PR angolano entrega casas destinadas a funcionários da Sonangol à selecção de futebol

O Presidente angolano ofereceu casas destinadas aos funcionários da Sonangol e do Ministério dos Petróleos à selecção de futebol que esteve no Mundial da Alemanha, provocando reclamações dos lesados, muitos dos quais esperam há sete anos pelas moradias.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

"Isso foi um pedido do Presidente da República para beneficiar os jogadores que estiveram no Mundial. A gente teve de fazer a entrega das casas", disse à Agência Lusa Lucinda Mangueira, directora Comercial e de Marketing da cooperativa Cajueiros.

A cooperativa tem 6.755 sócios, todos funcionários da empresa pública de combustíveis (Sonangol) e do Ministério dos Petróleos que descontam mensalmente uma verba do seu ordenado para terem direito um dia a comprar uma das casas.

Muitos desses funcionários fazem descontos desde o início da cooperativa, em Janeiro de 2000, tal como consta no "site" oficial da Cajueiro.

Até hoje, a cooperativa já entregou 582 casas e a este ritmo, para poder satisfazer os anseios dos seus sócios serão necessários pelo menos 81 anos para entregar a cada um dos 6.755 associados a sua casa.

O ritmo lento a que a cooperativa constrói as moradias e o facto das 35 agora entregues por José Eduardo dos Santos fazerem parte de um lote de 290 que deveriam ter sido vendidas na totalidade aos funcionários públicos dos petróleos motivou uma chuva de reclamações.

"Recebemos reclamações, muitas, mas fizemos as pessoas entenderem, e eles depois de reclamarem saíram daqui mais calmos. Daqui a três meses nós vamos entregar novas casas", garantiu Lucinda Mangueira.

"Podemos até ficar tristes por causa de alguns colegas que não receberam, mas eles vão receber já. Nós vamos começar a entregar casas novamente daqui a três meses", acrescentou.

Para a directora de Marketing da Cajueiro, as pessoas não se têm de preocupar e é só ter um pouco mais de paciência.

"Será uma espera de três ou quatro meses e para quem já esperou sete anos...", disse.

Segundo Lucinda Mangueira, as moradias entregues no dia 30 de Maio aos jogadores e demais equipa técnica de Angola que esteve no Campeonato do Mundo de 2006 pertencem à denominada classe três.

As referidas casas, localizadas no condomínio Acácias, na zona do Camama, a sul de Luanda, têm 130 metros quadrados e estão avaliadas em 150.791 dólares (112.550 euros). Os funcionários descontam mensalmente 110 dólares (82 euros) do seu vencimento para poderem ser candidatos a uma delas.

Figueiredo, o capitão da selecção angolana, afirmou à Agência Lusa já ter conhecimento há alguns meses que ia receber a casa e foi "com enorme satisfação" que recebeu a notícia.

O internacional angolano não tinha ainda residência em Luanda e, portanto, não pretende vender a que lhe foi oferecida agora por José Eduardo dos Santos.

"Estamos muito agradecidos ao Presidente da República pelo facto de nos apoiar e de nos ter oferecido a casa. É o culminar de uma qualificação inédita para um Mundial", adiantou.

Confrontado com o facto de a casa que recebeu ter antes estado destinada a um funcionário da Sonangol ou do Ministério dos Petróleos, que há vários anos paga para um dia poder ter uma residência condigna, Figueiredo referiu "não ter conhecimento" e que "isso não vinha ao caso".

"É um assunto que envolve alguma polémica e nós não vamos por aí", acrescentou.

A Cooperativa Cajueiros tem 12 empreendimentos no país, nas províncias de Luanda, Zaire, Cabinda, Benguela, Malange, Cuanza Sul e Namibe.

A primeira das 582 casas que a cooperativa vendeu aos seus sócios foi entregue em Maio de 2002.

Sobre as causas que obrigam os sócios a tão longa espera pelas suas casas, Lucinda Mangueira justificou o facto por só agora se ter iniciado a construção das moradias mais caras.

"As pessoas que estão a pagar desde 2000, e até hoje não receberam, é porque se inscreveram para as classes maiores", sublinhou a directora Comercial e de Marketing da Cajueiros.

"Há classes que ainda não construímos. Por exemplo, a classe três do condomínio das Acácias, só entregamos este ano, as classes quatro e cinco só daqui a três anos é que vamos entregar", explicou.

De acordo com a responsável, desde o princípio da cooperativa desistiram 985 sócios, devido à longa espera pelas casas, pessoas que hoje "estão arrependidas".

"Desistiram 985 sócios, porque não tiveram paciência em esperar. A espera foi um bocado longa, mas construir uma casa não são dois dias!", exclamou.

"Hoje muita gente está arrependida, mas o nosso estatuto diz que só depois de cinco anos é que podem voltar a inscrever-se", acrescentou.

A Lusa contactou a Presidência da República angolana e o porta-voz, Aldemiro da Conceição, afirmou não ter qualquer comentário a fazer.

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