PR timorense afirma que é impossível ficar indiferente à arrogância de fação militar
O Presidente de Timor-Leste afirmou hoje que é impossível ficar indiferente à arrogância de uma fação militar que não deixa a Guiné-Bissau ter um rumo normal e que é óbvio que Sissoco Embaló perdeu as eleições.
"Não é possível flexibilizar, não é possível ficarmos indiferentes perante a arrogância da clique militar que há 50 anos não deixa o país retomar um rumo normal. Golpes militares sucessivos, violação flagrante do processo eleitoral e houve interrupção, houve assalto, porque o candidato dos militares [eles souberam que] perdeu", afirmou à Lusa José Ramos-Horta.
"A evidência é isso, porque quem está no poder é o Presidente, se alguém comete fraude seria quem está no poder, quem não está no poder não tem acesso a nada para cometer fraude. É óbvio que o Presidente (...) perdeu e daí engendraram este dito golpe", disse o também prémio Nobel da Paz.
Timor-Leste assumiu terça-feira a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), estatuto retirado à Guiné-Bissau na sequência de uma cimeira de chefes de Estado e de Governo. A decisão foi tomada após o golpe de Estado no país que depôs o então Presidente, Umaro Sissoco Embaló, que interrompeu o processo eleitoral e impediu a divulgação dos resultados das eleições gerais de novembro.
Questionado sobre as prioridades da presidência timorense, José Ramos-Horta disse que são as que "constam na declaração da cimeira".
"A CPLP apoiada pelo secretariado, pelos Estados-membros, terá de agir em sintonia, sempre, com a União Africana, CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e se possível com a União Europeia e outros países amigos para podermos ser eficazes", afirmou.
A CPLP elegeu Timor-Leste para assumir temporariamente a presidência da organização, suspendeu a Guiné-Bissau das suas atividades e pediu também a retomar urgente da ordem constitucional, exigindo a libertação imediata e incondicional de todos os detidos, bem como uma prova de vida daquelas pessoas. Foi também decidido enviar uma missão de alto nível à Guiné-Bissau para avaliar as condições futuras do país.
O país já tinha sido suspenso da CEDEAO e da União Africana. "Vão ficar completamente isolados e não tenham ilusões que vão ter uma Rússia ou outro país a apoiá-los", acrescentou o Presidente timorense.
O Governo timorense indicou em 10 de dezembro o ministro da Administração Estatal, Tomás Cabral, e o ministro da Defesa, Donaciano do Rosário Gomes, para integrar a missão de mediação da organização lusófona para acompanhar a situação decorrente do golpe de Estado e a interrupção do processo eleitoral.
Questionado pela Lusa sobre quando a missão poderá estar na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, disse não ter ideia e afastou a hipótese de a liderar.
"Mas convém que seja o mais rápido possível, não se pode esperar. Claro, os militares têm o controlo do espaço aéreo do aeroporto e teria de haver concordância com eles", salientou.
O Governo de transição guineense criado pelos militares suspendeu "com efeito imediato", a 15 de dezembro, "todas as suas atividades" na CPLP após os ministros dos Negócios Estrangeiros da organização lusófona terem recomendado a suspensão do país.
Um autodenominado "alto comando militar" tomou o poder a 26 de novembro, três dias depois das eleições gerais e um dia antes da data anunciada para a divulgação dos resultados na Guiné-Bissau.
A oposição e figuras internacionais têm afirmado que o golpe de Estado foi uma encenação orquestrada por Umaro Sissoco Embaló, por alegadamente ter sido derrotado nas urnas, impedindo assim a divulgação de resultados e mandando deter de forma arbitrária diversas figuras que apoiavam o candidato que reclama vitória, Fernando Dias.
Entre estes está Domingos Simões Pereira, presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto Fernando Dias está refugiado na embaixada da Nigéria, em Bissau.