PR da África do Sul sublinha `fragilidade` das relações raciais no Dia da Reconciliação Nacional

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, considerou hoje que as relações raciais no país permanecem "frágeis", quase três décadas após a queda do apartheid em 1994.

Lusa /
Mike Hutchings - Reuters

O chefe de Estado sul-africano, que discursava na Cidade do Cabo a propósito do Dia da Reconciliação Nacional, disse que por mais que os sul-africanos continuem a tentar superar as divisões sociais, "os desafios profundos e persistentes permanecem" na sociedade sul-africana pós-apartheid.

"O que vimos em Senekal, na província do Estado Livre, em Eldorado Park, em Gauteng e em Brackenfell, na Cidade do Cabo, demonstra que o estado das relações raciais no nosso país continua frágil", declarou.

"Podemos ter percorrido um longo caminho desde os dias do racismo institucionalizado, mas estamos perante a realidade de que, para muitos, a reconciliação é algo que ainda não experimentaram", adiantou Ramaphosa.

O líder sul-africano afirmou que "esta situação não é exclusiva" do seu país, salientando que "este ano, milhares de pessoas em todo o mundo levantaram-se para enfrentar o racismo que ainda afeta muitas sociedades", citando o movimento antirracismo ?Balck Lives Matter`.

"Sob a bandeira do `Black Lives Matter`, as pessoas falaram, marcharam, e manifestaram-se e escreveram sobre as muitas formas pelas quais os negros continuam a ser discriminados e vitimizados", afirmou Ramaphosa.

"Como sul-africanos, apoiamos o movimento `Black Lives Matter`, tendo experimentado uma das formas mais brutais de racismo institucionalizado do mundo e plenamente conscientes de que o racismo continua presente no nosso país em várias formas diferentes", salientou.

No seu discurso, o Presidente Ramaphosa referiu que a "verdadeira reconciliação" na África do Sul "não será possível" se não forem resolvidos "os imensos problemas" que prevalecem na sociedade sul-africana.

"Não podemos construir uma sociedade verdadeiramente solidária enquanto a maioria do país viver em condições de pobreza, desigualdade e privação, e enquanto uma minoria viver em conforto e privilégio", declarou Ramaphosa.

Nesse sentido, o chefe de Estado sul africano sublinhou a necessidade de o Governo implementar "políticas de transformação económica, ação afirmativa e reforma agrária" por forma a que o "processo de reconciliação seja significativo".

"Não podemos construir uma sociedade que permita melhorar a vida do indivíduo quando os recursos destinados ao benefício do povo são roubados por aqueles que se dizem servidores públicos", salientou.

Na ótica do Presidente Ramaphosa, que também é presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), o partido no poder, a "reconciliação" da sociedade na África do Sul democrática "permanecerá para sempre fora do nosso alcance, enquanto não superarmos a pobreza, a desigualdade e o subdesenvolvimento que afetam a maioria [da população] neste país".

"Sejamos responsáveis perante as pessoas, respeitemos os recursos públicos e mantenhamos os mais elevados padrões de ética e moralidade", instou o chefe de Estado sul-africano.

No seu discurso, Ramaphosa apelou ainda ao fim de "todas as formas de violência" contra mulheres e crianças, acrescentando que "como homens, devemos estar integralmente envolvidos nesta luta, porque são os homens os perpetradores".

"Devemos ter vergonha de que mulheres e crianças tenham medo de estar na companhia de homens desconhecidos; de serem seguidos por homens no caminho para casa; e de serem espancados, assediados, abusados, violados ou mortos por homens", concluiu.

Segundo o relatório demográfico da entidade estatal de estatística StatsSa, divulgado em julho de 2019, o Governo sul-africano estima em 58,7 milhões de habitantes, sendo a maioria negra (47,4 milhões), representando cerca de 81% da população sul-africana em que, refere a mesma fonte, "Negros Africanos (80,7%), `De Cor` (8,8%), Indianos/Asiáticos (2,6%) e Brancos (7,9%)".

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