Polícias internacionais em Timor-Leste querem coordenação mas sem comando único

As forças policiais portuguesas, australianas e malaias em Timor-Leste poderão criar uma estrutura de coordenação, mas actuarão sem um comando único, disseram hoje à Agência Lusa, em Díli, fontes ligadas ao processo.

Agência LUSA /

A questão foi debatida por responsáveis da GNR, da Polícia Federal australiana e da polícia da Malásia, que nas últimas 48 horas intensificaram negociações em Díli para definir a forma e o método de actuação das respectivas forças.

Fontes daquelas polícias disseram à agência Lusa que há uma aproximação de posições no intuito de definir a estrutura em que as três forças actuarão.

A estrutura de coordenação a criar integraria oficiais de ligação das forças policiais dos três países, mas sem que "qualquer um deles assuma o comando geral", disse à Lusa fonte da GNR.

"Essa estrutura determinaria a melhor disposição das forças no terreno, aproveitaria os recursos e as especialidades de cada força, reportando ao ministro do Interior e, posteriormente e com base nos acordos com as autoridades timorenses, ao primeiro-ministro e Presidente da República", explicou a mesma fonte.

Este foi já o tema central de uma reunião hoje, em Díli, entre os diplomatas dos três países, responsáveis pelas respectivas forças de polícia e o ministro da Defesa, José Ramos-Horta, descrita por fontes contactadas pela Lusa como "bastante positiva".

Determinantes para a concretização deste modelo serão duas reuniões agendadas para terça-feira, uma primeira "mais técnica" com os responsáveis pelas forças e outra, "mais política", com o recém-empossado ministro do Interior, Alcino Baris.

Além dos 120 efectivos da GNR que chegaram domingo a Timor-Leste, encontram-se no país cerca de 70 polícias australianos e mais de 200 da Malásia.

Esse número poderá aumentar significativamente, nomeadamente do lado da Austrália, que já planeou o envio de mais agentes policiais.

A presença destas forças de polícia em Timor-Leste resultou de um pedido das autoridades timorenses para pôr termo à onda de violência que afecta sobre tudo Díli desde há mais de um mês, e que já provocou mais de duas dezenas de pessoas e centenas de feridos.

A força internacional inclui também mais de 2.000 militares australianos, neozelandeses e malaios.

O sucesso das negociações sobre a actuação das forças de polícia depende, em grande parte, de um recuo da parte australiana, que pretendia, segundo confirmaram à Lusa fontes policiais daquele país, assumir o papel de comando de uma nidade de gestão da acção policial dos três países.

Ao nível militar, um responsável máximo australiano comanda as suas tropas bem como as da Nova Zelândia e da Malásia.

O texto do acordo assinado entre Camberra e Díli para o envio de militares e polícias daquele país alude a uma estrutura de comando militar chefiada por um "comandante da força" e uma estrutura policial chefiada por um "comissário de polícia", ambos australianos.

As autoridades australianas argumentam que o comando, e à semelhança do que tem ocorrido em situações idênticas noutros países, deve ficar "nas mãos de quem fez o maior investimento".

Contactado pela Lusa, o comandante do contingente policial australiano em Timor-Leste, Steve Lancaster, recusou-se a tecer qualquer comentário sobre as negociações, bem como no que toca ao número de agentes já no terreno.

"Falaremos no momento certo, e este não é o momento", afirmou, limitando-se apenas a explicar que "se está numa fase de avaliação" da situação.

Portugal, primeiro, e posteriormente a Malásia, terão já feito saber que não defendem a opção australiana, apostando em vez disso numa "unidade de coordenação com oficiais de ligação das três forças".

Ainda que militarmente a Malásia aceite o comando australiano, no caso policial Kuala Lumpur "aproxima-se da posição da GNR", preferindo uma "coordenação" e não uma estrutura de comando "piramidal", com "um australiano à cabeça", disse um responsável malaio.

Responsáveis da GNR no terreno disseram à Lusa que essa opção é a mais "correcta", até porque as forças dos três países se complementam, mantendo competências e responsabilidades distintas.

No caso do contingente australiano, a maioria dos efectivos policiais é da área da investigação criminal, os da Malásia de cariz de "policiamento civil e de rua" e, no caso da GNR, de intervenção rápida.

A concretizar-se, a estrutura conjunta de coordenação poderá mais tarde vir a englobar também uma eventual força policial neozelandesa.

Fonte diplomática neozelandesa disse à Lusa que uma equipa policial de Auckland chega terça-feira a Díli para analisar um eventual envio de efectivos, uma decisão que será tomada apenas depois de contactos com as autoridades timorenses.

Seja como for, a fonte garantiu que a confirmar-se o envio, os polícias neozelandeses seriam "comunitários" e estariam desarmados, "como aliás actuam na própria Nova Zelândia".

Ainda que o modelo de actuação não esteja definido, a GNR começou já a actuar em Díli ao abrigo do acordo assinado por Portugal e Timor-Leste, para já de forma limitada com patrulhas na cidade.

A actuação será consolidada nos próximas dias quando chegarem ao país as viaturas e o restante equipamento e, posteriormente, após a instalação no quartel, que funcionará no Centro de Estudos Aduaneiros, no bairro de Caicoli, centro de Díli.

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