PM de Cabo Verde promete "dignidade e representatividade" no centenário de Cabral
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, prometeu hoje "dignidade e representatividade" nas comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, no próximo ano, rejeitando que se façam por decreto.
"O Governo não tem que tomar iniciativa, o Governo estará pronto para fazer com que as comemorações sejam feitas com dignidade e com representatividade", respondeu o chefe do Governo, ao ser questionado, na Praia, pela Lusa.
Em 30 de outubro, a bancada parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD, no poder e liderado por Ulisses Correia e Silva) reprovou uma resolução apresentada pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) para celebrar os 100 anos do nascimento do líder das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde em 12 de setembro de 2024.
A proposta recebeu 32 votos a favor, dos quais 28 do PAICV e quatro da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, também na oposição) e 34 votos conta do MpD.
Nas suas declarações de voto, o deputado e presidente do PAICV, Rui Semedo, disse tratar-se de um "momento triste" na história do parlamento cabo-verdiano, enquanto o líder parlamentar do MpD, Paulo Veiga, explicou que, juridicamente, a resolução é o instrumento errado para o efeito, mostrando que deveria ser através de uma proposta de lei, apresentada pelo Governo.
O primeiro-ministro sublinhou que o parlamento "tem competências" para tomar a suas decisões, e disse não acreditar que um decreto-lei seja o instrumento para aprovar uma resolução do tipo.
"O importante é garantir que a comemoração do centenário de Amílcar Cabral seja feita com dignidade e que possa homenagear essa figura que representa, para Cabo Verde, um referencial da nossa independência muito importante", afirmou.
O `chumbo` no parlamento tem motivado várias reações no país e no estrangeiro, onde a historiadora cabo-verdiana Ângela Coutinho lançou uma petição na Internet para pedir uma cerimónia oficial em Cabo Verde para celebrar no próximo ano o centenário do nascimento de Cabral.
Ângela Coutinho, residente em Lisboa, afirmou que é uma das muitas pessoas que não se reveem na forma como a questão foi debatida e nem na decisão tomada pela plenária da Assembleia Nacional de Cabo Verde.
E disse que no estrangeiro as reações à decisão foram de "choque total e de incompreensão".
A petição, lançada em 09 de novembro para ser entregue na Assembleia Nacional de Cabo Verde, conta hoje com quase 4.000 assinaturas.
No dia a seguir à rejeição da proposta, o Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, disse que o debate no parlamento não foi feliz e pediu "estreita articulação" para elevar essa data.
Já a Fundação Amílcar Cabral (FAC), liderada pelo antigo Presidente da República Pedro Pires e que também está a preparar várias atividades, mostrou-se surpresa com a decisão, e alertou que pode não ser bem entendida a nível internacional.
Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora, o líder histórico nasceu na Guiné-Bissau em 12 de setembro de 1924, partiu para Cabo Verde com oito anos, acompanhando a sua família, onde viveu parte da infância e adolescência.
Posteriormente, foi fundador do então PAIGC, que deu lugar ao PAICV, líder dos movimentos independentistas nos dois países, e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.