Pelo menos 400 mortos em dois dias de combates na RDC

Um novo balanço, três vezes mais elevado do que estimativas anteriores, dá conta das mortes de pelo menos 400 pessoas, em combates entre dois grupos étnicos da República Democrática do Congo. Os Batende e os Banuno enfrentaram-se a 16 e 17 de dezembro perto da cidade de Yumbi, no nordeste do país. O novo balanço foi denunciado por um padre local e por um ativista social, esta segunda-feira.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Mulheres da RDC choram as vítimas mortais de uma incursão do grupo rebelde islamita Aliança das Forças Democráticas, ADF, à aldeia de Paidu, na província norte de Kivu Reuters

A violência foi a pior registada nos últimos anos na região, habitualmente pacífica, e levou o Governo a cancelar ali a votação para as eleições presidenciais de 30 de dezembro.

Também no início do mês de dezembro confrontos entre o exército das Forças Armadas da RDC, e o grupo rebelde islamita Aliança das Forças Democráticas, ADF, fizeram pelo menos 18 mortos  na província de Kivu, no norte.

Insegurança agora agravada pelo vazio de poder, devido à polémica que envolve os resultados das eleições para a Presidência. Quinze dias depois,a incerteza face ao vencedor persiste e ameaça dividir a RDC.

A Comissão Eleitoral revelou resultados provisórios que dão a vitória ao candidato da oposição Félix Tshisekedi com 38,57 por cento dos votos, contra os 34,8 por cento obtidos por outro candidato da oposição, Martin Fayulu.

Este denunciou de imediato um "golpe eleitoral" do Presidente cessante, Joseph Kabila, com a "cumplicidade de Tshisekedi", e reivindicou a vitória com 61 por cento dos votos, depondo junto do Tribunal Constitucional um recurso que este organismo legislador tem de examinar até ao final da semana.
Ameaça à paz social
Os dois principais grupos religiosos da RDC, a Igreja Católica e a Igreja de Cristo no Congo, ECC, têm apelado à publicação dos resultados finais para preservar a paz social no país.

Esta segunda-feira, a ECC, a principal força de cariz protestante da RDC e segunda força religiosa do país, apelou às jurisdições competentes para "dizer do seu direito" sobre os contenciosos eleitorais.

Num comunicado à imprensa, a ECC "toma nota dos resultados provisórios publicados pela Comissão Eleitoral. No entanto, ela constata que a aceitação destes resultados não é unânime para todas as partes respeitantes".

Pede também "às jurisdições competentes, garantes da Justiça, que digam de seu direito quanto aos contenciosos eleitorais, com vista a garantir a paz social". A ECC critica ainda "o triunfalismo de uns e o descontentamento de outros", face à publicação dos resultados provisórios. A ECC colocou cerca de dez mil observadores junto das mesas de voto durante as eleições e a Igreja Católica 40 mil.

Já a Igreja Católica, o maior grupo religioso da RDC e extremamente influente, colocou desde o início dúvidas sobre a forma como decorreu o ato eleitoral de 30 de dezembro, e depois quanto aos resultados anunciados.

Apelou ao Conselho Geral da ONU que peça à Comissão Eleitoral "a publicação dos processos verbais" da presidencial, no que foi seguida por várias instâncias internacionais.

"Que se publiquem os processos-verbais, solicita a União Europeia, pedem os Estados Unidos, a União Africana, a região austral", reforçou esta segunda-feira o ministro belga dos Negócios Estrangeiros, Didier Reynders, "porque o que importa é que se possa verificar a correspondência dos números com que as congolesas e os congoleses se exprimiram nas urnas".
Recontagem dos votos
Outras organizações regionais e internacionais têm exigido a recontagem dos votos. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, considera "que uma recontagem permitiria sossegar ao mesmo tempo os vencedores e os derrotados".

No mesmo dia das presidenciais decorreram eleições legislativas, cujos resultados deram uma maioria muito confortável às forças apoiantes do Presidente Kabila.

Caso os resultados provisórios das presidenciais se confirmem, Tshisekedi, de 55 anos, deverá suceder a Joseph Kabila, que ocupou o cargo desde 2001.
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