Polícia espanhola mantém dispositivo em Torre Pacheco apesar de aparente normalidade

As forças de segurança espanholas vão manter um dispositivo especial em Torre Pacheco, para onde têm sido convocadas manifestações anti-imigração, apesar de um aparente regresso à normalidade na localidade, anunciou hoje o Governo.

Lusa /

"O dia de ontem [quarta-feira] foi de total calma e tranquilidade. Não houve nenhum tipo de incidente nem mobilizações. Pensamos que a localidade de Torre Pacheco está já a recuperar a sua normalidade, a sua paz e a sua convivência", disse a delegada do Governo de Espanha na região autónoma de Múrcia, Mariola Guevara.

Apesar disso, vão manter-se em Torre Pacheco todos os meios mobilizados nos últimos dias, "para qualquer outro cenário que passa surgir", acrescentou Mariola Guevara, num vídeo enviado a meios de comunicação social espanhóis.

A representante do Governo espanhol em Múrcia agradeceu ainda a todos os habitantes de Torre Pacheco, "sem distinção", o "comportamento exemplar" nos últimos dias.

As forças de segurança espanholas, incluindo unidades antidistúrbios, mantêm um dispositivo de mais de 100 elementos em Torre Pacheco, com controlos nos acessos à localidade, para prevenir novos distúrbios e incidentes com grupos de extrema-direita, que responderam desde sábado a um apelo na Internet de "caçada" a imigrantes neste local do sul de Espanha.

Vivem em Torre Pacheco cerca de 40 mil pessoas, 30% das quais imigrantes ou de origem estrangeira, segundo as autoridades.

Os distúrbios e o apelo "à caçada" surgiram depois de um homem de 68 anos, habitante da localidade, ter sido agredido por jovens sem razão aparente, contou a própria vítima, na quinta-feira passada, a meios de comunicação social.

Em declarações hoje ao jornal El Pais, o homem agredido lamentou o aproveitamento que fizeram do seu caso grupos extremistas que nada têm a ver com a localidade e condenou o apelo de violência contra toda a comunidade local.

"Delinquentes há de todas as cores", disse a vítima ao jornal.

Segundo a Delegação do Governo de Espanha em Múrcia, foram identificadas desde sábado mais de 300 pessoas em Torre Pacheco e 14 foram detidas pela polícia.

"Detetámos [na Internet] a organização de uma chamada `caçada` [a imigrantes] para os dias 15, 16 e 17, o que permitiu antecipar um dispositivo policial de prevenção que conteve a situação", disse, na segunda-feira, Mariola Guevara.

Entre os detidos estão os três suspeitos de estarem relacionados com a agressão ao homem de 68 anos que desencadeou os apelos racistas na Internet.

Outro dos detidos, um homem de 28 anos, é o autor das mensagens nas redes sociais Telegram e Instagram que apelaram para "uma caçada" a imigrantes em Torre Pacheco.

Este homem, líder em Espanha do grupo "Deport them now" ("Deportem-nos já") é suspeito de crimes de incitação ao ódio, pertença a associação ilícita para cometer delitos discriminatórios e posse ilegal de armas, segundo um comunicado do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC), região onde reside e foi detido.

O Ministério de Administração Interna (MAI) de Espanha disse que vai enviar às forças de segurança diretrizes para que as investigações de crimes de ódio, grupos racistas e xenófobos ligados à extrema-direita sejam prioritárias.

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