Portugal incluído. Google alarga previsão de inundações a 80 países

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Google

A Google está a expandir uma ferramenta digital, com base na Inteligência Artificial (IA), para a previsão de inundações - Flood Hub. Uma ferramenta que se vai aplicar a 80 países, entre os quais Portugal, disponibilizando uma "previsão" de eventuais inundações com sete dias de antecedência.

Estima-se que as inundações afetem anualmente mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e tenham um impacto económico em torno dos dez mil milhões de dólares.

De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, "desde 2000 as inundações na Europa causaram pelo menos 700 mortes, a deslocação de cerca de meio milhão de pessoas e pelo menos 25 mil milhões de euros de prejuízos económicos".

Dados que levaram à criação de uma estratégia para a gestão dos riscos de inundações, no âmbito da Diretiva 2007/60/CE.

Esta diretiva foca-se na identificação das áreas de risco de inundação, na cartografia de áreas inundáveis de risco de inundações e, por último, nos Planos de Gestão dos Riscos de Inundações (PGRI).

Desta forma pretende-se aumentar a resistência da sociedade, com a redução dos danos para a saúde humana (incluindo perdas de vidas), o ambiente, o património cultural, as infraestruturas e as atividades económicas, com a implementação de medidas.

Medidas que podem ser ainda mais eficazes com a introdução de novas ferramentas, incluindo a IA na previsão de fenómenos naturais extremos.
Inteligência Artificial ao serviço da prevenção
Diariamente, surgem notícias da aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial como auxiliares, complementares e até solucionadores de questões sociais e laborais. Mas estes mecanismos agregam muitas outras valências na combinação de dados quantificativos.

Foi precisamente no campo da sobreposição de dados territóriais que a Google desenvolveu a plataforma Flood Hub.

Um ferramenta de previsão de inundações que conta já com a simulação para 80 países, tendo sido recentemente incluídos 60 novos países de África, Ásia-Pacífico, Europa e América do Sul e Central.


A plataforma digital Flood Hub conta assim com territórios com as maiores percentagens de população exposta ao risco de inundação e a climas mais extremos, abrangendo mais de 460 milhões de pessoas em todo o mundo.

A IA do Flood Hub recorre a diversas fontes de dados, disponíveis publicamente, como previsões do tempo e imagens de satélite. Material que é recolhido em permanência pela IA e que esta tecnologia combina com outros dois modelos: o Modelo Hidrológico, que prevê a quantidade de água que corre num rio, com o Modelo de Inundação, que prevê quais as áreas que serão afetadas e qual o nível da água.Como funciona o Flood Hub
A plataforma Flood Hub é uma aplicação de acesso fácil e intuitiva à qual que é possível aceder através de um smartphone. Esta ferramenta fornece uma previsão de cheias junto a leitos fluviais com sete dias de antecedência, a partir de projeções matemáticas meteorológicas, marés e bacias hidrográficas.

A aplicação tem já dados relativos a mais de 80 países em todo o planeta e dá conta ao cidadão comum das previsões de inundação para os locais onde reside, principalmente se localizados junto a cursos de água com elevada volumetria e bacias hidrográficas.

Ao aceder a esta aplicação, o utilizador fica a conhecer as previsões dos níveis de água estimados para região escolhida, indicando ainda os níveis de gravidade dos mesmos.



Usar a IA para ajudar na preparação para inundações
Este projeto começou em 2018, quando se estudou as previsões de inundações na Índia, seguindo-se o projeto para o Bangladesh, tendo em vista ajudar a combater os danos catastróficos das inundações anuais.

Perante os avanços dos modelos globais, com base na cartografia, hidrografia, espectrometria via satélite, previsões matemáticas meteorológicas, entre outros, ao qual se junta a previsão IA e aprendizagem do próprio sistema, a Google, em 2022, aplicou e ampliou esta tecnologia a mais 18 países, abrindo assim caminho para a atual expansão global.

Com esta abertura, o Flood Hub faz agora parte de um trabalho de “Resposta a Crises” de acesso global e gratuito, disponibilizando à população acesso a informações e recursos confiáveis em momentos críticos, não só nas questões das inundações, mas também fenómenos ligados a incêndios florestais e terramotos, auxiliando a população mais informada e consequentemente mais consciente dos perigos, prevenindo-as e estabelecendo padrões de segurança.

De acordo com a Google, este sistema serve também para ajudar a apoiar comunidades vulneráveis a inundações e que, de alguma forma, não tenham acesso a um smartphone ou internet, constribuindo e colaborando a Google.org com organizações como a Federação das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a Sociedade da Cruz Vermelha Indiana e a equipa de Economia de Inclusão da Universidade de Yale, na criação de redes de alerta offline com voluntários da comunidade treinados, incentivados e confiáveis para ampliar o alcance dos avisos do Flood Hub.

Exemplo destas parceria e dinâmica são os mais recentes resultados da equipa de Yale e da organização sem fins lucrativos local Yuganter, que descobriram que as comunidades onde se fazem representar estes voluntários locais apresentavam 50 por cento mais probabilidades de receberem alertas antes da água chegar à sua área. Fator que pode fazer a diferença entre a vida e a morte.



Inundações em território português
Qualquer território está vulnerável a fenómenos extremos e Portugal não é exeção.

Fenómenos climáticos como longos períodos sem chover, ventos fortes, trovoadas, incêndios, ou mesmo inundações, estão a tornar-se cada vez mais recorrentes devido às alterações climáticas. E o território português tem registado factores meteorológicos anormais para a época.

Exemplo disto mesmo é o facto de o mês de abril ter sido um dos mais secos e quentes desde 1931, como refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera no resumo mensal de abril.

Se abril não correspondeu a “águas mil”, o mês de maio também destoa do normal, com instabilidade climatérica, muita trovoada, temperaturas abaixo do normal, granizo e aguaceiros fortes e pontuais, dando origem a algumas inundações.

Neste sentido, Portugal tem em funcionamento um instrumento de gestão dos riscos de inundação com base na Diretiva 2007/60/CE, que define a elaboração de Planos de Gestão dos Riscos de Inundação (PGRI), para ciclos de seis anos, centrados na prevenção, proteção, preparação e previsão destes fenómenos, em estreita articulação com os planos de gestão das regiões hidrográficas.

Conheça aqui as zonas identificadas de Risco de inundação pela APA e SNIAmb (Sistema nacional de Informação de ambiente).


Assim, a estratégia para a gestão dos riscos de inundações passa pelas seguintes medidas:
Preparação e desenvolvimento de sistemas de previsão e alerta, planeamento de emergências e ações de sensibilização pública.
Prevenção associada às políticas de ordenamento e utilização do solo (incluindo a sua fiscalização) e da relocalização de infraestruturas.
Proteção que compreende soluções estruturais e não estruturais que visam a diminuição do caudal ou da altura de escoamento.
Recuperação e Aprendizagem associadas ao restabelecimento da normalidade (rede hidrográfica e sociedade) após a ocorrência de inundações e à avaliação de modo a melhorar as práticas futuras (lições aprendidas).

Os fenómenos climáticos são conhecidos e há medidas preventivas. Mas nunca será demais a criação de sistemas que alertem, ajudem e minimizem custos adicionais com prejuízos para a economia e impactos na sociedade nacional e global.
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