Planos de uma igreja da Florida para queimar o Corão provocam alarme

O comandante das forças dos Estados Unidos no Afeganistão avisa que as vidas dos seus soldados ficarão em risco se forem por diante os planos de uma pequena igreja da Florida de queimar publicamente cópias do Corão. O general David Petraeus diz que a acção causará problemas, "não só em Cabul mas em todo o Mundo".

António Carneiro, RTP /

O pastor Terry Jones do "Dove World Outreach Center" em Gainesville, na Florida anunciou a sua intenção de fazer esta semana uma queima pública do livro sagrado dos muçulmanos para assinalar os atentados de 11 de Setembro.

O centro, que se classifica a si próprio como "Uma igreja do Novo Testamento, carismática e independente de outras denominações religiosas", diz que vai levar a cabo esta acção no próximo sábado para assinalar o nono aniversário dos ataques terroristas.

Vidas de soldados em riscoA intenção já provocou críticas e avisos de dois altos comandantes militares no Afeganistão. O general William Caldwell, comandante da missão de treino da NATO disse que os planos da igreja já estavam a provocar a ira dos afegãos.

"É o livro sagrado deles, por isso quando alguém diz que destruir e dessacrar algo que é muito sagrado para eles isso provoca muita discussão e preocupação entre a população" disse o militar.

"Sentimos que isso pode vir a pôr em risco a segurança dos nossos homens e mulheres que estão a prestar serviço aqui" concluiu.

A mesma opinião tem David Petraeus que é actualmente o comandante máximo das forças norte-americanas no Afeganistão. Numa declaração à imprensa, este general disse que a queima do Corão "pode por em risco as tropas" e deitar por terra "todo o esforço" dos Estados Unidos no país.

"É precisamente o tipo de acções que os Talibã usam em seu proveito e pode vir a causar problemas significativos. Não só aqui, mas em todo o mundo estamos empenhados com a comunidade islâmica", disse Petraeus.

Também a embaixada dos EUA em Cabul emitiu uma declaração em que condena os planos da igreja da Florida, dizendo que "os Estados Unidos não aprovam, de forma nenhuma actos de desrespeito contra a religião islâmica e estão muito preocupados com as tentativas deliberadas para ofender membros de grupos étnicos ou religiosos".

"Os americanos de todas as religiões e origens étnicas rejeitam esta iniciativa ofensiva vinda de um pequeno grupo da Florida. Um grande número de americanos está a protestar contra os comentários prejudiciais feitos por esta organização", diz o comunicado.

Igreja da Florida defende a sua posição Em declarações à CNN e ao Wall Street Journal, o pastor Terry Jones reconhece razão às preocupações dos responsáveis militares e políticos, dizendo que "seria trágico se alguém perdesse a vida em resultado da planeada queima do livro santo muçulmano.

Mas, acrescentou o pastor, "temos de enviar uma mensagem clara aos elementos radicais do Islão. Não continuaremos a deixar-nos controlar e dominar pelas suas ameaças e intimidações".

Na página internet desta igreja diz-se que a intenção é expor o Islão como uma religião opressiva e violenta". Na mesma página aparece um dístico em que se pode ler "O Islão do diabo".

Segunda-feira em Cabul, cerca de 500 pessoas manifestaram-se, gritando "longa vida ao Islão" e "morte à América" enquanto incendiavam uma imagem do pastor Terry Jones.

A maior parte dos manifestantes eram estudantes, que se concentraram no exterior da mesquita Milad ul-Nabi, onde prometeram continuar os protestos.

"Apelamos à América para que deixe de dessacrar o sagrado Corão" disse um deles, Wahidullah Nori, à agência Reuters.

Também na Indonésia muçulmanos se manifestaram contra a intenção de queimar o Corão.

A nova controvérsia surge num momento em que se trava nos Estados Unidos um intenso debate em torno dos planos para construir uma mesquita e um centro cultural islâmico a duas ruas de distancia do "Ground Zero" o local onde antes se erguiam as torres gémeas do World Trade Center destruídas nos atentados de 11 de Setembro.

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