Pelo menos 119 mulheres morreram vítimas de violência em Moçambique em 2024
Pelo menos 119 mulheres morreram vítimas de "violência física grave" associada à violência doméstica, em Moçambique em 2024, contra 98 casos registados em 2023, segundo dados apresentados hoje pelo Observatório das Mulheres, Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana.
"O mapa da violência mostra os números de violência doméstica por província (...) mostra as 119 vítimas de violência física grave, que terminou em morte, contra 98 de 2023", disse a secretária executiva do Observatório das Mulheres, Quitéria Guirengane, ao apresentar o Barómetro sobre o Estado das Mulheres de 2024, durante a sessão anual daquela ONG, em Maputo.
Segundo Guirengane, as mortes resultam das formas mais "extremas" de violência baseada no género, mas as estatísticas disponíveis no país ainda "não refletem a real dimensão do problema", pelos elevados níveis de subnotificação dos crimes.
Citando dados do barómetro, um documento que inclui estatísticas das autoridades oficiais moçambicanas, a responsável explicou que em 2024 foram notificados 9.451 casos de violência doméstica e 2.433 casos de violência sexual, enquanto a Procuradoria-Geral da República contabilizou 3.381 processos crimes contra a liberdade sexual, no mesmo período.
Na área da saúde, o barómetro aponta para 90.752 casos de violência notificados, números que, para a secretária executiva da ONG, "deveriam ser imediatamente referenciados para a polícia", mas que estão a ter um tratamento "negocial e silencioso".
"Este dado (...) mostra que a drástica redução de casos entre a notificação da saúde e o julgamento dos tribunais revela um atrito sistémico, onde a maioria das vítimas não está a ter resposta judicial", referiu, acrescentando que 2.181 vítimas de violência sexual são crianças, 2.158 das quais raparigas.
Um inquérito de perceção incluído no barómetro, com 2.897 respostas a nível nacional, indica que 25,4% das mulheres relataram ter sofrido violência durante a gravidez, parto ou pós-parto, o que, segundo Guirengane, significa que "uma em cada quatro mulheres" enfrenta também violência obstétrica.
Na ocasião, Ivete Alane, ministra do Trabalho, Género e Ação Social, defendeu que o empoderamento económico é "peça-chave" na prevenção da violência de género em Moçambique, referindo que, no âmbito de iniciativas da juventude, foram apoiados "580 projetos, dos quais 263 liderados por raparigas".
Segundo a governante, estes investimentos "devolvem dignidade, independência e perspetivas de futuro", sublinhando a necessidade de articular políticas sociais, económicas e de proteção para reduzir a vulnerabilidade das mulheres.
"O lançamento do Barómetro das Mulheres deve marcar uma viragem prática na forma como definimos prioridades", afirmou a ministra, acrescentando que o instrumento traduz uma análise sobre justiça de género, direitos sexuais e reprodutivos, participação política, autonomia económica e a capacidade do Estado em responder à violência baseada no género.
O presidente do Tribunal Supremo (TS) moçambicano indicou recentemente que foram julgados 10.377 casos de violência doméstica contra mulheres nos últimos dois anos, admitindo que o crime ainda é um desafio estrutural, profundo e persistente.