"Potencial investigação de terrorismo" em Boston a cargo do FBI

Está entregue a agentes federais a procura de pistas sobre a autoria das duas explosões ocorridas perto da meta da Maratona de Boston, uma cidade a viver horas de choque. Três mortos e pelo menos 144 feridos formam o mais recente balanço dos acontecimentos de segunda-feira. Da Casa Branca sai a promessa de fazer sentir o “peso total da justiça” a quaisquer “indivíduos” ou “grupos” cuja responsabilidade venha a ser apurada. Mas a incerteza avoluma-se. Por agora, o FBI diz apenas que tem em mãos “uma investigação criminal que é uma potencial investigação de terrorismo”.

RTP /
As duas explosões deram-se praticamente em simultâneo, separadas por 50 a 100 metros, perto da meta da Maratona de Boston Michael Cummo, EPA

“Virar todas as pedras” em busca dos responsáveis pelas explosões da tarde de segunda-feira (início da noite em Lisboa) é o que as autoridades federais e do Estado do Massachusetts prometem fazer nos próximos dias. Foi o comissário da Polícia de Boston, Edward F. Davis, quem assim sintetizou o estado de espírito das forças de segurança.

Decorridos quase 12 anos desde os atentados de 11 de Setembro em Nova Iorque e Washington, o espectro do terrorismo volta a agigantar-se sobre os norte-americanos. A cidade de Boston é o epicentro deste choque e de todas as interrogações. Ainda sem dados concretos para apresentar a uma população consternada, a Administração democrata avança desde já uma garantia: justiça.
Um par de explosões na praça de Copley, onde estava instalada a meta da Maratona de Boston, causou pelo menos três mortes e fez mais de 140 feridos. Entre as vítimas mortais estará um rapaz de oito anos, de acordo com a imprensa norte-americana.

Esta prova desportiva, que atrai atletas e amadores de inúmeros países, entre os quais Portugal, realiza-se desde 1897 - tradicionalmente, na terceira segunda-feira do mês de abril.


“Ainda não sabemos quem fez isto ou porquê. E as pessoas não devem tirar conclusões apressadas antes de termos todos os factos. Mas que não haja dúvidas. Iremos até ao fim. Quaisquer indivíduos responsáveis, quaisquer grupos responsáveis, sentirão o peso total da justiça”, asseverava ao início da noite o Presidente dos Estados Unidos.

Barack Obama evitou o termo “terrorismo”. Mas é essa a convicção crescente entre as autoridades norte-americanas. A coberto do anonimato, um alto responsável da Casa Branca, citado pela agência France Presse, não hesitou em falar de “um ato terrorista”.

A coordenar todas as diligências está agora o FBI. Isso mesmo foi já confirmado em conferência de imprensa pelo número um do gabinete daquela estrutura federal em Boston. Os agentes federais, explicou Richard DesLauriers, encaram, por enquanto, a missão como “uma investigação criminal que é uma potencial investigação de terrorismo”.

Durante a tarde, as autoridades chegaram a dar conta de uma terceira explosão na Biblioteca John F. Kennedy, em Dorchester. Todavia, acabariam por corrigir esta informação, dizendo que tudo apontaria, afinal, para um incêndio.
“Um ataque horrendo”

Quem também não hesitou em descrever os acontecimentos do bairro de Back Bay como “um ataque horrendo em Boston” foi o governador do Massachusetts. Deval Patrick exortou a população a evitar deslocações àquele local, que se encontra selado. Foi ainda delimitada uma zona de exclusão aérea sobre a cidade e a Administração Federal de Aviação mandou cancelar temporariamente todas as descolagens a partir do Aeroporto Internacional de Logan.

A primeira explosão deu-se pelas 14h50, quando a maior parte dos cerca de 26 mil participantes na Maratona de Boston, a começar pelos atletas de elite, havia já cruzado a meta. Segundos depois, ocorria uma segunda explosão, a uma distância de 50 a 100 metros da primeira.

“Havia sangue por todo o lado. Havia vítimas transportadas em macas. Vi alguém a ficar sem uma perna. Pessoas a chorar. As pessoas estão confusas”, descreveu Steve Silva, um produtor da secção de desporto do portal boston.com, num testemunho posteriormente recuperado pelo jornal Boston Globe.

Perto das 20h00, de acordo com um responsável citado pelo mesmo diário, uma “pessoa de interesse” – um cidadão saudita ferido nas explosões, segundo noticiou a edição online do jornal Los Angeles Times - era interrogada num dos hospitais da cidade. Mas as autoridades apressaram-se a negar que se tratasse de um suspeito.


Foto: Olivier Douliery, EPA

Na sua alocução televisiva, Barack Obama comprometeu-se a disponibilizar “todos os recursos federais necessários” quer ao governador Deval Patrick, quer ao mayor de Boston Thomas M. Menino, que lamentou, por sua vez, a “tragédia” que se abateu sobre a cidade.

O Presidente norte-americano sublinhou, por último, o facto de as explosões terem ocorrido no Dia dos Patriotas, um feriado do Estado do Massachusetts que comemora o início da Revolução norte-americana.
Entre as fileiras da Maratona de Boston estiveram 16 portugueses, entre os quais Dulce Félix, que acabou a prova em nono lugar. Ouvido pela agência Lusa, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, adiantou não dispor de informações sobre quaisquer cidadãos do país feridos nas explosões.


“É um dia que celebra o espírito livre e ferozmente independente que esta grande cidade americana de Boston refletiu deste os primeiros dias da nossa nação. E é um dia que atrai o mundo às ruas de Boston num espírito de competição amigável. Boston é uma cidade forte e resistente. Assim é também a sua população. Estou supremamente confiante de que os bostonianos vão recompor-se, tratar uns dos outros e avançar como uma cidade orgulhosa. E o povo americano estará ao lado deles a cada passo”, estimou.

Numa nota remetida à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou o “profundo pesar” do Governo português “às vítimas e às suas famílias nesta hora de inesperado sofrimento”. A iniciar uma visita à Colômbia, o Presidente da República, Cavaco Silva, ressalvava ontem que subsistiam “muitas dúvidas” sobre os acontecimentos de Boston, para então “lamentar profundamente” o número de vítimas.
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