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Poeira lunar é menos tóxica que o ar das cidades
Um novo estudo da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) sugere que a poeira lunar, há muito considerada um risco significativo à saúde dos astronautas, pode ser menos prejudicial do que a poluição atmosférica encontrada em áreas urbanas movimentadas do nosso planeta.
A descoberta, publicada na Life Sciences in Space Research, lança uma nova luz e reflexão sobre um dos principais desafios para as futuras missões à Lua: a exposição dos astronautas ao rególito lunar, um pó fino, abrasivo e altamente aderente aos materiais expostos a este composto físico.
“Os resultados contribuem para a questão da segurança do retorno dos humanos à Lua”, afirmou Brian Oliver, professor emérito de Ciências Biológicas da UTS.
“É importante distinguir entre um irritante físico e uma substância altamente tóxica”, explicou Smith. “A poeira lunar pode causar irritação imediata, mas não parece representar um risco significativo de doenças pulmonares crónicas, como a silicose causada pela poeira de sílica.”
Enquanto a ciência aponta para uma menor toxicidade da poeira lunar, a NASA continua a avançar no desenvolvimento de tecnologias para lidar com os estes efeitos físicos nos equipamentos.
Um dos projetos mais promissores, o Escudo Eletrodinâmico de Poeira (EDS), deu como bem-sucedido um teste, na superfície lunar, a bordo do módulo Blue Ghost, da empresa privada Firefly Aerospace. O pouso ocorreu em 2 de março de 2025 e o teste do escudo foi finalizado em 16 de março.
O EDS utiliza campos elétricos gerados por eletrodos para repelir o pó lunar de superfícies como fatos espaciais, painéis solares, lentes de câmaras e visores de capacetes. A tecnologia foi desenvolvida no Centro Espacial Kennedy, com base em conceitos da década de 1960.
“Este marco representa um passo significativo para sustentar operações lunares de longo prazo, reduzindo os riscos causados pela poeira em diferentes superfícies”, afirmou a NASA em comunicado.
Antes de ser testado na Lua, o escudo passou por ensaios em câmaras de vácuo na Terra com amostras da missão Apollo, além de ter sido avaliado a bordo da Estação Espacial Internacional, durante a missão MISSE-11, em 2019.
A combinação entre novas evidências científicas sobre os riscos da poeira lunar e o desenvolvimento de tecnologias como o EDS oferece um cenário mais seguro para o retorno de missões tripuladas ao satélite natural da Terra.
“Os resultados contribuem para a questão da segurança do retorno dos humanos à Lua”, afirmou Brian Oliver, professor emérito de Ciências Biológicas da UTS.
As preocupações com a toxicidade da poeira lunar remontam às missões Apollo. A poeira, carregada eletrostaticamente, que se agarrou aos trajes dos astronautas, acabou por se misturar com o ar respirável dentro dos módulos lunares, causando sintomas como irritação nos olhos, espirros e dor de garganta. Uma reação que o astronauta Harrison Schmitt e Gene Cernan, da Apollo 17, descreveu como uma “febre do feno lunar”.
Fotos dos astronautas da Apollo 17, Eugene A. Cernan (Esq.) e Harrison H. "Jack" Schmitt (Dir.) após o regresso ao Módulo Lunar Challenger depois da terceira e última saída à superfície lunar, onde se pode ver os fatos cheios de pó lunar. Créditos: NASA
Inclusivamente, técnicos da NASA também relataram desconfortos ao manusearem os trajes contaminados após o seu regresso à Terra — sintomas que se agravavam após cada missão, sugerindo efeitos cumulativos.
Imagem do astronauta Gene Cernan na superfície lunar durante a missão Apollo 17, onde se pode ver o fato espacial cheio de poeira lunar. A substância cinzenta agarrou-se ao tecido e foi transportado desta forma para dentro do módulo lunar, causando irritação nos olhos, nariz e garganta, apelidada de "febre do feno lunar". Crédito: NASA
Contudo, segundo a investigadora Michaela Smith, do Grupo de Pesquisa Respiratória da UTS, apesar do formato irregular e potencialmente irritante das partículas lunares, os testes mostram que os seus efeitos são significativamente menores do que os provocados pela poluição do ar urbano.
A notícia é recebida com otimismo pela NASA, que se prepara para a missão Artemis 3 - o primeiro regresso humano à superfície lunar desde 1972. Embora a agência continue a desenvolver estratégias para minimizar a exposição à poeira, como a entrada e saída dos astronautas dos fatos espaciais por câmaras de descompressão, as conclusões do estudo australiano podem simplificar os protocolos de segurança.
