Plano dos EUA. Zelensky insiste em "trabalhar com EUA e parceiros europeus"

Os Estados Unidos apresentaram à Ucrânia um roteiro preliminar para o fim da guerra com a Rússia que prevê a aceitação de condições há muito exigidas por Moscovo e que Kiev e a União Europeia sempre compararam a uma rendição. Zelensky manifesta disponibilidade para "trabalhar com os EUA e com os parceiros europeus" para alcançar a paz.

Sérgio Alexandre - RTP /
Foto por OZAN KOSE / AFP

A Presidência ucraniana confirmou a receção de um esboço desenhado pelos EUA para o fim da guerra com a Rússia e manifesta-se pronta para "trabalhar construtivamente" com Washington.

"O Presidente ucraniano recebeu oficialmente um plano preliminar dos Estados Unidos que, segundo a avaliação norte-americana, poderá revitalizar a diplomacia", declarou o gabinete presidencial numa mensagem publicada na rede social Telegram.

O mesmo texto refere que Volodymyr Zelensky planeia discutir nos próximos dias “as opções diplomáticas disponíveis e os principais pontos necessários para a paz" com o homólogo norte-americano, Donald Trump. "Estamos prontos para trabalhar construtivamente com os Estados Unidos da América e com os nossos parceiros na Europa e em todo o mundo para alcançar a paz”.

Fontes contactadas pela agência Reuters indicam, sob anonimato, que Washington está a pressionar Zelensky para aceitar os termos enunciados no texto preliminar de 28 pontos, que vários órgãos de informação internacionais revelaram ontem conter a cedência do território ucraniano ocupado ou exigido pela Rússia, bem como a redução das Forças Armadas da Ucrânia para 400 mil efetivos, menos de metade do atual dispositivo militar, e a redução dos arsenais de longo alcance.

São condições há muito exigidas por Moscovo e que Kiev e os seus aliados europeus sempre consideraram análogas a uma capitulação.

A alta representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia insiste em rejeitar qualquer plano que não tenha o acordo da Ucrânia, enquanto país invadido, e a participação europeia, recordando a Washington de que, neste conflito, "há um claro agressor e uma vítima".

Kaja Kallas disse, antes do início de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, em Bruxelas, que o encontro iria debruçar-se sobre as "notícias recentes".

O Reino Unido, outro aliado importante de Kiev, comentou que cabe aos ucranianos decidirem o seu futuro, embora partilhe o desejo do Presidente norte-americano, Donald Trump, em pôr fim à guerra.

“A Rússia poderá fazê-lo amanhã, retirando as suas forças e pondo fim à sua invasão ilegal, mas, em vez disso, Putin continua a enviar uma vaga de mísseis e drones para a Ucrânia, destruindo a vida de ucranianos inocentes, incluindo crianças e idosos”, afirmou um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, citado pelo jornal The Guardian.

A Casa Branca não abordou diretamente a substância do plano preliminar agora revelado, mas o Secretário de Estado, Marco Rubio, escreveu na rede social X que Washington continuará a elaborar uma “lista de potenciais ideias” que resultem no fim da guerra, “com base em contributos de ambos os lados do conflito”, rematando que uma paz duradoura exige às partes envolvidas que façam concessões “difíceis, mas necessárias”.

Por sua vez, o Kremlin respondeu de forma evasiva a notícias que apontam para que a proposta americana tenha sido elaborada com a participação ativa de Moscovo.

Dmitri Peskov, porta-voz da Presidência russa, afirmou aos jornalistas que o questionaram sobre o assunto que "não existem hoje consultas propriamente ditas; os contactos, sem dúvida, existem" e opinou que o novo esboço não traz "nada de novo” em relação ao que foi discutido na cimeira dos líderes dos Estados Unidos e da Rússia, em agosto, no Alasca.

(com agências)
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