e conciliatórias.

Esta segunda-feira, o presidente catalão Quim Torra fez depender o apoio às contas do Executivo da admissão do direito à auto-determinação da Catalunha, algo que o Governo descarta em absoluto. "Não podemos renunciar ao que somos. Não voltaremos a negociar, se em cima da mesa não estiver o direito à autodeterminação", garantiu Torra numa entrevista à Catalunya Ràdio.Para complicar uma semana já de si difícil para os socialistas, esta terça-feira irá começar o julgamento de 12 políticos catalães pelo seu papel na declaração de independência catalã em 2017.

Já a porta-voz do Esquerda Republicana, Marta Villata, diz que Sánchez está no seu direito de convocar eleições para quando queira e aos republicanos as urnas não metem medo. "Um chumbo das emendas não tem de implicar diretamente eleições", refere.

O PDeCAT diz igualmente que a possibilidade de eleições já em abril não o pressiona. "Sentimos a pressão de quem votou em nós e que quer um referendo", disse o líder David Bonvehí.
Super domingo
O Podemos, o único partido que irá votar as emendas ao lado do partido socialista, confia que os catalães irão votar a favor.

"Vamos continuar a trabalhar até ao último momento", garantiu Pablo Echenique, secretário-geral do partido. Reconhece, contudo, que dificilmente Executivo de Sánchez se irá manter se as contas forem chumbadas. "Vai ser muito difícil manter a legislatura e o presidente será forçado a convocar eleições", disse Echenique. "Necessita do apoio dos independentistas", afirmou.

A maioria dos analistas concorda que as eleições legislativas em Espanha deverão quase de certeza ser antecipadas, embora nenhuma data esteja ainda a debate. Oficialmente, o Executivo espanhol diz-se concentrado na aprovação das emendas e não fala em datas.

Outra possibilidade para Sánchez é marcar as eleições legislativas para o mesmo "super domingo" 26 de maio, em que se realizam as eleições autónomas, municipais e europeias. Os socialistas podem ainda tentar arrastar a situação até ao outono ou até mesmo 2020, ano em que termina a legislatura.

Sánchez tem menos de um quarto dos deputados na Câmara baixa espanhola, tendo assumido o poder com o apoio do Podemos, após uma moção de censura ter resultado na queda do executivo de Mariano Rajoy, do PP.
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