A poeira lunar, o tipo mais fino de solo lunar, tem composição semelhante às rochas de lava da Terra. Ela se forma quando micrometeoritos colidem com a Lua. Um impacto que liberta energia suficiente e que derreter as rochas da superfície, transformando-as numa substância semelhante ao vidro, que arrefece e se transforma em pequenas partículas. Crédito foto: Canaltech/NASA
Poeiras (lunares) dificeis de limpar e lidar
Desde o primeiro pouso na Lua, em julho de 1969, a poeira lunar apresentou-se sempre como um desafio maior para investigadores e ciêntistas. Conforme relatado pelos especialistas do Glenn Research Center da NASA, esta poeira é composta por partículas de até 20 μm (0,02 milimetros), extremamente abrasivas, semelhantes a fragmentos de vidro, com forte aderencia a tudo o que é exposto, devido à carga eletrostática causada pela radiação solar.
E continuam a ser vários os desafios observados durante as missões Apollo e que agora voltam à atenção desta ameaça nas futuras missões lunares (Artemis).
Nos casos relatados das missões Apollo esta poeira infiltrou-se nos moduladores, bloqueou mecanismos, danificou roupas espaciais e podia até levar ao superaquecimento de radiadores. Algo que se pode tornar complicado em futuros planos de exploração lunar e marciana, onde a permanência será mais prolongada, sendo que estas complicações podem tornam-se críticas.
Por cá (Terra), a erosão natural alisa as partículas de poeira, mas na Lua, onde não há vento nem água, sendo que a poeira permanece afiadas e perigosas. Além disso a gravidade mais fraca e a carga elétrica fazem com que a poeira levite e facilmente e se agarre aos equipamentos, roupas e eventualmente seja fácil de entrar dentro de futuros habitats .
Para enfrentar essas ameaças, a NASA lançou a Lunar Surface Innovation Initiative (LSII), em 2019, com o objetivo de desenvolver tecnologias capazes de mitigar a poeira lunar.
Por cá (Terra), a erosão natural alisa as partículas de poeira, mas na Lua, onde não há vento nem água, sendo que a poeira permanece afiadas e perigosas. Além disso a gravidade mais fraca e a carga elétrica fazem com que a poeira levite e facilmente e se agarre aos equipamentos, roupas e eventualmente seja fácil de entrar dentro de futuros habitats .
Para enfrentar essas ameaças, a NASA lançou a Lunar Surface Innovation Initiative (LSII), em 2019, com o objetivo de desenvolver tecnologias capazes de mitigar a poeira lunar.
A iniciativa abrange soluções ativas e passivas, desde revestimentos até sistemas de filtragem. O objetivo é aplicá-las nas missões Artemis e, posteriormente, em viagens a Marte.
NASA testa com sucesso escudo elétrico contra poeira lunarEnquanto a ciência aponta para uma menor toxicidade da poeira lunar, a NASA continua a avançar no desenvolvimento de tecnologias para lidar com os estes efeitos físicos nos equipamentos.
Um dos projetos mais promissores, o Escudo Eletrodinâmico de Poeira (EDS), deu como bem-sucedido um teste, na superfície lunar, a bordo do módulo Blue Ghost, da empresa privada Firefly Aerospace. O pouso ocorreu em 2 de março de 2025 e o teste do escudo foi finalizado em 16 de março.
O EDS utiliza campos elétricos gerados por eletrodos para repelir o pó lunar de superfícies como fatos espaciais, painéis solares, lentes de câmaras e visores de capacetes. A tecnologia foi desenvolvida no Centro Espacial Kennedy, com base em conceitos da década de 1960.
“Este marco representa um passo significativo para sustentar operações lunares de longo prazo, reduzindo os riscos causados pela poeira em diferentes superfícies”, afirmou a NASA em comunicado.
Antes de ser testado na Lua, o escudo passou por ensaios em câmaras de vácuo na Terra com amostras da missão Apollo, além de ter sido avaliado a bordo da Estação Espacial Internacional, durante a missão MISSE-11, em 2019.
A combinação entre novas evidências científicas sobre os riscos da poeira lunar e o desenvolvimento de tecnologias como o EDS oferece um cenário mais seguro para o retorno de missões tripuladas ao satélite natural da Terra.