Portugal Space quer atrair investidores para colocação de carga em órbita

por Nuno Patrício - RTP

A Portugal Space está a organizar um "workshop" com o objetivo de atrair empresas e organizações científicas para uso comercial do futuro veículo orbital da ESA - Agência Espacial Europeia. A ideia é ganhar vantagens competitivas neste mercado cada vez mais ocupado por empresa privadas de países não europeus.

Colocar material no espaço é cada vez mais uma necessidade nas indústrias de telecomunicações, orientação global, geoestratégia, financeira, pesquisa médica e farmacêutica, entre outras, para não falar no futuro mercado que visa o turismo espacial e a exploração.

Com a evolução neste sector e uma maior oferta e menores custos com a introdução dos sistemas de reutilização e maior suporte de carga dos transportadores privados, o tradicional mercado europeu, fornecido pela ESA através dos seus lançadores Ariane, começa a sentir um ligeiro declínio na procura dos serviços.

Ainda com uma sustentação muito assente, desde 1996, no único lançador Ariane 5, a Agência Espacial Europeia enfrenta agora forte concorrência e, mesmo com o projeto para um novo lançador em curso (Ariane 6), previsto para entrar em funcionamento este ano e ainda sem provas de completo sucesso, a modalidade e custo de utilização deste novo foguete vão ficar aquém dos já oferecidos, por exemplo, pela SpaceX, com os modelos SpaceX Falcon e Falcon Heavy.

Foto: ESA/DR

Mas a Agência Espacial Europeia não quer ficar por aqui e está já a promover um novo veículo espacial, reutilizável, de nome Space Rider.

Uma tendência que o mercado europeu quer inverter, promovendo desde já um novo projeto com vista à atratividade. É aqui que a parceria portuguesa entra em campo.
"Da ciência aos negócios"
Mostrar, dar a conhecer as potencialidades e as vantagens competitivas do mercado espacial, utilizado a tecnologia europeia é o intuito do workshop promovido pela Portugal Space (Espaço Portugal).

Sob o lema “Da ciência aos negócios – como lucrar com cargas úteis em transportadores espaciais reutilizáveis”, este workshop visa cativar os novos mercados e, perante o forte marketing da concorrência, dizer que não se está de braços cruzados neste campo.

Em novembro último, a Space Portugal juntou um conjunto de especialistas de renome internacional para discutir o potencial do espaço na indústria da microgravidade, no campo do desenvolvimento farmacêutico e médico.

Foto: ESA/DR

Os muitos oradores vieram de vários quadrantes, nomeadamente da Virgin Galactic, MIT Portugal, Agência Espacial Europeia (ESA) e Space Pharma, entre outros.

Neste simpósio, além de criar consciência nas capacidades de espaço de pesquisa e desenvolvimento, a Agência Espacial Portuguesa também destacou a importância da Space Rider, o futuro veículo orbital reutilizável da ESA, planeado para ser lançado em 2023 e utilizado numa variedade de aplicações, incluindo experiências científicas em microgravidade , dados os níveis excecionalmente baixos de gravidade que vai fornecer.

Um encontro que dá origem agora a um workshop, que terá lugar no dia 3 de fevereiro, às 10h30 WET/UTC , totalmente gratuito, mas com a obrigatoriedade de uma inscrição.

Este evento realiza-se num momento em que a ESA se prepara para intensificar os contatos com potenciais clientes, partilhando pormenores técnicos do alojamento para cargas úteis no voo inaugural da Space Rider.

Portugal, país impulsionador

Apesar de Portugal ainda ser visto pelo comum cidadão como algo arredado das lides espaciais, o país é um dos dez Estados-membros que subscreveu o programa Space Rider durante o Space19 +, conselho ministerial da ESA que teve lugar em novembro de 2019.

A ESA definiu a Ilha de Santa Maria, nos Açores, como potencial local de aterragem, bem como a utilização de instalações de processamento pós-poiso do veículo reutilizável, que fornecerá às empresas não espaciais uma nova alternativa nesta arena espacial.

Foto: ESA - Base de rastreio em Santa Maria. Açores

“Para as empresas portuguesas, Space Rider será uma excelente solução para uma maior acessibilidade e facilidade no acesso ao espaço”, diz Joan Alabart , representante nas relações industriais e projetos oficiais na Espaço Portugal, salientando que a Agência Espacial Portuguesa quer “encorajar as entidades nacionais, organizações industriais e de investigação, para participar na exploração científica e tecnológica das oportunidades da carga útil do novo veículo reutilizavel Space Rider ”.

Neste workshop, programado para o início de fevereiro, os especialistas da Agência Espacial Europeia irão abordar os aspetos técnicos e operacionais das cargas no Space Rider, bem como o estado atual do projeto e o processo de seleção da carga, em que a Agência Espacial Portuguesa vai procurar envolver entidades nacionais, não só para a carga, mas também para outros fins, como por exemplo a possibilidade de um envolvimento mais profundo na conceção de um laboratório Space Rider.


“Idealmente, isto implicaria que uma entidade nacional pudesse definir os padrões para futuras experiências comerciais que seriam vendidas e utilizadas por terceiros a bordo do veículo”, afirma Manuel Wilhelm, diretor de Relações Industriais e Projetos do Espaço Portugal , destacando a possibilidade de ter uma entidade nacional “sendo este sistema um sub-agregador em voos futuros”.

A Agência Espacial Portuguesa está empenhada no projeto Space Rider não só como uma oportunidade para que a indústria e a comunidade científica assumam uma posição de liderança, mas também porque a ESA escolheu os Açores como um dos futuros locais de operações do Space Rider.

“Tendo em conta o empenho nacional neste projeto, seria extraordinário se pudéssemos ter uma carga útil portuguesa no voo inaugural do Space Rider, mas sobretudo se pudéssemos garantir uma participação sustentável das entidades nacionais em futuras cargas/ voos” , afirma Manuel Wilhelm.

A ESA será representada por Fabio Caramelli, VEGA Produção e futuras missões Project Manager, que dará mais detalhes sobre o processo de seleção de carga útil, ou seja, condições de contorno, o método de aplicação, política de preços/ custos e cronograma.

O workshop também tratará de questões relacionadas com os campos de aplicação e o status do projeto.
O que é o Space Rider
O Space Rider é um laboratório robótico, não tripulado, do tamanho de um autocarro (1200 litros) que pode ser utilizado para transporte de carga para órbita terrestre, mas também tem o complemento de transporte e uso de tecnologias que beneficiam pesquisas nas áreas de farmacêutica, biomedicina, biologia e ciências físicas.

Este novo sistema de carga e transporte espacial será lançado através de um foguete Vega-C, que o levará até uma órbita ate dois mil quilómetros (orbita baixa terrestre).


Após o lançamento no Vega-C, o Space Rider permanecerá no espaço por cerca de dois meses e efetuará experiências autónomas, pré-programadas ou instruídas da Terra no compartimento de carga. No final da missão, retornará à Terra com as cargas úteis e pousará tal como um avião numa pista, onde será descarregado, revisto e reequipado para um outro voo.

Entre as várias possibilidades inerentes a este tipo de veículo, inclui-se a experimentação científica em microgravidade para farmácia e biologia, mas o veículo pode potencialmente ser usado para demonstração e validação de uma variedade de tecnologias com diversas aplicações em órbita, assim como a robótica de exploração, instrumentação para observação da Terra, vigilância para monitorização de desastres terrestres e inspeção de satélites.
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