Pedro Sánchez fala em "genocídio" israelita num dia em que foram mortos 56 palestinianos em Gaza

Após 20 meses de um conflito devastador que deixa milhões de palestinianos à beira da fome total, a Faixa de Gaza viveu esta quinta-feira um novo massacre, com 56 pessoas mortas pelas forças israelitas, segundo números das autoridades locais. Com o termo a ser usado por outros líderes mundiais, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, veio hoje reiterar o que diz ser um “genocídio”, pedindo à União Europeia que suspenda o acordo de associação com Israel. A ONU volta a alertar também por seu lado que a população de Gaza vive um cenário de fome.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Foto: Hani Alshaer - Anadolu via AFP

A Defesa Civil de Gaza acaba de anunciar que 56 pessoas, incluindo seis que aguardavam por ajuda alimentar, foram mortas por disparos israelitas na manhã desta quinta-feira em diferentes áreas do território palestiniano.

Inicialmente, a organização deu conta de pelo menos 35 mortos em vários incidentes, tendo agora o porta-voz Mahmoud Bassal informado a agência France-Presse) sobre 17 novas vítimas num ataque de militares israelitas contra civis reunidos perto do cruzamento de Al-Baraka, na cidade de Deir al-Balah, centro da Faixa de Gaza.

Questionado pela France-Presse, o exército israelita disse estar a “analisar” informação sobre feridos perto do cruzamento de Netzarim (centro): “As tropas do Tsahal (os militares israelitas) tentaram impedir que os suspeitos se aproximassem e dispararam tiros de aviso”.

A France-Presse escreve ainda que grupos de palestinianos se reuniram hoje no pátio de um hospital em Deir al-Balah (centro) onde se encontravam sacos mortuários manchados de sangue com os corpos de familiares mortos num dos ataques israelitas desta quinta-feira.

“Mataram o pai, a mãe e os irmãos, apenas duas meninas sobreviveram. Uma delas é um bebé de um ano e dois meses e a outra tem cinco anos”, lamentava-se uma das mulheres palestinianas frente aos corpos dos familiares.
Pedro Sánchez volta a denunciar genocídio israelita

Entretanto, o primeiro-ministro espanhol voltou hoje a chamar de genocídio à situação que se vive na Faixa de Gaza, exigindo “acesso imediato e urgente a ajuda humanitária” coordenada pelas Nações Unidas no território palestiniano.

Há hoje “uma situação catastrófica de genocídio” em Gaza, lamentou Pedro Sánchez em Bruxelas, pedindo à União Europeia que suspenda o seu acordo de associação com Israel.

Já a 24 de maio, no discurso perante o Conselho da Internacional Socialista, em Istambul, Turquia, o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, havia feito duras críticas à ofensiva de Israel no enclave palestiniano: “A situação atual é simplesmente inaceitável e não ficaremos em silêncio. A indiferença não é uma opção para a comunidade internacional”, declarava então o chefe do governo espanhol, pedindo na altura o fim do bloqueio e autorização para a entrada de ajuda nos territórios.

No final desse mês, Israel acabaria por aligeirar parcialmente o bloqueio que vinha desde o início de março e que levou a população palestiniana a enfrentar uma escassez quase total de alimentos, medicamentos e outros bens de primeira necessidade.

As autoridades israelitas implementaram um mecanismo de distribuição de ajuda dirigido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), mas essa foi uma solução que resultou em cenas caóticas com centenas de vítimas nos centros de distribuição. Mais de meio milhar de pessoas foram mortas enquanto tentavam abastecer-se, de acordo com o balanço do Ministério da Saúde do Hamas.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos usou palavras duras quando qualificou esta terça-feira de “crime de guerra” o uso de alimentos como arma e instou o exército israelita a “deixar de disparar sobre as pessoas que tentam consegui-los”.

“O chamado ‘mecanismo’ de ajuda recentemente criado é uma abominação que humilha e degrada as pessoas desesperadas”, denunciou Philippe Lazzarini, responsável da agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).

“É uma armadilha mortal”, acusou Lazzarini.
Donald Trump aponta “grandes progressos” para Gaza

A jogar em vários tabuleiros da atualidade internacional, o presidente norte-americano Donald Trump declarou ontem terem sido feitos “grandes progressos” para atingir um cessar-fogo em Gaza.

Em Telavive, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta a pressão crescente quer da oposição, quer dos familiares de reféns detidos em Gaza, e até mesmo dentro da sua frágil coligação, para pôr fim aos combates. No início da semana, o Qatar, principal mediador entre Israel e o Hamas, anunciou o lançamento de nova iniciativa nesse sentido.

Um responsável do Hamas corroboraria à France-Presse que havia de facto uma intensificação das discussões, mas Telavive mantém que os esforços para recuperar os reféns israelitas detidos em Gaza prosseguirão “através de negociações”, mas também “no campo de batalha”.

c/ agências
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