Polícia usa gás lacrimogéneo para dispersar motoristas de "boleia paga" em Maputo
A polícia moçambicana disparou esta terça-feira gás lacrimogéneo para dispersar um grupo de motoristas de "boleia paga" na cidade de Maputo, que protestavam contra o bloqueio dos seus carros, a poucos metros da Presidência de Moçambique.
"A polícia camarária chegou aqui de forma verbal a dizer para nos retiramos desse local e agressiva. No entanto, nós entendemos que não é dessa forma que se tratam as coisas. Não recebemos nenhuma notificação, nós é que estamos com o processo a correr no sentido da legalização da nossa praça", disse à comunicação social Eugénio Mathe, um dos condutores.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram os carros, estacionados ao longo da avenida Julius Nyerere, próximo à Presidência moçambicana, bloqueados e sendo rebocados pela polícia municipal que, segundo os motoristas, proibia o estacionamento naquele local e o exercício da atividade.
Os motoristas contestaram a medida, recusando-se a retirar os carros do local, abandonando alguns veículos.
"Nós não temos como sair daqui, é aqui onde nós ganhamos o nosso pão. Acho que talvez teremos de lutar com eles à procura de pão porque irmos à rua para roubar não é coisa certa", disse outro motorista, para quem não se justifica a violência da polícia, tendo as suas declarações sido interrompidas devido à chegada do contingente policial, que logo de seguida disparou gás lacrimogéneo.
A polícia também deteve pelo menos uma pessoa, segundo relatos no local.
A Lusa contactou a Polícia da República de Moçambique (PRM) para esclarecimentos, a qual remeteu informações para mais tarde.
A cidade de Maputo regista nos últimos cinco anos um fenómeno de alargamento de meios alternativos de transporte público, como é o caso de "boleias pagas".
Estacionados em alguns pontos da capital moçambicana, operando entre a manhã e o final da noite, as "boleias pagas" surgiram no período da pandemia da covid-19, no ano de 2019, devido às restrições de então.
Os motoristas de "boleia paga" admitem que a atividade ainda é ilegal, mas referem que o caso passou do conselho municipal para a procuradoria, que, por sua vez, autorizou a continuidade dos serviços, enquanto se formaliza a associação do grupo.
"A procuradoria veio aqui viver o assunto e submetemos lá um documento e ele disse continuem a trabalhar enquanto se está a organizar a documentação. Neste momento estamos a trabalhar e não podemos parar, à razão disso temos essas viaturas, emprestamos dinheiro nos bancos (...) e não podemos interromper a atividade, vamos negociar enquanto estamos a trabalhar", disse Salomão Nhaca, um dos motoristas.
O homem pede que as autoridades moçambicanas os deixem operar ou que identifiquem outro ponto de paragem ao longo da mesma avenida, que é onde estão os clientes da "boleia paga".
"O que nós estamos a ver neste país é que para eles acomodarem as ideias deles ou os planos deles mudam as leis, porque é que não podem mudar a lei para nós aqui da `boleia paga`", questionou Salomão, enquanto se ouvia ao fundo a sirene do contingente policial aproximando-se do local.
O setor de transportes em Moçambique é um dos mais deficitários ao nível dos serviços públicos, principalmente o transporte rodoviário.
A crise de meios desencadeou o recurso a veículos de caixa aberta privados, popularmente conhecidos por `My Love`, dada a proximidade física com que os passageiros viajam na caixa de carga de mercadorias e a necessidade de, por vezes, se abraçarem para não caírem à estrada.