Portugal quer Defesa europeia "a 360 graus" com atenção ao flanco oeste

Portugal quer uma Defesa europeia "a 360 graus", incluindo o flanco oeste, quando a União Europeia (UE) se foca em proteger o flanco leste da ameaça russa, defendeu esta terça-feira no parlamento a secretária de Estado dos Assuntos Europeus.

Lusa /
Tom Little - Reuters

"Sem descurar da preocupação com o flanco leste, Portugal tem estado de forma muito determinada a indicar que também temos áreas onde é importante reforçar a Defesa", referiu Inês Domingos, durante uma audição na comissão parlamentar de Assuntos Europeus, antecipando a cimeira informal da UE, que decorre na quarta-feira na Dinamarca.

O Governo português, referiu, "defende uma ideia de Defesa de 360 graus, incluindo o flanco oeste", apontando que Portugal tem cabos submarinos e é "um Estado-membro que é fronteira".

Dez países europeus do flanco leste do bloco europeu vão avançar com um muro contra drones, um sistema de defesa aérea para detetar e reagir à entrada irregular destas aeronaves pilotadas remotamente, e que pode ser alargado ao resto do território.

A decisão surge em consequência da violação do espaço aéreo da Polónia e Roménia por drones russos, bem como por suspeitas na Alemanha, além da aproximação de caças russos à Estónia e Lituânia.

A Dinamarca foi alvo, na semana passada, de um ataque híbrido, tendo-se registado vários sobrevoos de aeroportos --- o de Copenhaga, o maior do norte da Europa, chegou a estar encerrado durante várias horas --- e de bases militares por drones de origem não identificada.

Inês Domingos reiterou a condenação veemente do Governo português a estas incursões, que deputados do PSD e da Iniciativa Liberal consideraram ser tentativas russas de "testar a coesão da NATO".

"Estamos numa situação de alerta, em que temos de estar preparados", considerou a secretária de Estado.

Questionada pelo PSD sobre o equilíbrio entre o investimento da Defesa no âmbito da União Europeia e as responsabilidades sociais do Estado, a governante afastou preocupações.

"A preocupação do Governo com a coesão social e territorial, as políticas de desenvolvimento económico, não será prejudicada pelo esforço adicional para reforçar a defesa e segurança", referiu Inês Domingos.

Para a responsável, esta é uma "preocupação compreensível mas que será ultrapassada".

"O objetivo do Governo e dos restantes Estados-membros é que este esforço adicional beneficie a indústria com resultados concretos em termos de economia e de emprego", salientou, apontando a oportunidade que representa a liderança portuguesa no fabrico de drones.

Por outro lado, respondendo ao PS, a governante também defendeu que "um esforço conjunto" dos Estados-membros da UE em termos de defesa permitirá "uma maior racionalidade e reduzir custos", negando antecipar dificuldades com a NATO, antes pelo contrário: "Até nos facilita o diálogo com os outros Estados" da organização atlântica.

Durante a audição, o deputado do Chega Pedro Correia criticou a "fraqueza da Europa ao reconhecer o Estado da Palestina com zero resultados práticos" -- Portugal e outros países da UE, além de Reino Unido, Canadá e Austrália deram esse passo na semana passada.

"Tenho pena que o Governo tenha feito mau uso do seu `soft power` e tenha ficado do lado dos fracos, em troca de um fraco lugar como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas", disse, referindo-se à candidatura de Portugal àquele órgão no biénio 2027/2028.

Inês Domingos considerou esta posição "pouco razoável".

"O reconhecimento resulta de vários fatores (...), como a situação atual em que se encontram Israel e Palestina, a perspetiva de não intervenção do Hamas, o reforço da Autoridade Palestiniana e perdas elevadas de vidas. Não há outros motivos para este reconhecimento, quero deixar muito claro", salientou.

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